Que autoridade o docente tem diante dos jovens da Sociedade da Informação?

Leonardo Humberto Soares, Professor do Centro Universitário de Brasília e assessor da União Marista do Brasil, Brasília, DF, Brasil.

Carlos Ângelo de Meneses Sousa, Professor do Mestrado e Doutorado em Educação e Pesquisador da Cátedra Unesco de Juventude, Educação e Sociedade da Universidade Católica de Brasília, Brasília, DF, Brasil.

Ricardo Spíndola Mariz, Assessor da União Marista do Brasil, Brasília, DF, Brasil.

O artigo “A autoridade docente e a sociedade da informação: o papel das tecnologias informacionais na docência”, do periódico Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação (v. 28, n. 106), problematiza que as Tecnologias Informacionais e Comunicacionais (TICs) se constituem enquanto mais uma das diversas variáveis que podem reforçar ou desconstruir a autoridade docente, mas ela não é vista como a mais crítica ou mais importante. A sua influência está muito mais relacionada à percepção de seu uso pelo professor do que, necessariamente, por seu domínio. O professor que possui as competências necessárias para manter um equilíbrio entre as necessidades de aprendizagem dos seus alunos e as ferramentas para suprir essas necessidades, poderá utilizar-se da tecnologia para reforçar a sua autoridade, mesmo quando não possuir um domínio maior sobre a sua técnica. Por outro lado, o professor, mesmo possuindo um vasto domínio das TICs, caso não consiga estabelecer relações de sentido e significado com o seu aluno, terá a sua autoridade e legitimidade destituídas pela turma.

A pesquisa de abordagem qualitativa vinculada à Cátedra Unesco de Juventude, Educação e Sociedade da Universidade Católica de Brasília foi realizada por meio de entrevista em profundidade e observações assistemáticas com oito professores universitários cujo tempo de magistério aproximado era de 15 anos, sendo uma parte “resistente” ao uso das tecnologias e outra “potencializadora” do seu uso em sala de aula. O Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) e a análise interparticipante foram utilizados na análise dos dados.

Constatou-se, por um lado, que a crise de autoridade não é fomentada, necessariamente, pelas tecnologias informacionais e comunicacionais, ainda que esses aspectos sejam relevantes para o seu entendimento, pois podem contribuir para uma liquefação da autoridade, conforme Bauman (2011). Por outro lado, a constituição da crise de autoridade docente, segundo os aportes arendtianos, aponta como uma de suas principais causas a dificuldade de conseguir encaminhar o aluno para o conhecimento de um mundo que se transforma de maneira cada vez mais rápida. Ainda que as hipóteses identificadas demonstrem essa perspectiva, compreende-se que a principal contribuição do artigo esteja na identificação de três fenômenos no debate em curso:

1) O aluno possui facilidade em interagir com a tecnologia, mas essa facilidade não ultrapassa seu uso no contexto comunicacional e de entretenimento. Ter uma facilidade maior no uso da tecnologia não garante práticas mais efetivas na resolução de problemas do cotidiano ou na aquisição de novos conhecimentos.

2) Apesar de o aluno aderir facilmente ao uso da tecnologia e ter acesso a um grande volume informacional, ele continua a ter dificuldades em perceber esse mesmo mundo em que vive. Ou seja, o acesso a outras fontes de informação (excluindo-se o professor) não garante ao aluno o reconhecimento desse mundo, sendo-lhe ainda estranho e temeroso, pois a informação, por si só, não estabelece as relações de sentido e de significado importantes para a sua inclusão, ocupando o professor um papel relevante na orientação da busca de sentidos e significados.

3) Nesse contexto, a emergência de uma nova estratégia vista nas relações entre professores e alunos, pautada na compreensão do outro como parte diretamente envolvida no ato educativo, parece acomodar de maneira mais harmoniosa as relações de autoridade na sala de aula.

As dinâmicas sociais identificadas caminham para uma posição de contrariedade ao que se encontra defendido por boa parte da literatura que trabalha o conceito do uso da tecnologia na Educação e na formação do professor. Muitas vezes vista como a panaceia para os problemas educacionais, as TICs parecem ter um caminho ainda longo de amadurecimento, antes de ter impactos significativos na Educação, pelo menos no que tange às promessas já feitas para esse contexto.

As TICs se compõem como uma das variáveis importantes no processo educacional e, como tal, também podem reforçar ou desconstruir a autoridade docente, não pela ação direta, como geralmente é defendido, mas pela forma com que ela é trabalhada pelo docente. Ou seja, o que reforça ou não a autoridade do professor não parece ser o domínio das TICs, mas como ele, tendo ou não esse domínio, utiliza-se das competências inerentes aos seus alunos para potencializar os seus próprios recursos didáticos e permitir uma construção metodológica conjunta com a sua turma. Essa construção possibilitaria que o aluno enxergasse sentido e significado nas ações do professor, e por meio de um objetivo comum e compartilhado, as competências do docente reforçariam cada vez mais o seu papel como “responsável pelo mundo”, como Arendt (2011) distingue.

Referências

ARENDT, H. A crise na Educação. In: ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2011.

BAUMAN, Z. 44 cartas do mundo líquido moderno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011.

Para ler o artigo, acesse

SOARES, L. H, et al. A autoridade docente e a sociedade da informação: o papel das tecnologias informacionais na docência. Ensaio: aval.pol.públ.Educ. [online]. 2020, vol. 28, no. 106, pp.88-109, ISSN 0104-4036 [viewed 14 April 2020]. DOI: 10.1590/s0104-40362019002701655. Available from: http://ref.scielo.org/d8mffq

Links externos

Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação – ENSAIO: www.scielo.br/ensaio/

Cátedra UNECO de Juventude, Educação e Sociedade da UCB — https://catedra.ucb.br

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

SOARES, L. H.; SOUSA, C. Â. de M. and MARIZ, R. S. Que autoridade o docente tem diante dos jovens da Sociedade da Informação? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/04/14/que-autoridade-o-docente-tem-diante-dos-jovens-da-sociedade-da-informacao/

 

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