Como estudantes de mestrado vivenciam o ensino da leitura e da escrita em sua formação

Jéssica do Nascimento Rodrigues, Professora adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense e do Programa de Pós-graduação em Estudos de Linguagem, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil. 

Marcela Tavares de Mello, Doutora em Educação, Professora da Faculdade Santo Antônio de Pádua e da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro, Santo Antônio de Pádua, RJ, Brasil. 

O artigo “Apreciações valorativas de estudantes de mestrado sobre o ensino da leitura e da escrita”, publicado no periódico Educação e Pesquisa (RODRIGUES, 2021), objetiva analisar o entendimento de estudantes de um curso de mestrado em Comunicação e Sociedade a respeito do ensino da leitura e da escrita na universidade, tendo em vista as práticas pedagógicas de professores universitários. Partindo dos resultados da tese “Letramento de domínio acadêmico: teoria e prática (experiência em uma universidade pública)”, defendida em 2017, segundo a qual as principais ações promotoras do letramento acadêmico desenvolvidas pela instituição, bem como os conflitos e as tensões com os quais os graduandos(as) de um curso de Pedagogia se depararam quando ingressaram no ensino superior, as autoras sustentam que parte desses estudantes concluiu o curso sem ter desenvolvido práticas significativas de produção e compreensão dos textos acadêmicos. Já neste estudo, realizado em 2019, oito jornalistas, que cursavam o terceiro semestre letivo de um mestrado em Comunicação e Sociedade de uma universidade pública e, portanto, haviam cursado parte das disciplinas e iniciado a escrita de suas dissertações, relataram, em entrevistas coletivas (KAUFMANN, 2013), gravadas em áudio e transcritas, suas apreciações valorativas (BAKHTIN, 2010) sobre o ensino da leitura e da escrita.

Como outras pesquisas apontam (MELLO, 2017; STEPHANI; ALVES, 2017; RODRIGUES; RANGEL, 2018), existe, no ensino superior, uma situação paradoxal: por um lado, os docentes constatam que seus alunos apresentam inúmeros desafios em produzir e compreender os textos exigidos na vida acadêmica, desde a não intimidade com conhecimentos gramaticais que supostamente deveriam ter sido desenvolvidos na educação básica até a insciência das convenções que regem a escrita de textos acadêmicos; por outro, são incomuns as disciplinas ou atividades institucionalizadas voltadas ao ensino desses textos, como espaço propiciador de vivências de leituras-escritas universitárias, obviamente atreladas a práticas formativas para a pesquisa e para a docência, no caso dos cursos de licenciatura.

Imagem: wayhomestudio.

Como principais resultados, a pesquisa evidencia, como necessária, a constante revisão das práticas de ensino com a língua(gem) na graduação e na pós-graduação e faz pensar sobre a indagação: no contexto de educação sistematizada, há possibilidades para exercícios de simulação de compreensão e produção de textos acadêmicos, ou é necessário ler e produzir tão somente com fins sociais? O desenvolvimento de letramentos acadêmicos implica, como afirmado no decorrer desse estudo, a iniciação a novos modos discursivos e a novas formas de compreender, interpretar e organizar o conhecimento. Quando ingressam nos cursos de mestrado, os estudantes, em geral, já tiveram contato com alguns textos acadêmicos, todavia, nem sempre suas experiências aconteceram de forma efetiva, sistemática e exitosa. Se esses letramentos são instrumento de poder, impactam a vida das pessoas e seu potencial de empoderamento (JAMES, 1990, p. 16 apud AUERBACH, 2005) e têm relação estreita com a produção científica brasileira, é de suma importância considerar as demandas expressas pelas entrevistadas.

As autoras, no Grupo de Estudos e Pesquisa em Leitura e Escrita Acadêmica (GEPLEA-UFF) e no Programa de Ensino e Extensão Laboratório de Letramentos Acadêmicos (LabLA-UFF), têm estudado essas questões, interessadas também nos processos dialógicos de orientação em cursos de licenciatura. Logo, a pesquisa realizada espera construir alguns caminhos, junto a outros grupos, centros e laboratórios de escrita que despontam nas instituições públicas de ensino superior para construir alternativas para um problema que grassa nas universidades, a saber, a leitura e a escrita de textos acadêmicos e a concomitante inclusão dos estudantes nas práticas letradas desse universo.

