Miriã Rodrigues Garcia, Doutoranda em Economia Aplicada, Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas, RS, Brasil.
Eduardo Tillmann, Professor de Economia, Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, RS, Brasil.
O artigo Influência da composição familiar no desempenho acadêmico, publicado na Revista Brasileira de Estudos de População (RBEPOP) (vol. 42, 2025), investiga como a estrutura familiar impacta o desempenho escolar. De forma objetiva, o estudo mostra que viver com ambos os pais está associado a melhores resultados em Matemática e Português no 5º ano do fundamental.
A escola é muitas vezes vista como a principal responsável pelo aprendizado, mas as pesquisas mostram que a família também tem grande peso nesse processo. Além de prover recursos materiais, o ambiente familiar oferece estímulos, acompanhamento e apoio emocional que são cruciais para o desenvolvimento escolar.
No Brasil, as transformações sociais das últimas décadas mudaram profundamente a estrutura familiar. O crescimento de lares monoparentais — em especial chefiados por mães — levanta a preocupação de que essas mudanças possam impactar o desempenho das crianças na escola, com efeitos de longo prazo sobre desigualdades sociais.
Para investigar essa questão, utilizamos os dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2019, analisando o desempenho de estudantes do 5º ano do ensino fundamental em escolas públicas de todo o país. Por meio de técnicas estatísticas rigorosas, conseguimos comparar alunos de famílias com e sem a presença de ambos os pais em condições semelhantes de renda, escolaridade dos responsáveis e características escolares.

Imagem: Gerada pelo ChatGPT
Os resultados são claros: viver com ambos os pais está associado a notas, em média, 0,15 desvio-padrão mais altas em Matemática e Língua Portuguesa. Esse efeito positivo se mantém consistente em diversos contextos, seja entre alunos que recebem incentivo familiar para estudar ou entre aqueles que já possuem o hábito de leitura.
No entanto, uma exceção foi identificada: entre os estudantes que também residem com seus avós, a vantagem de desempenho associada a lares biparentais desaparece. Isso sugere que, em arranjos familiares maiores e multigeracionais, a “diluição de recursos” (como tempo, atenção e dinheiro) pode se tornar um fator relevante, um fenômeno já documentado na literatura sobre o tema.
As implicações sociais desse resultado são profundas. Se a estrutura familiar influencia a aprendizagem, políticas públicas devem ir além da escola, oferecendo suporte adicional a crianças em famílias monoparentais — por exemplo, programas de reforço escolar, bolsas de estudo ou serviços de acolhimento.
Em um país marcado por desigualdades, compreender o papel da família na formação educacional é essencial para pensar estratégias que ampliem oportunidades. Apoiar os estudantes em situação de vulnerabilidade é investir não apenas em seu futuro, mas também em uma sociedade mais justa.
Nosso estudo, portanto, reforça uma mensagem clara: a escola importa, mas a família também. Reconhecer essa dimensão é fundamental para reduzir desigualdades educacionais e promover o pleno desenvolvimento das crianças brasileiras.
Para ler o artigo, acesse
GARCIA, M.R. and TILLMANN, E. Influence of family composition on academic performance. Revista Brasileira de Estudos de População [online]. 2025, vol. 42, e0300 [viewed 29 October 2025]. https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0300. Available from: https://www.scielo.br/j/rbepop/a/8FckDDgNNbWj8MFtfhDyCqg/
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