Por que “caímos” em fake news e como evitar?

Daniel Calbino Pinheiro, Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Sete Lagoas, Minas Gerais, Brasil. 

Fábio de Barros Silva, Professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ), São João del Rei, Minas Gerais, Brasil. 

No artigo Fake News e educação à luz dos afetos em Baruch Espinosa, publicado na Revista Educação e Pesquisa (vol. 49, 2023), Daniel Calbino Pinheiro e Fábio de Barros Silva apresentam um ensaio que consiste em trazer indícios que ajudem a compreender as crenças nas fake news e, consequentemente, em pensar uma educação que permita maior efetividade na correção dessas crenças.

Pautada metodologicamente por uma investigação bibliográfica, resgata as reflexões filosóficas do pensamento de Baruch Espinosa, para auxiliar na compreensão do tema. 

As motivações da pesquisa emergiram do incômodo em observar que pessoas com curso superior, que trabalharam no ambiente científico, pagaram com as suas vidas por acreditarem em notícias deliberadamente falsas. A indagação se somou às dificuldades nas formas de se “corrigir” as vítimas de notícias falsas, que, contudo, mostraram resistência às tentativas. 

Imagem: Jorge Franganillo (Unsplash).

Por meio do diálogo de pesquisas científicas recentes que problematizam as fake news com o pensamento filosófico de Espinosa, o texto apontou para algumas proposições que podem auxiliar a compreender os motivos que levam as pessoas, mesmo com escolaridade elevada, a serem vítimas das fake news. Destas, destaca-se:

1. os homens estão necessariamente sujeitos aos afetos;
2. os afetos, mesmo interferindo nas escolhas dos homens, nem sempre são maus ou nocivos, mas apenas quando impedem a mente de pensar.
3. Portanto, as notícias falsas que confirmam as crenças e os valores dos indivíduos trazem afetos de alegria, ainda que excessivos ou não sólidos (Espinosa, 2009b).

Isso indica que, na atualidade, os apelos à emoção, às crenças e à ideologia têm mostrado mais influência em moldar a opinião pública do que os fatos objetivos (D’ancona, 2018). 

Enquanto possível forma de correção, o filósofo Espinosa sugere que o homem deve, pois, dedicar-se, sobretudo, à tarefa de conhecer, tanto quanto possível, clara e distintamente, cada afeto, para que a mente seja, assim, determinada a pensar aquelas coisas que percebe clara e distintamente (Espinosa, 2009a).

As contribuições do texto para a área da educação indicam que estas ações corretivas podem ser potencializadas ao incluir questões que abordem os afetos na dinâmica das crenças nas fake news. Do ponto de vista prático, trata-se de explorar dentro da sala de aula a teoria dos afetos e sua relação com as tomadas de decisões.

Referências

ALMEIDA, R. Filmes que retratam a crise niilista ajudam a Educação a pensar sobre nosso tempo [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2022 [viewed 19 February 2024]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2022/10/11/filmes-que-retratam-a-crise-niilista-ajudam-a-educacao-a-pensar-sobre-nosso-tempo/

D´ANCONA, M. Pós-Verdade: A nova guerra contra os fatos em tempos de Fake News. Barueri: Faro Editorial, 2018.  

ESPINOSA, B. Ética: demonstrada em ordem geométrica. Tradutor Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica, 2009a.

ESPINOSA, B. Tratado político. Tradutor Diogo Pires Aurélio. São Paulo: Martins Fontes, 2009b. 

Para ler o artigo, acesse

ALMEIDA, R. Filosofia trágica e pedagogia da escolha: imaginários cinematográficos sobre a afirmação da vida. Educação e Pesquisa [online]. 2023, vol. 49, e254031 [viewed 19 February 2024]. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202349254031. Available from: https://www.scielo.br/j/ep/a/tS7GjbkFLszRHTTStd9s6Ng/ 

Links externos

Educação e Pesquisa – EP: https://www.scielo.br/j/ep/

Educação e Pesquisa – Revista da Faculdade de Educação da USP: http://www.educacaoepesquisa.fe.usp.br/

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