Escrita de si como caminho formativo e transformador

Ana Luiza Silva Oliveira, Linceu Editorial, São José dos Campos, SP, Brasil.

Mariana Silva Oliveira, Linceu Editorial, São José dos Campos, SP, Brasil.

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A produção de conhecimento nas ciências humanas coloca o ser humano, simultaneamente, na posição de investigador e de objeto a ser conhecido. Esse processo, por sua vez, demanda o constante movimento de olhar para si e compreender suas relações com os outros e com o mundo circundante. Nesse contexto, a escrita exerce um papel fundamental como ferramenta na qual conteúdos subjetivos encontram a objetividade, de forma que o indivíduo se torna capaz de tomar consciência das relações e afetos que o atravessam, ao mesmo tempo que produz novas maneiras de ser no mundo.

A partir disso, o relato das próprias narrativas se configura como um meio em que se torna possível a formação de novas aprendizagens e reflexões, recebendo o nome de pesquisa narrativa autobiográfica. A fim de refletir sobre as contribuições desse modelo nas pesquisas qualitativas em educação, Joelson de Sousa Morais propôs o ensaio teórico-reflexivo Tecer com afeto, sensibilidade e emoção: a pesquisa autobiográfica em educação, publicado no periódico Educação & Sociedade (vol.46, 2025).

A partir de sua própria experiência com o tema e da inspiração em autores como Walter Benjamin, Jorge Larrosa e Spinoza, o autor conduz uma reflexão sensível e potente sobre o uso das narrativas autobiográficas na construção de sentimentos e sentidos de vida. Dessa forma, Morais enfatiza a aplicabilidade desse método de construção de conhecimento nas pesquisas qualitativas em educação, mobilizando o sujeito ao encontro de si através dos afetos e criando margem para a transformação que o projetará para um futuro desejado.

Fotografia de uma caneta tinteiro sobre um caderno

Imagem: Pixabay

 

Ao longo do texto, Morais apresenta quatro dimensões fundamentais da pesquisa narrativa autobiográfica: o tempo da narrativa, a escolha das experiências significativas, a construção de saberes na relação entre o sujeito e o outro, e o mergulho afetivo nas memórias. No estudo, essas dimensões são abordadas como pilares que sustentam um modo de fazer ciência comprometido com a subjetividade e com a valorização da experiência vivida. O autor também discute as tensões entre essa perspectiva e abordagens positivistas, frequentemente críticas ao caráter subjetivo da narrativa. Entretanto, defende que é justamente nessa subjetividade que estão importantes caminhos formativos e epistemológicos.

Desse modo, focado na formação de professores, o autor argumenta que a narrativa autobiográfica permite que os sujeitos compreendam seus percursos, transformem suas práticas e desenvolvam uma consciência crítica sobre si e sobre o contexto educacional. Assim, a escrita de si torna-se uma ferramenta metodológica, ética e política. Ao reconstituir memórias e experiências marcantes, os sujeitos não apenas se reconhecem, mas também se reinventam, o que contribui para a emancipação das consciências e para a tessitura de outros mundos possíveis, promovendo um ensino mais sensível e comprometido com a vida.

Ao defender a pesquisa narrativa autobiográfica como uma forma legítima de produzir conhecimento nas ciências humanas, Joelson Morais propõe um olhar mais atento às emoções, aos afetos e à sensibilidade que permeiam a existência humana. É, portanto, um convite para que educadores, pesquisadores e leitores em geral revisitem suas próprias histórias e, a partir delas, repensem seus papéis no mundo e na educação.

Para ler o artigo, acesse

MORAIS, J.S. Tecer com afeto, sensibilidade e emoção: a pesquisa autobiográfica em educação. Educação & Sociedade [online].2025, vol. 46, e285316 [viewed 31 July 2025]. https://doi.org/10.1590/ES.285316. Available from: https://www.scielo.br/j/es/a/LQCXPxcX3K6pYk9cHcJdskp/

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

OLIVEIRA, A.L.S. and OLIVEIRA, M.S. Escrita de si como caminho formativo e transformador [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2025 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2025/07/31/escrita-de-si-como-caminho-formativo-e-transformador/

 

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