Patos e Pauladas. A cultura popular no Círio de Nazaré no Pará

Paula Alves Melo dos Santos Pacheco, Graduanda do curso de História da Universidade Federal de Minas Gerais, Voluntária em Varia Historia (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil.

Imagem: O Puraquê, Belém, ano I, nº 7, 1º trim. 1878. Acervo da Coleção Manuel Barata, IHGB, Rio de Janeiro.

A prática lúdica do paticídio, na qual os participantes precisavam acertar com uma vara de pau um pato enterrado até o pescoço enquanto tinham seus olhos vendados e eram girados algumas vezes antes do início do jogo, é objeto de “Um jogo absorvente: Paticídio e cultura popular no Círio de Nazaré”, de Márcıo Couto Henrique, publicado em Varia Historia (vol. 36, n. 70). Baseado especialmente em anúncios de periódicos do século XIX e início do século XX, no norte do Brasil, o autor apresenta como eram comuns os paticídios realizado nas festas do Círio de Nazaré, em Belém do Pará. Momentos de integração pouco recorrentes entre negros, indígenas, mestiços e brancos, assim como das classes mais abastadas e do “povo miúdo”, as festas em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré sinalizavam a possibilidade de sociabilidades entre as mais variadas classes e podem ser vistos como um momento para extravasão dos ânimos e da vida rotineira.

O artigo apresenta uma análise etnográfica fortemente influenciada pela antropologia e pelos escritos do historiador estadunidense Robert Darnton, sobretudo pela sua célebre obra “O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa” (DARNTON, 1986), na qual Darnton disserta acerca dos modos de pensar e sentir dos franceses no século XVIII. Henrique, que é professor da Universidade Federal do Pará, analisa “os sentidos sociais presentes na prática do paticídio” (p. 151). “A festa no arraial de Nazaré permitia extravasar a tensão cotidiana, sendo permitido rir alto, gritar e vaiar os outros sem se preocupar com a repressão policial. Afinal, a mistura de gentes e cores que constituía aquele ‘carnaval devoto’ (ALVES, 1980) era reconhecida como a marca principal do Círio de Nazaré.” (p. 176).

Assim como a vida cotidiana dos franceses do século XVIII serviu de objeto para Darnton analisar a cultura francesa da época, os paticídios e as festividades do Círio de Nazaré são o alvo de Henrique para entender os costumes paraenses daquela época, percebendo que a prática, à primeira vista insensível aos nossos olhos, “era considerada um divertimento inocente, um ato de regozijo público” (p. 161). À vista disso, na análise dos paticídios, o autor traz à tona as dimensões e distâncias culturais que nos permitem perceber como os rituais e as sensibilidades se modificam ao longo do tempo.

Referências

DARNTON, Robert. O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

Para ler o artigo, acesse

HENRIQUE, Márcio Couto. Um jogo absorvente: Paticídio e cultura popular no Círio de Nazaré. Varia hist. [online]. 2020, vol. 36, no. 70, pp.151-181, ISSN 0104-8775 [viewed 13 April 2020]. DOI: 10.1590/0104-87752020000100006. Available from: http://ref.scielo.org/rkvd8q

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PACHECO, P. A. M. dos S. Patos e Pauladas. A cultura popular no Círio de Nazaré no Pará [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/05/26/patos-e-pauladas-a-cultura-popular-no-cirio-de-nazare-no-para/

 

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