Fabiana de Amorim Marcello, Professora, editora associada, Porto Alegre, RS, Brasil
As metodologias de análise que empregamos no campo das artes cênicas estão em notória defasagem em relação às práticas decoloniais. De certa forma, isso se deve ao fato de que os métodos empregados em artes cênicas são oriundos, de modo geral e em grande escala, das tradições europeias das disciplinas clássicas há muito tempo hegemônicas nas artes e nas ciências humanas. Assim, a maior parte das metodologias com as quais trabalhamos são oriundas da História, da Antropologia, da Sociologia, da Psicologia, da Psicanálise, da Filosofia e das Letras. Não obstante a importância de tais disciplinas para a confluência de saberes interdisciplinares, é preciso dizer que, historicamente, elas foram erigidas sob a marca do colonialismo. Tais questões não estão ausentes mesmo no interior dos debates travados em cada uma delas.
Com efeito, suas práticas de pesquisa foram importadas para as artes cênicas fazendo-as, muitas vezes, reféns de métodos e práticas eurocêntricas. O contraste dessas metodologias com objetos de pesquisa “decoloniais” – como textos dramáticos, espetáculos, performances, práticas pedagógicas etc. – pode ser um entrave para a produção de conhecimentos epistemologicamente válidos nos embates decolonilistas.
Assim, uma das questões decisivas para uma pesquisa decolonial é saber de que forma podemos, na atualidade, propor alternativas metodológicas aos modelos de pesquisas com os quais já tão confortavelmente (e quase “naturalmente”) nos acostumamos a trabalhar (GÓMEZ; MIGNOLO, 2012). Daí a perguntarmo-nos: será que objetos com partes de uma perspectiva contra-hegemônica não precisam ser abordados por intermédio de metodologias igualmente contra-hegemônicas?
O trabalho da pesquisadora francesa Lîlâ Bisiaux, intitulado “Deslocamento epistêmico e estético do teatro decolonial”, publicado na Revista Brasileira Estudos da Presença (v. 8, n. 4), traz para o debate o cerne desta questão. No vídeo a seguir ela fala da sua pesquisa e das questões que tem travado com a história e a estética para repensar, por intermédio de abordagens decoloniais, a análise de obras teatrais.
Referência
GÓMEZ, P. P. M. and MIGNOLO, W. Estéticas decoloniales. Bogotá: Universidad Distrital Francisco José de Caldas, 2012.
Para ler o artigo, acesse
BISIAUX, L. Déplacement Épistémico-Esthétique du Théâtre Décolonial. Rev. Bras. Estud. Presença [online]. 2018, vol.8, n.4, pp.644-664. ISSN 2237-2660. [viewed 11 October 2018]. DOI: 10.1590/2237-266078793. Available from: http://ref.scielo.org/qghjbk
Link externo
Revista Brasileira de Estudos da Presença – RBEP: www.scielo.br/rbep
Sobre Fabiana de Amorim Marcello
Fabiana de Amorim Marcello é doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul onde é professora permanente do Programa de Pós-graduação em Educação. Desenvolve pesquisas e orienta teses e dissertações tendo como foco os conceitos de infância e/ou imagem, em seus múltiplos desdobramentos (cinema, artes visuais, mídia). É bolsista de produtividade do CNPq. E-mail: famarcello@gmail.com
Sobre Lîlâ Bisiaux
Lîlâ Bisiaux é doutoranda em Artes Cênicas, sob a direção de Emmanuelle Garnier, na Université Toulouse Jean Jaurès, na França. E-mail: lila.bisiaux@hotmail.fr
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