Paula Alves Melo dos Santos Pacheco, Graduanda do curso de História da Universidade Federal de Minas Gerais, Voluntária em Varia Historia (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil.
A prática lúdica do paticídio, na qual os participantes precisavam acertar com uma vara de pau um pato enterrado até o pescoço enquanto tinham seus olhos vendados e eram girados algumas vezes antes do início do jogo, é objeto de “Um jogo absorvente: Paticídio e cultura popular no Círio de Nazaré”, de Márcıo Couto Henrique, publicado em Varia Historia (vol. 36, n. 70). Baseado especialmente em anúncios de periódicos do século XIX e início do século XX, no norte do Brasil, o autor apresenta como eram comuns os paticídios realizado nas festas do Círio de Nazaré, em Belém do Pará. Momentos de integração pouco recorrentes entre negros, indígenas, mestiços e brancos, assim como das classes mais abastadas e do “povo miúdo”, as festas em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré sinalizavam a possibilidade de sociabilidades entre as mais variadas classes e podem ser vistos como um momento para extravasão dos ânimos e da vida rotineira.
O artigo apresenta uma análise etnográfica fortemente influenciada pela antropologia e pelos escritos do historiador estadunidense Robert Darnton, sobretudo pela sua célebre obra “O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa” (DARNTON, 1986), na qual Darnton disserta acerca dos modos de pensar e sentir dos franceses no século XVIII. Henrique, que é professor da Universidade Federal do Pará, analisa “os sentidos sociais presentes na prática do paticídio” (p. 151). “A festa no arraial de Nazaré permitia extravasar a tensão cotidiana, sendo permitido rir alto, gritar e vaiar os outros sem se preocupar com a repressão policial. Afinal, a mistura de gentes e cores que constituía aquele ‘carnaval devoto’ (ALVES, 1980) era reconhecida como a marca principal do Círio de Nazaré.” (p. 176).
Assim como a vida cotidiana dos franceses do século XVIII serviu de objeto para Darnton analisar a cultura francesa da época, os paticídios e as festividades do Círio de Nazaré são o alvo de Henrique para entender os costumes paraenses daquela época, percebendo que a prática, à primeira vista insensível aos nossos olhos, “era considerada um divertimento inocente, um ato de regozijo público” (p. 161). À vista disso, na análise dos paticídios, o autor traz à tona as dimensões e distâncias culturais que nos permitem perceber como os rituais e as sensibilidades se modificam ao longo do tempo.
Referências
DARNTON, Robert. O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa. Rio de Janeiro: Graal, 1986.
Para ler o artigo, acesse
HENRIQUE, Márcio Couto. Um jogo absorvente: Paticídio e cultura popular no Círio de Nazaré. Varia hist. [online]. 2020, vol. 36, no. 70, pp.151-181, ISSN 0104-8775 [viewed 13 April 2020]. DOI: 10.1590/0104-87752020000100006. Available from: http://ref.scielo.org/rkvd8q
Links externos
Varia Historia – VH: www.scielo.br/vh
Site Varia Historia – www.variahistoria.org
Facebook Varia Historia: https://www.facebook.com/variahistoria/
Twitter Varia Historia: https://twitter.com/variahistoria
Canal Varia Historia: https://www.youtube.com/channel/UCD4EbWEXNyTAirlemvy3UPw
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários