Os pátios internos e a mitigação das ilhas de calor em cidades de clima tropical

Kátia Oliveira, doutoranda, Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana (PPGTU), Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), membro do corpo editorial da urbe – Revista Brasileira de Gestão Urbana.

No artigo Trocas radiantes e conforto térmico em pátios internos de clima tropical, publicado pelo urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (vol. 17, 2025), os autores têm como objetivo comparar o desempenho térmico de dois pátios localizados em cidade de clima tropical, analisando sua eficiência no resfriamento e aquecimento e os efeitos resultantes sobre a sensação térmica em diferentes condições ambientais. A pesquisa foi conduzida na cidade de Cuiabá (MT) e utilizou como objetos de estudo os pátios de duas edificações históricas: o Palácio da Instrução (1914) e o Arsenal de Guerra (1831).

O estudo destaca que o pátio, espaço de origem vernacular, desempenha a função de modulador microclimático por meio da regulação das trocas térmicas com os elementos do clima e os edifícios adjacentes, controlando a ventilação e insolação incidentes (Markus, 2016). A configuração espacial interna e a proporção dos volumes que o compõem são fatores determinantes nesse processo (Rivera-Gómez, et al., 2019), conferindo-lhe elevado potencial de promover o resfriamento passivo e de atuar como estratégia de adaptação climática urbana.

Diante do agravamento das mudanças climáticas e do aumento da frequência e intensidade das ondas de calor no país, o estudo permite aprofundar a compreensão sobre o funcionamento do pátio como estratégia bioclimática e estimular a sua adoção em diferentes regiões brasileiras de clima semelhante, sobretudo como alternativa capaz de promover o resfriamento térmico em relação aos espaços a céu aberto.

Metodologicamente, o estudo foi realizado em três etapas que envolveram a escolha e descrição dos locais de estudo, o monitoramento microclimático e a quantificação dos impactos na sensação térmica proporcionados pelos pátios. A pesquisa realizou registro de dados meteorológicos dos dois pátios por meio de estação HOBO instalada na cobertura do edifício Arsenal de Guerra, equipada com sensores de radiação solar, de temperatura do ar, de umidade relativa do ar, temperatura do globo e velocidade do ar. A escolha dos pontos de medição em cada um dos pátios considerou a trajetória solar, o padrão de sombreamento e a presença de vegetação.

Imagem: Adaptado de Google Earth.

Também foram considerados dois indicadores para avaliar o desempenho dos pátios: índices de sombreamento e de insolação (Akbari, et al., 2021). Para quantificar as áreas sombreadas e expostas à radiação solar, foi utilizado o software Autodesk Ecotect Analysis (Autodesk, 2016), que possibilitou a modelagem simplificada dos edifícios.

De forma a obterem uma estimativa teórica do comportamento térmico obtido com a envoltória dos pátios, os pesquisadores contaram com a ferramenta CBE Clima Tool (Betti, et al., 2023), que permite a análise climática e de conforto externo segundo o Índice Climático Térmico Universal (UTCI) a partir de arquivo climático. A escolha do UTCI deve-se ao fato deste ser amplamente usado no Brasil em pesquisas de conforto térmico em espaços abertos (Minella, et al., 2011; Krüger & Drach, 2016; Borges, et al., 2020).

As conclusões do estudo apontam que o desempenho térmico dos pátios internos em climas tropicais está diretamente relacionado à sua morfologia. Pátios mais profundos, com maior proporção entre altura e largura, apresentam melhor desempenho durante o dia, ao oferecerem sombreamento e redução do estresse térmico por calor, embora tendam a reter calor à noite. Já os pátios mais abertos favorecem o uso noturno e vespertino, proporcionando arrefecimento aos ambientes adjacentes, mas são menos eficientes sob alta insolação diurna.

Em termos de mitigação das ilhas de calor urbanas, os pátios profundos se mostram eficazes como barreiras à radiação solar direta, podendo atuar como espaços de lazer ou refúgio em períodos de calor extremo. O estudo recomenda o aprofundamento das pesquisas sobre o papel dos pátios como agentes de resfriamento urbano, especialmente por meio de simulações computacionais, e sugere o uso de estratégias complementares, como vegetação em paredes e coberturas ou sistemas de aspersão de água, para potencializar sua eficiência térmica em regiões quentes e secas.

Para ler o artigo, acesse

CALLEJAS, I.J.A., DURANTE, L.C. and KRÜGER, E.L. Trocas radiantes e conforto térmico em pátios internos de clima tropical. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana [online]. 2025, vol. 17, e20240060 [viewed 26 November 2025]. https://doi.org/10.1590/2175-3369.017.e20240060. Available from: https://www.scielo.br/j/urbe/a/tRsMfpgHZhQtpFBDJ6swN4z/

Referências

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Autodesk. Ecotect Analysis: Sustainable Building Design Software. 2016.

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