Jimena Felipe Beltrão, jornalista, PhD em Ciências Sociais (University of Leicester, Reino Unido), editora científica do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, PA, Brasil.
Pesquisa histórica revela violência estrutural gravada na memória das populações indígenas. Documentos comprovam crimes perpetrados no Médio Rio Negro, AM. Em forma de memorial, “O martírio de mulheres indígenas do rio Negro em documentos do Serviço de Proteção aos Índios (1914-1915)” está publicado na seção Memória do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas. Nele Márcio Meira, historiador e antropólogo do Museu Paraense Emílio Goeldi contextualiza e transcreve quatro documentos comprobatórios de práticas de tortura tanto física como psicológica infligidas contra indígenas em cenário de exploração em “regime mais amplo e generalizado de violências contra os trabalhadores indígenas dos seringais e piaçabais . . . durante o ciclo da borracha (1870-1920).”
Para Meira “…descrição do homicídio da indígena Izabel Garcia, embora seja a principal e mais grave matéria contida nas cartas, vem acompanhada de outros relatos de práticas . . . perpetradas pelos potentados locais e seus capangas, e que resultaram em flagelo e morte, inclusive no estupro de menores.”
Segundo o autor, a importância de registros dessa natureza está na possibilidade de revelar ” a condição feminina e da escravidão indígena no período gomífero, um tema ainda carente de maiores investigações”. Entre os autores referenciados por Meira em suporte à contextualização econômica estão Santos (1980) e Weinstein (1983).
As cartas transcritas na publicação de Meira no Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi. Ciências Humanas, constam de fundo documental da Comissão Rondon (1890-1938) e do Serviço de Proteção aos Índios – SPI (1910-1967). A documentação se encontra sob a salvaguarda do Museu do Índio/Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Esses registros de valor histórico são conhecidos como parte dos acervos “Memória do Mundo” da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Para conhecer a configuração e o papel de tutela do SPI, consultar obra de autoria do antropólogo Antonio Carlos Sousa Lima (1995), referenciada por Meira.
Parte de um contexto mais amplo que remete a fatores como o “apogeu da economia da borracha, a ascensão de uma força de trabalho indígena submetida, por relações de dívidas, aos comerciantes locais e o papel contraditório do SPI, a agência indigenista que fora criada em 1910”, compõem o quadro de “neocolonialismo na Amazônia no início do século XX”, informa o historiador e antropólogo do Museu Goeldi.
Para Meira, os documentos revelam “a dramática violência estrutural e a ‘cultura do terror’ . . . existentes em muitas localidades distantes do sertão amazônico”.
Referências
SANTOS, R. História econômica da Amazônia. São Paulo: T. A. Queiroz, 1980.
SOUZA LIMA, A. C. (1995). Um grande cerco de paz: poder tutelar, indianidade e formação do Estado no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1995.
WEINSTEIN, B. A borracha na Amazônia: expansão e decadência 1850-1920. São Paulo: HUCITEC, 1983.
Para ler o artigo, acesse
MEIRA, M. A. F. O martírio de mulheres indígenas do rio Negro em documentos do Serviço de Proteção aos Índios (1914-1915). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas [online]. 2021, vol.16, no.01 [viewed 12 July 2021]. https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2020-0067. Available from: http://ref.scielo.org/q26qsk
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