Lucas Batista Pilau, pesquisador, Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), São Paul, SP, Brasil.
Fabiano Engelmann, professor, Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil.
Nas últimas cinco eleições para a Câmara dos Deputados, entre 2002 e 2018, candidatos vinculados à Polícia Federal (PF) vêm demonstrando mudanças de perfil e em suas campanhas eleitorais. Há uma crescente tendência de profissionalização política desses candidatos, maior participação de lideranças ligadas a sindicatos e associações da PF e um maior alinhamento desses atores políticos, sobretudo a partir de 2014, com partidos de centro-direita e direita.
Além disso, os candidatos, com o passar do tempo, mobilizaram em suas campanhas diferentes recursos relacionados à sua profissão: se nas primeiras eleições prevalecia uma tentativa de associar suas imagens à expertise da segurança pública, a partir das eleições de 2010, os candidatos passaram a se posicionar como combatentes da corrupção política.
As explicações para essas transformações são múltiplas e envolvem os investimentos realizados na PF durante o primeiro mandato de Lula (2003-2006), as mudanças na atuação sindical e corporativa dos policiais federais e os efeitos conjunturais da Operação Lava Jato.
Esse novo cenário das candidaturas de profissionais da PF é apresentado no artigo Punir corruptos e renovar a política: as candidaturas de policiais federais à Câmara dos Deputados no Brasil (2002-2018), publicado na Brazilian Political Science Review (vol. 19, no. 2, 2025), que analisa as mudanças dos perfis dos candidatos com vínculos com a PF e suas campanhas eleitorais ao longo das eleições legislativas de 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018.
Desenvolvida por Lucas Batista Pilau e Fabiano Engelmann, a pesquisa aborda um ponto relativamente inexplorado na literatura das ciências sociais que se dedica à Polícia Federal: a relação desta corporação com a política, em especial a política partidária. Em termos metodológicos, a pesquisa documental teve como base variadas fontes, sobretudo o Tribunal Superior Eleitoral, para levantar dados referentes às candidaturas, e o YouTube, para acessar as campanhas eleitorais.

Imagem: AHMAD, S. and VERLI, H. (2024)..
A pesquisa foi realizada no contexto da administração de Jair Bolsonaro (2019-2022), momento em que a PF esteve no centro dos debates políticos em razão de denúncias de intervenções do governo federal na corporação. Por conta disso e das lacunas existentes na literatura, os autores consideraram pertinente e relevante lançar luz sobre as conexões entre a PF e a política partidária.
Essa conexão íntima entre a PF e a política partidária provoca uma reflexão sobre os limites e as linhas (às vezes não tão claras) que separam ou deveriam separar a atividade policial da política. No período da Nova República, inaugurado no final da década de 1980, uma das principais preocupações das instituições judiciais – entre elas a PF – era afirmar sua autonomia perante o espaço político.
Nesse ponto, o artigo suscita a hipótese de que esses esforços para estabelecer limites com a política e defender a autonomia da PF podem ter fornecido aos seus membros estratégias destinadas a adentrar na arena política.
Os desafios para esse tipo de pesquisa são imensos e abrangem desde a coleta dos dados até as mudanças conjunturais que, por vezes, devem ser incorporadas à análise. No contexto de outras análises já produzidas pelos autores sobre a PF (Engelmann; Menuzzi; Pilau, 2023; Pilau, 2024), existe a previsão de que um desdobramento dessa pesquisa seja publicado pelos autores em 2025 no formato de capítulo em uma coletânea.
Nessa produção, ainda que em menor proporção, os autores buscam entender as capturas corporativas da Polícia Federal durante o governo Bolsonaro e os movimentos mais recentes de institucionalidade na corporação, após a posse de Lula para um terceiro mandato em 2023.
Para ler o artigo, acesse
PILAU, L.B. and ENGELMANN, F. Punishing the Corrupt and Renewing Politics: The Candidacies of Federal Police Officers for the Brazilian Chamber of Deputies (2002-2018). Brazilian Political Science Review [online]. 2025, vol. 19, no. 2 [viewed 20 March 2025]. https://doi.org/10.1590/1981-3821202500020002. Available from: https://www.scielo.br/j/bpsr/a/hFwJ6XtGLNjQdCwZXy9SLzB/
Referências
ENGELMANN, F., MENUZZI, E.M. and PILAU, L.B. International connections within the national government: Brazilian public legal careers and international circulation (2008–2018). Crime, Law and Social Change [online]. 2023, vol. 79, pp. 627-642 [viewed 20 March 2025]. https://doi.org/10.1007/s10611-023-10075-0. Available from: https://link.springer.com/article/10.1007/s10611-023-10075-0
PILAU, L.B. O poder político na Polícia Federal: entre a burocracia estatal e a política partidária (2002-2018). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2024
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