Dinis Fernando da Costa, vice-decano para assuntos científicos e pós-graduação, Universidade do Namibe, Moçâmedes, Namibe, Angola.
A pesquisa O império colonial português e a inculcação de estereótipos desde a tenra idade escolar, publicado pelo periódico Educação em Revista (vol. 41, 2025), faz uma análise de manuais escolares do ensino primário colonial no intuito de averiguar as ideologias inerentes nos mesmos em termos de representação da etnia negra comparado com a branca. O estudo foi realizado pelo pesquisador Dinis Fernando da Costa.
O artigo surgiu em função de ter-se notado que livros e políticas educacionais contemporâneas, isto é, do período pós-colonial ainda são sustentados por uma aura de celebração de idealismo eurocêntrico português. Podemos com isso dizer que este trabalho é um imperativo para que os colonizados reflitam profundamente sobre os epítomes do regime colonial, para poder encontrar respostas para o sistema educacional atual, que permanece sujeito aos legados do currículo ocidental e de seu conhecimento cultural.
O estudo que foi realizado pelo autor é bibliográfico e emprega Discourse –Historical Approach (DHA) (Abordagem Histórico-Discursiva) (Wodak, 2009), para analisar os dados de textos e imagens que contém em dois manuais escolares utilizados nas terras ultramarinas, Angola e Guiné-Bissau. Embora ainda em número irrisório, vários académicos abordaram sobre a temática em questão, como Mangan (1993), Lilly (1993), Felgueiras (2023), Coolahan (1993), para mencionar alguns.

Imagem: Via Freepik
Os resultados apontam que os povos indígenas angolanos e guineenses eram considerados seres humanos, em essência, aptos apenas para o trabalho manual, como patente nos livros analisados, subestimando os valores culturais desse grupo, representado como inexperiente e, portanto, indigno, em certa medida, de realizar os chamados “trabalhos intelectuais”.
Além dos sentimentos humilhantes transmitidos aos negros, esses estereótipos negativos também contribuem para a formação de certas perspectivas e imaginações de que, na verdade, os negros eram inferiores, enquanto os brancos eram legitimamente superiores e portanto tinham o direito de escravizá-los. Isto, do ponto de vista da ciência expõe a crueldade do legado (eurocentrismo) colonial que classificava as pessoas baseando-se nos aspetos étnicos e não na competência intelectual de cada ser.
Estudos com objetivos similares devem, ainda, ser realizados para desvendar, em outras áreas do saber, as ideologias coloniais de modo a fazer-se uma reflexão ampla e combater o neocolonialismo de um modo geral com particular destaque na produção de manuais escolares.
Para ler o artigo, acesse
COSTA, D.F. O império colonial português e a inculcação de estereótipos desde a tenra idade escolar. Educação em Revista [online]. 2025, vol. 41, e54585 [viewed 02 November 2025]. https://doi.org/10.1590/0102-469854585. Available from: https://www.scielo.br/j/edur/a/HHQn9mnFkmfxSqMx5qgzngP/
Referências
COOLAHAN, J. The Imperial Curriculum: Racial Images and Education. The Irish and others in Irish nineteenth-century textbooks. Oxfordshire: Routledge, 1993, p.54-63.
FELGUEIRAS, M.L. Repercussions of the Empire in the Portuguese education (1906 – 1951). Breaking new grounds in a little-explored field. Pro-posições [online]. 2023, vol. 34, pp. 1-27. [viewed 02 December 2025] https://doi.org/10.1590/1980-6248-2021-0063EN . Available from: https://www.scielo.br/j/pp/a/pcCM67BP3m7Qt3TjxMgTBvM/
LILLY, T. The Imperial Curriculum: Racial Images and Education. The black African in Southern Africa: Images in British school geography books. Oxfordshire: Routledge, 1993, p.40-53.
MANGAN J.A. The Imperial Curriculum: Racial Images and Education. Images for confident control: Stereotypes in imperial discourse. Oxfordshire: Routledge, 1993, p.6-22.
WODAK, R. Discourse, of course: An overview of research in discourse studies. The semiotics of racism: A critical discourse-historical analysis. Amsterdã: John Benjamins Publishing Company, 2009, p.311-326.
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Universidade Federal do Amazonas
Sobre o author
Dinis Fernando da Costa, é Bacharel em Língua Portuguesa e Linguística Inglesa pela The University of South Africa (Unisa) e Doutorado em Linguística Inglesa pela University of the Western Cape (UWC) ambas em África do Sul. É Professor Auxiliar pela Universidade do Namibe. Seus interesses de pesquisa firmam-se nas áreas de Linguística, Onomástica/toponimia, Análise Crítica de Discurso, Ensino de Língua Inglesa como Língua Estrangeira e Comunicação e Interculturalidade.
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