Michel Nicolau Netto, Unicamp, Professor de Sociologia da Unicamp, Campinas, São Paulo, Brasil.
Como são forjados os símbolos nacionais? O que faz com que possamos identificar em símbolos aleatórios um sentido de pertencimento a uma nação? Essas perguntas atravessam a história das ciências sociais ao menos desde a segunda metade do século XIX. Uma das formas de abordá-las é pensar sobre seus criadores, entendendo a identidade nacional não como algo natural, intrínseco a um povo, mas como uma obra, um processo de construção no qual se envolvem agentes e instituições. Esse entendimento nos permitiu entender o papel dos intelectuais no forjamento dos símbolos nacionais brasileiros no começo do século XX em um momento no qual o Estado-nação tinha o monopólio de sentido da identidade nacional e no qual a nação se produzia internamente ao espaço nacional.
O artigo “A Memória Nacional Globalizada: As Condições Sociais de Produção Simbólica da Nação” repete as perguntas clássicas, mas assume que elas devem ser respondidas agora levando-se em consideração um novo contexto. Partindo de análises empíricas feitas, em especial, durante a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o autor propõe que a globalização modifica a forma de produção simbólica da nação. Em seu texto é demonstrado que, ao contrário de algumas análises da década de 1990, a nação não desaparece na globalização; ao contrário, a nação forma seu imaginário. Em qualquer lugar que estamos, ao mesmo tempo em que somos expostos a símbolos desterritorializados também somos expostos a conjunto infinito de símbolos nacionais. Como o autor afirma no texto, “Uma pessoa que viaja pelo mundo espera encontrar, especialmente nas cidades globais, uma série de símbolos desterritorializados: pessoas que falam inglês, aeroportos com certos sinais e rotinas, determinados padrões de hotéis, certo conhecimento de astros do pop, de celebridades globais e de filmes de Hollywood, etc. Mas também espera encontrar um restaurante chinês, um “típico” dine-inn norte-americano que sirva hambúrgueres, uma loja de mangás, uma feira com um estande de roupas indianas e outro com sessão de música brasileira. E isso independente de estar na China, nos Estados Unidos, no Japão, na Índia ou no Brasil.”
Isso significa que a produção da nação se desloca. Agora, ela não se dá exclusivamente no espaço nacional, sob monopólio do Estado-nação, mas em fluxos globais. O autor argumenta, assim, que surgem memórias nacionais que são compartilhadas globalmente, ou seja, um conjunto de símbolos nacionais que não são mais ligados a um espaço nacional, mas que forma nossa própria memória coletiva global. Essa noção permite que o autor investigue quem são os artífices dessa memória nacional globalizada e quais os meios de sua produção. Com base em sua pesquisa empírica, o autor demonstra que essa memória tem nas indústrias culturais e na cultura de consumo um novo e primordial meio de propagação. Ainda, o texto nos apresenta os artífices transnacionais, especialistas em produção simbólica da nação, tais como publicitários de marca-nação, diretores de obras audiovisuais, arquitetos de obras em megaeventos, chefes de cozinha, etc.
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NICOLAU, M. A Memória Nacional Globalizada: As Condições Sociais de Produção Simbólica da Nação. Dados [online]. 2021, vol.64, no.03 [viewed 27 September 2021]. https://doi.org/10.1590/dados.2021.64.3.241. Available from: http://ref.scielo.org/2xx8wp
Links externos
Dados – Revista de Ciências Sociais: www.scielo.br/dados
Michel Nicolau Netto: https://www.ifch.unicamp.br/ifch/colaboradores/pos-sociologia/638/Michel-Nicolau-Netto
Página Institucional do Periódico: http://dados.iesp.uerj.br/
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