Como as relações entre mães e filhos influenciam nos comportamentos infantis?

Rafaela Pires Assis-Fernandes, Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem, Universidade Estadual Paulista, Bauru, SP, Brasil.

Alessandra Turini Bolsoni-Silva, Professora associada da Faculdade de Ciências, Universidade Estadual Paulista, Bauru, SP, Brasil.

A literatura sobre as interações familiares tem relatado que o comportamento dos pais se configura como ambiente para o comportamento dos filhos e vice-versa, o que justifica a condução de estudos a fim de investigar essas relações. Adicionalmente, os comportamentos infantis também parecem ser influenciados por variáveis demográficas da criança, como por exemplo, a variável sexo. Diversos estudos têm sido realizados, no entanto, é possível identificar algumas lacunas quanto aos controles metodológicos dos delineamentos, tendo em vista que a maior parte dos estudos disponíveis que comparam a variável sexo não controlam a presença e ausência de problemas de comportamento de maneira equalizada, bem como não controlam a mesma quantidade de meninos e meninas e, em grande parte deles, há apenas uma fonte de informação, ora o professor, ora os pais.

O artigo “Habilidades sociais educativas e repertório de crianças diferenciadas por comportamento e sexo”, de autoria de Rafaela Pires Assis-Fernandes e Alessandra Turini Bolsoni-Silva, publicado no periódico Paidéia (Ribeirão Preto) (vol. 30), teve como objetivo comparar repertório comportamental de mães (habilidades sociais educativas e práticas negativas), indicadores de ansiedade e depressão maternos e comportamentos de crianças (problemas de comportamento e habilidades sociais), controlando as variáveis sexo (meninos e meninas) e a ocorrência de problemas de comportamento. A amostra foi composta por 20 crianças com problemas de comportamento (grupo clínico), 20 sem problemas de comportamento (grupo não clínico), suas mães e professores de três escolas municipais de Ensino Fundamental de uma cidade do centro-oeste paulista. As crianças apresentaram idades entre seis e 11 anos, com média geral de 8,3 anos (DP = 1,6). Dentre as mães, essas apresentavam idades entre 26 e 48 anos, com média geral de 34,7 anos (DP = 5,7). Foram utilizados instrumentos de relato com professores e mães, os quais: Teacher’s Report Form (TRF), Child Behavior Checklist (CBCL), Roteiro de Entrevista de Habilidades Sociais Educativas Parentais (RE-HSE-P), Questionário de Respostas Socialmente Habilidosas (QRSH-Pais) e Patient Health Questionnaire (PHQ-4), bem como conduzidas análises comparativas entre os grupos. Os resultados indicaram que o grupo de crianças clínicas apresentou maiores taxas em queixas de comportamentos problema e suas mães apresentaram mais sintomas de ansiedade e depressão e práticas negativas, enquanto o grupo de crianças não clínicas apresentou mais habilidades sociais e suas mães mais habilidades sociais educativas. O sexo não diferenciou os grupos. Conclui-se que as práticas educativas maternas são mais influenciadas pelos comportamentos das crianças do que pelo sexo delas.

Acredita-se que uma das contribuições da pesquisa consistiu na proposta do delineamento caso-controle. Outra contribuição está no controle de variáveis, a partir da identificação clínica das crianças por dois informantes, professores e mães, sendo crianças com maiores riscos uma vez que apresentavam problemas de comportamento em dois ambientes distintos (família e escola). O estudo da depressão e ansiedade maternas na relação com práticas e comportamentos de escolares também foi importante, dada a escassez de estudos. Os achados da investigação têm implicações também para políticas públicas, considerando que as crianças clínicas, do ponto de vista de professores e de mães, estão em risco para o desenvolvimento social e acadêmico. Cabe ressaltar a necessidade de próximos estudos que controlem as variáveis sexo e problemas de comportamento, incluindo também o controle da idade e escolaridade, ampliando o número de participantes e inserindo o pai na coleta de dados.

Ademais, torna-se crucial o investimento na condução de intervenções que proporcionem padrões de interação mais positivos e funcionais, tanto entre professor e criança, quanto entre pais e crianças, de forma a minimizar riscos e ampliar repertórios socialmente habilidosos.

Para ler o artigo, acesse

ASSIS-FERNANDES, R.P. and BOLSONI-SILVA, A.T. Educational social skills and repertoire of children differentiated by behavior and sex. Paidéia (Ribeirão Preto) [online]. 2020, vol. 30, e3015, ISSN: 1982-4327 [viewed 14 July 2020]. DOI: 10.1590/1982-4327e3015. Available from: http://ref.scielo.org/95vwmt

Links externos

Paidéia (Ribeirão Preto) – PAIDEIA: www.scielo.br/paideia

https://www.fc.unesp.br/#!/pospsicologia/

http://www.revistas.usp.br/paideia/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

ASSIS-FERNADES, R. P. and BOLSONI-SILVA, A. T. Como as relações entre mães e filhos influenciam nos comportamentos infantis? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/07/30/como-as-relacoes-entre-maes-e-filhos-influenciam-nos-comportamentos-infantis/

 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Post Navigation