Michelle Bobsin Duarte, Professora do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
O pensamento de Hans Jonas ficou conhecido por sua formulação ética em relação ao futuro da humanidade. Contudo, sua filosofia apresenta uma série de reflexões que fundamentam as premissas que culminaram na sua “Ética do Futuro”. Neste sentido, o artigo Símbolos, Imagens, Imaginação e Memória: elementos para uma epistemologia jonasiana se propõe a investigar, a partir da chave interpretativa fornecida pelo filósofo com a noção de Homo Pictor, os possíveis elementos de uma teoria do conhecimento em seu pensamento.
Dessa forma, postulamos que as reflexões de Jonas sobre as imagens podem nos fornecer pistas importantes sobre o modo como conhecemos primariamente o mundo e sobre como o simbolizamos. A presente investigação não pretende apontar para questões de conhecimento científico, mas sim, para a experiência primária dos humanos em seus encontros com o real, que também produzem conhecimento.
O sentido de uma epistemologia jonasiana, portanto, consiste justamente na investigação das camadas básicas que constituem a compreensão de mundo propriamente humana. E, para tanto, propomos uma leitura que considera as imagens e os seus correlatos, como os símbolos, a imaginação e a memória, como partes essenciais dos atributos dos sujeitos epistêmicos.
O artigo analisa como a faculdade pictórica, escolhida por Jonas como a marca da diferença antropológica, constitui um dos pilares para se pensar a relevância fundamental dessa habilidade humana para expressar tanto a realidade do mundo como o universo interno dos afetos gerados pela experiência do real.
Expressar simbolicamente algo pressupõe uma certa relação conceitual, a qual, para Jonas, já está dada na performance da visão humana. Compreender a construção simbólica da realidade, a partir do elemento de semelhança apreendido nas imagens, o qual traz consigo a liberdade que torna possível a sua concepção em diferentes modos, implica admitir que a nossa percepção opera por separação do eidos (forma) dos objetos atuais, para adequá-los a outros objetos que expressam uma relação de correspondência entre si.
O eidos, ou a semelhança, por ser o objeto real da apreensão das imagens, possibilita a adequação simbólica de determinadas ideias ou conceitos em diferentes imagens que possuem um grau de semelhança entre si, o que torna possível postular a concepção de várias imagens relacionadas com ideias e conceitos, pelo significado que carregam quase como uma superposição de ideias e experiências.
Além das imagens e dos símbolos, o artigo trata a memória e a imaginação como elementos constituintes da faculdade pictórica. A memória é compreendida como séries de imagens físicas e mentais que expressam ideias e afetos. Já a imaginação é diferenciada em meramente reprodutiva e imaginação livre ou produtiva. A imaginação livre é o meio pelo qual a memória transcende a mera rememoração das coisas, pois é através dela que a nossa memória difere da recordação dos demais animais. Ou seja, a imaginação produtiva corresponde ao fato de os humanos possuírem à sua disposição as imagens destacadas de suas sensações atuais, as quais podem ser evocadas a qualquer momento.
Após a apresentação e a articulação desses elementos, o artigo apresenta uma discussão sobre o postulado jonasiano de “extensão ideativa da percepção”, que consiste na fundamentação da ideia de que somos mediados pelo eidos (forma) das imagens e pela linguagem em nossa relação com o real, e sobre o a priori do corpo na percepção da realidade. Isso significa que nós, os humanos, a partir da base existencial orgânica comum a todos os seres vivos, desenvolvemos evolutivamente um tipo muito peculiar de percepção da realidade, no qual a apreensão das formas dos objetos e a sua replicação inauguraram um modo próprio de se relacionar com o mundo.
Sobre Michelle Bobsin Duarte
É doutora em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), professora do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGFIL-UFRRJ), além de pesquisadora da filosofia de Hans Jonas e dos diagnósticos e soluções que o pensamento ecológico e as teorias ecofeministas apresentam frente ao problema ambiental.
Referências
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Para ler o artigo, acesse
BOBSIN DUARTE, M. Símbolos, imagens, imaginação e memória: elementos para uma epistemologia jonasiana. Trans/Form/Ação [online]. 2024, vol. 47, no. 2, e02400118 [viewed 19 April 2024]. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2024.v47.n2.e02400118. Available from: https://www.scielo.br/j/trans/a/prn5qmTVsGnCsQGx8cgWBJP/
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