Três linhas de formação não garantem laço na licenciatura em matemática

Daniella Thiemy Sada da Silva, professora de matemática, Prefeitura Municipal de Capão da Canoa, Capão da Canoa, RS, Brasil

O trabalho Formação 1+1+1 em cursos de licenciatura em matemática: uma nova tendência?, publicado no periódico Educação em Revista (vol. 41, 2025), consiste no diálogo entre pesquisas relacionadas a cursos de formação de professores de matemática no Brasil. O ponto de partida deste estudo é a pesquisa de mestrado de Daniella Thiemy Sada da Silva (2020), orientada por Maria Cecília Bueno Fischer, realizada de 2018 a 2020, que teve como tema a permanência e a não permanência de alunos no curso de Licenciatura em Matemática (LM) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

É importante analisar a formação de professores, pois ela influencia na atuação desses futuros profissionais da educação e, no caso estudado, na decisão pela permanência do graduando no curso de LM.

Este resultado também foi encontrado em outras pesquisas sobre cursos de licenciatura do Brasil, portanto, construímos o presente trabalho unindo os resultados de nossa pesquisa sobre um curso específico com estudos mais geograficamente abrangentes. A pesquisa de mestrado foi construída com base teórica e metodológica na obra Arqueologia do Saber, de Michel Foucault (2013), que conduziu no estudo das falas de alunos e ex-alunos que participaram da pesquisa por meio de questionário e entrevista. Tínhamos como preocupação estudar as falas, os padrões, as repetições e as condições em que aconteciam, além daquilo que diziam. A partir disso, foram identificadas três linhas de formação compondo o curso de LM da UFRGS, as quais denominamos formação 1+1+1: formação teórica em matemática, formação teórica em educação/educação matemática e formação prática.

Imagem: Element5 Digital via Unsplash

Um dos resultados deste estudo foi que neste curso a formação promovida aos futuros professores se constituía de três linhas de formação independentes, que não se integravam e que promoviam ideias (enunciados) que poderiam até mesmo se excluir.

A formação teórica em matemática remete à dificuldade ou necessidade de dedicação extrema para a aprendizagem de matemática e centraliza esse processo no professor e nos conteúdos em sala de aula. A formação teórica em educação/educação matemática sendo capaz de promover, teoricamente, a ideia do professor-pesquisador-inovador, mas que também é passível de ter seu referencial teórico questionado. Essas duas formações teóricas desvinculam teoria e prática docente dentro do curso. Enquanto a formação prática aparece como aquela que prepara o licenciando para a profissão.

A “formação 3+1” (MOREIRA, 2012), outrora entendida como o modelo de formato dos cursos de licenciatura, que correspondia a três anos iniciais de formação na área em que o futuro docente se propunha a lecionar (matemática, por exemplo) acrescido de um ano de formação pedagógica, ainda é utilizada como parâmetro para o estudo da formação oferecida nos cursos de licenciatura.

Ao estudar Projetos Pedagógicos de Curso de Licenciatura em Matemática de instituições públicas de todo Brasil, Zaidan e outros (2021) também expuseram a constatação da existência de três linhas de formação em cursos de LM e fizeram comparações com o antigo modelo “3+1”. Apesar da distinção com relação à distribuição da carga horária dos cursos de licenciatura, o aspecto da não promoção das mesmas ideias e nem da integração entre as distintas formações propostas se mantém, o que consiste em um desafio, especialmente, para a organização curricular e a atuação docente do ensino superior.

Para ler o artigo, acesse

SILVA, D.T.S. and FISCHER, M.C.B. Formação 1+1+1 em cursos de licenciatura em matemática: uma nova tendência? Educação em Revista [online]. 2025, vol. 41, e45380 [viewed 01 September 2025]. https://doi.org/10.1590/0102-469845380. Available from: https://www.scielo.br/j/edur/a/TTMjfZnDdT4fHVndDqSQzKM

Referências

FOUCAULT, M. Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013.

MOREIRA, P.C. 3+1 e suas (In)Variantes: reflexões sobre as possibilidades de uma nova estrutura curricular na Licenciatura em Matemática. Bolema [online]. 2012, vol. 26, no. 44, pp. 1137-1150 [viewed 01 September 2025]. https://doi.org/10.1590/S0103-636X2012000400003. Available from: https://www.scielo.br/j/bolema/a/r4yWF5GFmrggBdzvLxdyk4Q

SILVA, D.T.S. Um Estudo Sobre Enunciados Que Permeiam a Permanência e a Não Permanência de Alunos no Curso de Licenciatura em Matemática da UFRGS. Porto Alegre: Instituto de Matemática e Estatística da UFRGS, 2020. Available from: http://hdl.handle.net/10183/217477

ZAIDAN, S., et al. (orgs.) A Licenciatura em matemática no Brasil em 2019: análises dos projetos dos cursos que se adequaram à Resolução CNE/CP 02/2015. Brasília, DF: SBEM Nacional, 2021.

SILVA, Daniella T.S. Um Estudo Sobre Enunciados Que Permeiam a Permanência e a Não Permanência de Alunos no Curso de Licenciatura em Matemática da UFRGS. 2020. 225f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Matemática) – Instituto de Matemática e Estatística, UFRGS, Rio Grande do Sul, 2020. Disponível em: http://hdl.handle.net/10183/217477. Acesso em: 21 jun. 2021.

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