Somados ao LabLA e ao GEPLEA, citam-se alguns desses centros que, hoje, compõem uma rede de debates acerca do tema: Laboratório de Pesquisa e Ensino de Leitura e Redação (LABLER-UFSM, Laboratório de Leitura e Produção Textual (LPT Acadêmico-UFPI), Ateliê de Textos Acadêmicos (ATA-UFPB), Laboratório de Letramento Acadêmico (LLAC-USP), Laboratório de Letramento e Escrita Acadêmica (LEA-UFC), Laboratório de Escrita Acadêmica e Leituras (LABEAL-UFSC), Laboratório de Revisão de Textos Acadêmico-científicos (LABREV-UFMS), Centro de Assessoria de Publicação Acadêmica (CAPA-UFPR), Laboratório Integrado de Letramentos Acadêmico-científicos (LILA/UEL; UNESPAR; UTFPR; IFPR), dentre outros. Demonstra-se, assim, uma tendência de criação de estratégias que conjugam ensino-pesquisa-extensão nas práticas de leitura, escrita e oralidade situadas na esfera universitária.

Referências

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FISCHER, A. A construção de letramentos da esfera acadêmica. (Tese de Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007.

KERSCH, D. F. O letramento acadêmico na formação continuada: constituição de autoria e construção de identidades. Revista do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo [online]. 2014, vol.10, no.01, pp.53-63 [viewed 17 August 2021].

LEA, M. and STREET, B. O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e aplicações. Revista de Filologia e Linguística Portuguesa [online]. 2014, vol.16, no.02, pp.477-493 [viewed 17 August 2021]. Available from: https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p477-493

MELLO, M. T. Letramento de domínio acadêmico: teoria e prática (experiência em uma universidade pública). Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, 2017.

RAMOS, F. B. and ESPEIORIN, V. M. Letramento acadêmico: leitura e escrita na universidade – entrevista com David Russel. Conjectura [online]. 2009, vol.14, no.02, pp.242-247 [viewed 17 August 2021].

RODRIGUES, J. N. and RANGEL, M. Os desafios da escrita para licenciandos de pedagogia: apreciações valorativas sobre o ensino de gênero discursivos acadêmicos. Cadernos de Linguagem e Sociedade [online]. 2018, vol.19, no.01, pp.28-52 [viewed 17 August 2021]. Available from: https://doi.org/10.26512/les.v19i1.10880

SOARES, D. A. A revisão colaborativa e a produção textual em língua inglesa: o ponto de vista do aprendiz. Cadernos do IL [online]. 2008, no.36, pp.81-97 [viewed 17 August 2021]. Available from: https://doi.org/10.22456/2236-6385.18915

STEPHANI, A. D. and ALVES, T. C. A escrita na universidade: os desafios da aquisição dos gêneros acadêmicos. Raído [online]. 2017, vol.11, no.27, pp.529-547 [viewed 17 August 2021]. Available from: https://doi.org/10.30612/raido.v11i27.5688

STREET, B. Dimensões “escondidas” na escrita de textos acadêmicos. Perspectiva [online]. 2010, vol.28, no.02, pp.541-567 [viewed 17 August 2021]. Available from: https://doi.org/10.5007/2175-795X.2010v28n2p541

Para ler o artigo, acesse

RODRIGUES, J. N. and MELLO, M. T. Apreciações valorativas de estudantes de mestrado sobre o ensino da leitura e da escrita”. Educação e Pesquisa [online]. 2021, vol.47 [viewed 17 August 2021]. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202147233998. Available from: http://ref.scielo.org/8f6jym

Links Externos

Educação e Pesquisa – EP: https://www.scielo.br/ep

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

MELLO, M. T. and RODRIGUES, J. N. Como estudantes de mestrado vivenciam o ensino da leitura e da escrita em sua formação [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/08/18/como-estudantes-de-mestrado-vivenciam-o-ensino-da-leitura-e-da-escrita-em-sua-formacao/

 

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