Indicador configuracional de acessibilidade potencial evidencia desigualdades no acesso à cidade em Pelotas

Kátia Oliveira, doutoranda (bolsista CAPES), Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana (PPGTU), Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), membro do corpo editorial, urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana.

Logo do periódico urbe. Revista Brasileira de Gestão UrbanaNo artigo Uncovering income and racial spatial inequalities and segregation patterns with a potential accessibility network index (vol. 16, 2024), publicado pelo periódico urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, os autores observam que a segregação urbana permanece um desafio central para a equidade e a sustentabilidade nas cidades latino-americanas. Avaliam que há uma lacuna metodológica e empírica na literatura acerca de indicadores de acessibilidade espacial de forma configuracional, que considerem a estrutura da rede urbana e suas implicações sociais voltados à realidade das cidades da região.

Diante dessa constatação, os autores propõem um indicador configuracional de acessibilidade potencial, projetado para capturar as vantagens das unidades espaciais que representam locais de origem (residências, desagregadas segundo grupos por renda e raça) no sistema de rede urbana em relação às oportunidades urbanas (locais de destino), levando em consideração a competição dentro do sistema de rede espacial.

O indicador configuracional é baseado no indicador de acessibilidade de Shen (1998), adaptado para modelagem de redes urbanas por Gonçalves (2022). Com base no modelo de Oportunidade Espacial de Krafta (1996), é aplicada uma medida de centralidade de proximidade ponderada e ordenada. O trabalho se desenvolve em cinco etapas, finalizando com análises espaciais e estatísticas que demonstram as desigualdades e os padrões de segregação socioespacial.

Utilizando Pelotas como estudo de caso, uma cidade de médio porte no sul do Brasil, o trabalho objetiva evidenciar como a estrutura urbana e as condições de renda e raça interagem para produzir padrões de segregação funcional, considerando o acesso a empregos, lojas, vagas em escolas, em leitos hospitalares, dentre outras oportunidades.

A pesquisa demonstrou como a configuração da rede viária, associada à distribuição da população e das oportunidades, gera padrões espaciais de acesso diferenciados entre os grupos sociais. Os níveis de acessibilidade na área central de Pelotas, caracterizada por uma concentração de oportunidades, são predominantemente favoráveis para grupos de alta renda e brancos, enquanto grupos não brancos de baixa renda enfrentam acessibilidade inferior na área.

A análise indica a presença de um padrão de segregação centro-periferia que, embora persistente, assume formas complexas e espacialmente diversas. A aplicação deste método demonstra sua capacidade de identificar e comparar disparidades de acessibilidade à cidade entre diferentes grupos sociais com maior detalhamento.

As métricas de diferenças de acessibilidade potencial oferecem uma compreensão mais clara e facilmente comunicável dos fenômenos, mantendo consistência com as propriedades estatísticas do indicador. Embora ainda apresentando limitações de dados, a abordagem oferece subsídios relevantes para o planejamento urbano em escala intraurbana. A fim de proporcionar uma compreensão mais ampla das desigualdades, pesquisas futuras podem considerar a desagregação de dados, levando em conta grupos sociais adicionais com base em fatores como gênero, idade, estrutura familiar, dentre outros.

Para ler o artigo, acesse

GONÇALVES, G.M., MAFFINI, A.L. and MARASCHIN, C. Uncovering income and racial spatial inequalities and segregation patterns with a potential accessibility network index. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana [online]. 2024, vol. 16, e20230163 [viewed 12 June 2025]. https://doi.org/10.1590/2175-3369.016.e20230163. Available from: https://www.scielo.br/j/urbe/a/yR4LKzmDL7TsXZ9CSf9nBns/

Referências

GONÇALVES, G.M. Indicadores de acessibilidade aos empregos baseados na abordagem configuracional (Master’s thesis). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2022

KRAFTA, R. Urban Convergence: Morphology and Attraction. Environment and Planning B: Planning and Design [online]. 1996, vol. 23, no. 1, pp. 37-48 [viewed 12 June 2025]. https://doi.org/10.1068/b230037. Available from: https://journals.sagepub.com/doi/10.1068/b230037

SHEN, Q. Segregation through space: A scope of the flow-based spatial interaction model. Journal of Transport Geography [online]. 1998, vol. 25, no. 1, pp. 345-365 [viewed 12 June 2025]. https://doi.org/10.1016/j.jtrangeo.2019.02.007. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0966692318305350?via%3Dihub

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OLIVEIRA, K. Indicador configuracional de acessibilidade potencial evidencia desigualdades no acesso à cidade em Pelotas [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2025 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2025/06/12/indicador-configuracional-de-acessibilidade-potencial-evidencia-desigualdades-no-acesso-a-cidade-em-pelotas/

 

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