Cássio Turra, Editor da Revista Brasileira de Estudos de População, Professor Titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil.
Igor Cavallini Johansen, Coeditor da Revista Brasileira de Estudos de População, pós-doutorando na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP, Brasil.
Em 2024, a Revista Brasileira de Estudos de População celebrará 40 anos de excelência acadêmica. Desde sua fundação, em 1984, o periódico se consolidou graças ao esforço e dedicação incansáveis de seus editores, sempre comprometidos com os mais altos padrões internacionais de qualidade. A Revista, que se destaca por estar aberta a contribuições interdisciplinares afins à demografia, tem como foco primordial o desenvolvimento teórico e metodológico dos estudos populacionais. É importante frisar que o periódico se posiciona como a única publicação especializada nesta área no Brasil.
No ano de 2023, reforçamos o convite para uma participação ainda mais ativa da comunidade científica em demografia, sobretudo a partir de uma colaboração crescente dos membros da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP) no processo de avaliação por pares. A RBEPOP é fruto do empenho coletivo e da visão compartilhada de pesquisadores nacionais e internacionais, todos voltados para a evolução dos estudos populacionais no Brasil.
Neste marco significativo para a RBEPOP, é com gratidão que recebemos o convite do Programa SciELO para integrar a Semana Especial do Blog SciELO em Perspectiva | Humanas. Desde nossa inclusão na Coleção SciELO Brasil, temos nos dedicado incessantemente à otimização dos nossos processos editoriais, buscando sempre mais rigor e transparência, bem como a expansão do acesso aos artigos que publicamos. Com orgulho, destacamos que a RBEPOP alcançou a classificação no estrato A1 no Qualis CAPES, refletindo o compromisso com a excelência e a importância de nossas contribuições acadêmicas.
Para esta Semana Especial, a RBEPOP tem o prazer de apresentar uma seleção de artigos de 2023 que ecoam os princípios propostos pela Plataforma SciELO, especialmente em Impacto, Diversidade, Equidade, Inclusão e Acessibilidade (IDEIA). Essa curadoria reflete nossa contínua reflexão sobre como essas dimensões cruciais se entrelaçam com a ciência, demonstrando o nosso compromisso em fomentar um diálogo científico que seja tão diversificado quanto inclusivo.
No primeiro dia, teremos o press release do artigo de Silvio Segundo Salej Higgins (UFMG) e coautores discutindo estratégias para calibrar modelos epidemiológicos na análise de doenças infecciosas, com base na probabilidade de infecção, levando em consideração fatores como idade, ocupação e local de interação com outras pessoas. Os autores conduzem um estudo de caso em uma favela brasileira, permitindo aprofundar a análise teórico-conceitual e metodológica em uma realidade concreta. Além disso, a análise permite refletir sobre as dificuldades – e os caminhos que podem ser seguidos na equalização – da modelagem de contatos sociais para ação eficaz no controle de doenças infecciosas de rápida disseminação, como é o caso da Covid-19.
O segundo dia da Semana Especial contará com a divulgação do trabalho de Victor Antunes Leocádio (UFMG) e coautoras, apresentando sua análise sobre as intenções de fecundidade. Eles observam em sua análise que existem diferenças entre as intenções de fecundidade e a fecundidade observada, encontrando uma preferência por dois filhos, mas a realidade mostra uma fecundidade abaixo desse patamar. Há, portanto, uma demanda não atendida por filhos. Os autores destacam que isso ocorre tanto em países de alta renda quanto em países de renda menor.
É fundamental, lembram os autores, estarmos atentos à grande heterogeneidade entre os subgrupos populacionais dentro desses países. No Brasil, por exemplo, ao mesmo tempo em que, na média nacional, existe uma demanda não atendida por filhos, existem ainda gravidezes indesejadas, especialmente entre as mulheres residentes no Norte e Nordeste, com menor escolaridade e menor condição socioeconômica. Portanto, as políticas públicas precisam se adaptar à realidade nacional, levando também em conta as desigualdades internas do país.
Nosso terceiro press release da Semana Especial da RBEPOP tem a contribuição de Júlia Almeida Calazans (CED – Barcelona) e coautores. O artigo indica que, entre 2008 e 2018, os diferenciais regionais na esperança de vida ao nascer aumentaram no Brasil. Por outro lado, as diferenças na dispersão na idade à morte mantiveram-se constantes. O estudo destaca a ocorrência da transição epidemiológica no Brasil, com a mudança do padrão de mortalidade da predominância de doenças infectocontagiosas e outras causas preveníveis para um novo padrão, baseado em mais mortes causadas por doenças não transmissíveis, como as crônico degenerativas.
