Rogério de Almeida, Prof. Titular da Universidade de São Paulo, Faculdade de Educação, São Paulo/SP, Brasil.
O artigo “Impotência, Ressentimento, Incredulidade: o niilismo no Cinema e na Educação“, de Rogério de Almeida, professor da Universidade de São Paulo (USP), Faculdade de Educação, publicado na Educação e Realidade (vol. 47), analisa três filmes – Nocturama (2016), Três anúncios para um crime (2017) e A casa que Jack construiu (2018) – com protagonistas que vivem uma crise que pode ser chamada de niilismo.
De acordo com Nietzsche o niilismo é uma crise generalizada dos valores, o que impacta em três modos de representar o mundo: finalidade, totalidade e verdade. Quando esses valores entram em crise, surge o niilismo como força destruidora que esvazia o sentido da vida e as razões para vivê-la.
Como o niilismo aparece nesses filmes? Nocturama (2016), de Bertrand Bonello, é um filme francês que mostra jovens sem perspectiva de futuro, mas ávidos de viver uma revolução, o que os leva a praticar um ato terrorista e a se esconder num Shopping Center. Esses jovens não encontram mais finalidade, nem no mundo, nem na história, nem em suas próprias vidas, de onde brota o sentimento de impotência. Por que agir?
O segundo filme, Três anúncios para um crime (2017), de Martin McDonagh, narra a obsessão de uma mãe em encontrar o responsável pelo estupro e assassinato de sua filha. Em suas investigações, fica evidente que é marcada, assim como outros personagens, pelo ressentimento, que a faz perder a confiança na justiça, como representação de uma totalidade. Quando não se confia mais na justiça, o ódio conduz à vingança.
Por fim, em A casa que Jack construiu (2018), de Lars Von Trier, um serial killer tenta justificar seus assassinatos como se fossem a criação de uma obra de arte, questionando a verdade e desafiando os critérios de bom e mau, o que denota sua incredulidade numa justificativa para a vida.
Esse quadro, em que a expectativa frustrada de uma finalidade conduz à impotência, a falta de totalidade gera ressentimento e a crise da verdade produz incredulidade, dialoga com o niilismo contemporâneo, que se apresenta tanto pela vontade de destruição da vida quanto pelo desejo de retorno aos valores perdidos. No entanto, o que o niilismo mostra é que esses valores não eram inatos nem permanentes, mas foram criados, imaginados e aceitos. Quando já não funcionam mais, ou funcionam de maneira precária, como vem acontecendo desde o século XIX, instala-se a crise e surge o desafio: como superar o niilismo?
A pesquisa de Rogério de Almeida, que coordena o Lab_Arte (Laboratório Experimental de Arte, Cultura e Educação) na USP com bolsa produtividade do CNPq, mostrou que a superação do niilismo não está no retorno aos valores perdidos, como pretendem os conservadores, mas numa educação que retome a potência criadora.
A educação antiniilista requer o reconhecimento do jogo estético, da potência da arte e da afirmação da vida, o que pode ser expresso pela pedagogia da escolha, em seus três movimentos: suspensão da crença (abandono das noções de totalidade, finalidade e verdade), experimentação estética do mundo e busca de itinerários formativos como cultivo e expressão de si, o “torna-te o que tu és” que Nietzsche resgatou de Píndaro. Assim, as escolhas propiciam (trans)formações e criam novos valores que poderão superar a atual crise chamada niilismo.
Para ler o artigo, acesse:
ALMEIDA, R. Impotência, Ressentimento, Incredulidade: o niilismo no Cinema e na Educação. Educ. Real. [online]. 2022, vol. 47, e116602 [viewed 11 October 2022]. https://doi.org/10.1590/2175-6236116602vs01. Available from: https://www.scielo.br/j/edreal/a/vvF5KGJ98sK97mXpVmzQkBg/.
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