Cíntia Cristina Silva de Araújo, Professora e pesquisadora, Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI) e Fundação Dom Cabral (FDC), São Paulo, SP, Brasil.
Alexandre Faria, Fundação Getulio Vargas, Professor Associado, FGV-EBAPE, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Jair N. Santos, Professor Titular e Pesquisador, Universidade Salvador (UNIFACS) e Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Salvador, BA, Brasil.
Estamos motivados em trazer para vocês a edição temática Debatendo a escravidão negra nos Estudos em Gestão e Organização a partir de perspectivas decoloniais e afrodiaspóricas, publicada pelo Cadernos EBAPE.BR, que surge de uma batalha diária pela preservação da vida não só aqui no Brasil, mas também em outras partes do Sul Global. A ideia desta edição surgiu a partir do nosso anseio de combater a invisibilidade das opressões coloniais e raciais, num momento em que enfrentávamos duas pandemias: a COVID-19 e a supremacia branca.
Agora, você pode ter acesso a essa coletânea de artigos que trazem uma resposta ousada e transformadora para combater a necropolítica que decide quem vive e quem morre. Inspirados na corajosa atitude de uma jovem negra que filmou o trágico caso de violência policial que culminou a morte de George Floyd reunimos oito artigos que vão nos fazer refletir sobre as lutas enfrentadas pelas comunidades marginalizadas e o impacto da perspectiva eurocêntrica na gestão e nas dinâmicas organizacionais.
Nosso objetivo aqui é desafiar as narrativas tradicionais e iluminar histórias ocultas sobre a escravidão negra, trazendo perspectivas decoloniais e afrodiaspóricas. Queremos contribuir para a decolonização e desracialização, tanto dentro como fora do campo da Gestão e dos Estudos Organizacionais.
O primeiro artigo da edição, “Registros Contábeis e Escravatura no Brasil Oitocentista: Uma Abordagem Histórica”, escrito por Jacira Pontinha Vaz Monteiro e Victoria Puntriano Zuniga de Melo, abre a edição temática, apresentando uma análise detalhada e minuciosa do papel da Contabilidade no sistema escravista no Brasil.
O artigo de autoria de Fernanda Cavalcante Gama, Priscila Thayane de Carvalho Silva, Fabiane Maia Garcia e Audriele Santos de Jesus, “Trabalhos Análogos à Escravidão: Uma Análise de Indivíduos Escravizados no Século XXI no Brasil”, oferece-nos a oportunidade de refletir sobre o trabalho análogo à escravidão para maximização de lucros.
Ainda sobre a escravidão nos tempos atuais, o artigo A Roda da Escravidão Moderna: Uma Nova Abordagem Teórica, resultante de uma pesquisa qualitativa conduzida por Rodrigo Martins Baptista, Maria Tereza Saraiva de Souza, Mariana Lima Bandeira e José Ricardo Baptista, sistematiza os fatores institucionais que sustentam a escravidão moderna.
O artigo intitulado Interseccionalidades da Escravidão Contemporânea da Mulher Negra à Luz do Pensamento Decolonial: Trabalho, Determinantes e Desigualdades Sociais também aborda a escravidão contemporânea, mas através da perspectiva da interseccionalidade. Seus autores são Cássius Guimarães Chai, Vitor Hugo Souza Moraes, Karine Sandes de Souza e Fernanda Franklin de Costa Ramos.
Na sequência, o artigo intitulado Precisamos Falar sobre Taylor: Indícios de Racismo na Administração Científica?, escrito por Geruza de Fátima Tomé Sabino e Daniel Calbino Pinheiro, vai contra a narrativa dominante do Norte Global no ensino da Administração, apresentando uma análise crítica das teorias de Gestão.
Por sua vez, os autores Ana Flávia Rezende e Luís Fernando Silva Andrade no artigo Racismo, Sexismo e Resquícios do Escravismo em Anúncios de Emprego relatam a prática muito presente no mercado de trabalho brasileiro, que é o uso de anúncios de emprego com elementos racistas, camuflados por eufemismos narrativos como “boa aparência” e “boa higiene”.
Também focando na representatividade negra no mercado de trabalho, o artigo Racismo Estrutural e Cotas nas Carreiras Jurídicas: A Perspectiva Secolonial, de Amanda Carolino Santos, Fátima Bayma de Oliveira, Gustavo Guimarães Marchisotti e Ana Celano, analisa os efeitos das cotas raciais nas carreiras jurídicas.
A edição termina com o artigo As Contribuições da Interpretação de Clóvis Moura sobre a Escravidão no Brasil e seus Possíveis Diálogos com os Estudos Organizacionais de Ricardo M. Duarte que convida o leitor a adotar uma visão menos passiva das iniciativas para implementação da diversidade e inclusão nas organizações.
No geral, esta edição explora de forma ampla e multifacetada o legado da escravidão negra e do colonialismo, lembrando-nos das lutas por justiça, igualdade e pela erradicação da escravidão moderna, visando contribuir para uma nova humanidade e um mundo mais inclusivo e equitativo. Embora reconheçamos que a edição ainda reproduz estruturas coloniais, esperamos que ela seja um recurso valioso para acadêmicos, profissionais e formuladores de políticas, promovendo pesquisas, análises críticas e ações em busca de justiça social e dignidade.
Prepare-se para uma leitura incrível e transformadora! Estamos prontos para embarcar nessa jornada com você. Vamos juntos nessa luta pela justiça e igualdade!
Referências
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Para ler os artigos, acesse
ARAÚJO, C.C.S., et al. Debatendo a escravidão negra nos Estudos em Gestão e Organização a partir de perspectivas decoloniais e afrodiaspóricas. Cad. EBAPE.BR [online]. 2023, vol. 21, no. 3, e2023-0100 [viewed 3 July 2023]. https://doi.org/10.1590/1679-395120230100x. Available from: https://www.scielo.br/j/cebape/a/VF8hHPyYFbtMTs9hjM6dhSc/
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Links Externos
Cadernos EBAPE.BR – CEBAPE: https://www.scielo.br/cebape
Cadernos EBAPE.BR – Site: https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/cadernosebape
Para ler a edição temática, acesse: https://www.scielo.br/j/cebape/i/2023.v21n3/
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