Milene da Silva Oliveira, Professora de Educação Física na Rede Municipal de Ensino de Chapecó. Universidade Comunitária da Região de Chapecó – Unochapecó, Santa Catarina, Brasil.
Tania Mara Zancanaro Pieczkowski, Pesquisadora e professora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação – Mestrado e Doutorado na Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), Santa Catarina, Brasil.
O artigo Exercício profissional de docentes com deficiência visual: tensionando a acessibilidade, publicado no periódico Educação em Revista, analisa a narrativa de sete docentes com deficiência visual (cegos ou com baixa visão) atuantes na rede básica de ensino nos três estados do Sul do Brasil (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), evidenciando as barreiras impostas às pessoas com deficiência visual no exercício da profissão docente. Através dessas narrativas, o estudo promove reflexões sobre a necessidade de políticas educacionais mais inclusivas, contribuindo para uma maior conscientização sobre a importância da acessibilidade e inclusão no ambiente escolar.
O texto deriva da dissertação de Mestrado em Educação de Milene da Silva Oliveira, sob a orientação de Tania Mara Zancanaro Pieczkowski, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação Strico Sensu em Educação na Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), no oeste de Santa Catarina, Brasil, no período de 2019 a 2021. A motivação para o seu desenvolvimento está, especialmente, no fato da primeira autora ser uma professora de Educação Física na Educação Básica e apresentar deficiência visual.
Para a definição dos professores participantes da investigação, foi utilizada a técnica denominada “Bola de neve”, que se caracteriza como uma amostragem não probabilística, selecionada por meio de indicações, ou seja, de uma cadeia de referência. Participaram da pesquisa professores da Educação Básica com experiência de dois a 25 anos, formados predominantemente em Pedagogia, além de Filosofia, Educação Física e Geografia.
A geração de materialidades empíricas aconteceu por meio de entrevistas narrativas, realizadas após a aprovação do projeto no Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos, com o consentimento dos sujeitos pesquisados. As entrevistas foram conduzidas via Google Meet e transcritas na íntegra. As narrativas resultantes foram organizadas em agrupamentos temáticos, considerando a recorrência e a relevância das manifestações, e examinadas com base na análise do discurso sob a perspectiva foucaultiana.
Foucault afirma que, ao analisar discursos, é preciso ficar atento, pois estão imersos em “um jogo complexo e instável em que o discurso pode ser, ao mesmo tempo, instrumento e efeito de poder, e também obstáculo, escora, ponto de resistência e ponto de partida de uma estratégia oposta” (Foucault, 2005, p. 96).
A pesquisa aponta que a inserção profissional de professores cegos ou com baixa visão é recente e ainda causa estranhamento nos espaços escolares. Sob a lógica da norma e da normalização, denomina-se de “estranho” o ser quando não se conhece sua especificidade e singularidade, rotulando-o como descapacitado, especial e diferente, em contraposição a quem se denomina de “igual”, “nativo” ou “normal” (Ferre, 2001).
Além disso, os resultados indicam que quanto maiores forem as barreiras sociais impostas, menores serão as possibilidades de inclusão de docentes com deficiência visual no exercício profissional.
Por fim, o estudo indica que a deficiência está nos contextos sociais e na falta de acessibilidade, e não apenas no sujeito denominado deficiente. A presença de profissionais com deficiência nas escolas gera novas necessidades, desafiando as verdades estabelecidas pelas relações de poder delimitadas pelos padrões de normalidade.
Referências
FERRE, N.P.L. Identidade, diferença e diversidade: manter viva a pergunta. In: LARROSA, J. and SKLIAR, C. Habitantes de Babel: políticas e poéticas da diferença. Belo Horizonte: Autêntica, 2001, pp. 195-214.
FOUCAULT, M. O dispositivo de sexualidade. In: História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 2005, p. 73-124.
LOPES, M.C. and FABRIS, E.H. Norma, normação, normalização, normatização e normalidade. In: Inclusão e Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2020, pp. 41-76.
PIECZKOWSKI, T. M. Z. Mediação pedagógica na relação com universitários com deficiência. Revista Educação [online]. 2019, vol. 22, pp. 1-21 [viewed 22 July 2024]. http://doi.org/10.5902/1984644428452. Available from: https://www.redalyc.org/journal/1171/117158942043/html/
VEIGA-NETO, A. and LOPES, M.C. Inclusão e governamentalidade. Revista Educação e Sociedade [online]. 2007, vol. 28, no. 100, pp. 947-963 [viewed 22 July 2024]. https://doi.org/10.1590/S0101-73302007000300015. Available from: https://www.scielo.br/j/es/a/CdwxsTyRncJRf8nmrhmYjsg/
Para ler o artigo, acesse
OLIVEIRA, M.D.S. and PIECZKOWSKI, T.M.Z. Exercício profissional de docentes com deficiência visual: tensionando a acessibilidade. Educ. rev. [online]. 2024, vol. 40, e41046 [viewed 22 July 2024]. https://doi.org/10.1590/0102-469841046. Available from: https://www.scielo.br/j/edur/a/6dwQpJ9gFzvVYJ8rXnfBZKw/
Links externos
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