Muitos mundos, muitas teorias? Explorando a diversidade de vozes e de visões sobre a área de Relações Internacionais

Cristina Inoue, professora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, é editora associada da Revista Brasileira de Política Internacional, Brasília, DF, Brasil

Antônio Carlos Lessa, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, é editor-chefe da Revista Brasileira de Política Internacional, Brasília, DF, Brasil

rbpiA ideia de organizar uma Edição Especial da Revista Brasileira de Política Internacional – RBPI, “Muitos mundos, muitas teorias?”,  surgiu em abril de 2014,  por ocasião da celebração dos 40 anos do primeiro programa de graduação em Relações Internacionais do Brasil, criado na Universidade de Brasília (UnB).  A conferência de abertura, proferida pelo Professor da Universidade de Oxford, Andrew Hurrell, apontou para o processo de pluralização do campo das Relações Internacionais (RI). Foi como uma semente caindo em solo fértil, porque essa questão já vinha sendo discutida entre professores e alunos do Instituto de Relações Internacionais, alimentada por desenvolvimentos recentes nas RI, que trazem à tona a diversidade de vozes e visões do campo.

Uma das consequências dessa abertura para a diversidade e o para pensamento crítico é que, ao invés de pensarem em mundo e poucas teorias, alguns estudiosos das Relações Internacionais têm questionado se o campo reflete as preocupações existentes fora dos Estados Unidos e do “Ocidente” em geral. A crise global de refugiados, a mudança do clima, os desafios para a segurança global e regional interpostos por grupos como o Boko Haram e o ISIS, a perda de terras coletivas e sítios culturais por povos indígenas, a apropriação de terras, a triste realidade das crianças soldados, a perda de biodiversidade, os abusos de direitos humanos, a colonização bio-cultural, as crises econômicas e políticas ao redor do mundo, a transição para o Antropoceno – tudo isso e muito nos sugerem que faltam às Relações Internacionais conceitos e teorias para encarar esses desafios de forma criativa. Muitas vozes têm feito o chamado para uma reconfiguração do campo das RI em termos epistemológicos, ontológicos, teóricos e metodológicos.

O Seminário “Many Worlds, Many Theories?”, realizado em novembro de 2014, no Instituto de Relações Internacionais da UnB, com a presença de Arlene Tickner e Nicholas Onuf, forneceu as bases para o lançamento da chamada dos artigos para essa Edição Especial. Nesta chamada de artigos, foram propostas diversas questões: O que teorias significam na América do Sul e outras regiões? Existem teorias das relações internacionais Latino Americanas? A metateoria está morta? Há diferentes formas de se pensar política externa teoricamente? É possível pensar além do estado-centrismo? Além disso, temas inovadores foram propostos: teoria e os BRICS; o Sul global e teorias pós-coloniais; governança, governamentalidade e teoria; ética e relativismo; teorias feministas no Sul; universalismo e pluriverso. O objetivo geral era o de contribuir para a construção de um campo de RI mais global e plural e trazer a tona visões sobre/de RI a partir da América do Sul e para além da região.

Essas questões não foram todas respondidas. Entendemos que se trata de um processo em andamento e “Many Worlds, Many Theories” é uma obra em construção. Trata-se de um passo importante, mas modesto na direção de criar leituras alternativas do/sobre o internacional. Os artigos dessa Edição Especial, em linhas gerais, contribuem para esse debate adicionando autorreflexão crítica sobre o campo das RI, apresentando reflexões que examinam a sua evolução em locais geo-culturais distintos e buscando fugir dos temas e rótulos convencionais do campo.

A equipe da Revista Brasileira de Política Internacional faz um convite aberto para o questionamento contínuo dos nossos pressupostos sobre o conhecimento e o mundo. Talvez o campo das Relações Internacionais possa ser vislumbrado como um espaço aberto para tentar entender as realidades globais cada vez mais complexas, para cultivar uma atitude crítica permanente e para criar espaço para muitos mundos e muitas teorias.

Esta não foi a primeira edição especial de RBPI que recebeu já na submissão exclusivamente contribuições em língua inglesa. Na verdade, esse foi o padrão adotado nas edições especiais produzidas em anos anteriores, também produzidas com editores convidados. Entretanto, Many Worlds, Many Theories? mas foi a primeira edição construída integral e exclusivamente com o suporte de peer review internacional. Isso significa que a totalidade dos artigos que foram incluídos no processo de análise editorial foi escrutinada e arbitrada exclusivamente por pesquisadores e professores de instituições não brasileiras, com o que se sublinha o grande esforço de internacionalização que está sendo empreendido ao longo dos últimos anos. Temos uma dívida impagável com os colegas que generosamente nos apoiaram nesse processo.

Esta edição especial teve como editoras convidadas as Professoras Cristina Inoue (Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília) e Arlene Beth Tickner (Universidad del Rosário, Colômbia). A Revista se orgulha desta parceria, cujos frutos extraordinários apresentamos nesta edição.

Para ler os artigos, acesse

Rev. bras. polít. int. vol.59 no.2 Brasília  2016

Link externo

Revista Brasileira de Política Internacional – RBPI: www.scielo.br/rbpi

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

INOUE, C. and LESSA, A. C. Muitos mundos, muitas teorias? Explorando a diversidade de vozes e de visões sobre a área de Relações Internacionais [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2017 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2017/02/15/muitos-mundos-muitas-teorias-explorando-a-diversidade-de-vozes-e-de-visoes-sobre-a-area-de-relacoes-internacionais/

 

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