No entanto, o trabalho ressalta que essa mudança ocorre de forma heterogênea no Brasil, em linha com o trabalho sobre fecundidade apresentado no dia anterior. Vemos, portanto, que observar as médias nacionais pode ser uma referência para a busca de padrões ou tendências de mudança, mas a elaboração de políticas públicas para lidar com questões relacionadas a esses dois componentes do crescimento demográfico passa, necessariamente, pela análise atenta dos diferenciais regionais, especialmente em um país ainda muito desigual como o Brasil.
A Semana Especial da RBEPOP também inclui um tema menos comum no âmbito da demografia, mas igualmente importante: a insegurança alimentar. Milena Serenini (Ministério da Saúde) e coautoras realizam uma investigação abrangente sobre a percepção de adolescentes participantes do programa Bolsa Família.
Imagem: Pixabay.
O diferencial do trabalho das autoras é que, usualmente, as análises sobre insegurança alimentar têm a percepção do responsável pelo domicílio como referência. No entanto, os adolescentes, apesar de poderem responder de forma autônoma à insegurança alimentar, raramente são o foco de investigações. Ao mesmo tempo, a fome afeta seu crescimento, desenvolvimento na puberdade, saúde mental e morbidade a curto e longo prazos.
Serenini e coautoras apontam diferentes facetas da insegurança alimentar segundo a perspectiva dos adolescentes: a fome não envolve apenas a falta absoluta de alimentos, mas também a incapacidade de acessar os tipos e quantidades desejados de comida; a insegurança alimentar também inclui a preocupação de que o alimento possa acabar; e as estratégias dos adolescentes para lidar com a insegurança alimentar, como comer repetidamente na escola, frequentar a casa de vizinhos e familiares em busca de refeições e realizar trabalhos informais para comprar comida.
Esse tema é sempre relevante no Brasil, mas ganhou ainda mais notoriedade durante a pandemia de Covid-19, quando a fome voltou a crescer de forma significativa no Brasil, afetando especialmente os domicílios com menores de 18 anos e chefiados por mulheres negras.
No quinto e último press release divulgado na Semana Especial da RBEPOP, Carlos Ayala Durán (UFRGS) apresenta as características do trabalho de mulheres hondurenhas vivendo nos EUA trabalhando em atividades domésticas. O autor encontra que as mulheres em trabalho doméstico se diferem em relação àquelas em outras atividades profissionais, em termos de idade, número de dependentes, propriedade de bens, poupança, renda e ter conta bancária.
Imigrantes hondurenhas nos EUA tendem a receber salários menores em comparação com outras profissões. O autor evidenciou que tais mulheres eram, de forma geral, incapazes de economizar recursos, o que estaria associado inclusive à falta de uma rede social que as ajudasse, além da existência de dependentes delas em ambos os países (Honduras e EUA).
Este trabalho apresenta uma das facetas dos processos migratórios em curso atualmente, neste caso entre América Central e América do Norte, indicando que, apesar dos novos padrões de fluxos populacionais que emergiram no contexto histórico atual, a migração para trabalhos domésticos de países menos desenvolvidos para países mais desenvolvidos continua em voga, embora possam surgir nuances específicas de acordo com as especificidades do período e do próprio grupo populacional migrante analisado.
Temos assim, na Semana Especial da RBEPOP, uma seleção de artigos publicados no corrente ano de 2023 que representam diferentes componentes das discussões sobre Demografia e Estudos Populacionais, para os quais a nossa Revista vem contribuindo para investigação ao longo dos últimos 40 anos.
Esperamos que as leitoras e leitores desfrutem desses textos, representativos da trajetória do periódico. Aproveitamos para convidá-los a acessar a nossa página na Plataforma SciELO e ler esses e outros trabalhos publicados. Lembramos, ainda, que estamos abertos a novas submissões de trabalhos que analisem componentes da dinâmica demográfica a partir de distintos campos disciplinares. Por fim, convidamos vocês a acompanharem as novidades da nossa Revista através dos nossos canais de comunicação científica (Facebook | Twitter | Instagram).
Nossos parabéns à RBEPOP e o profundo agradecimento à rede de professores e pesquisadores no Brasil e no exterior que contribuem, diariamente, para sua existência e progressivo crescimento. Obrigado ao SciELO por fazer parte desse processo de consolidação da nossa Revista e do conhecimento científico da Demografia no Brasil. A todos vocês, o nosso muito obrigado.
Semana Especial Revista Brasileira de Estudos de População 2023
- Revista Brasileira de Estudos de População participa da Semana Especial do Blog SciELO em Perspectiva | Humanas
- Enhancing pandemic predictions by measuring daily contacts
- Intenções de fecundidade em países de alta renda e no Brasil
- Diferenciais regionais da mortalidade no Brasil entre os anos de 2008 e 2018
- Fome na adolescência: percepções de participantes do Programa Bolsa Família
- Domestic workers of Honduran origin in the U.S.A: An approximation
Links externos
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