Estudos Organizacionais podem ajudar a repensar a questão policial no Brasil

Alan Fernandes, Pesquisador em Segurança Pública, Professor do Mestrado Profissional em Gestão Pública, Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getulio Vargas (FGV), São Paulo, SP, Brasil

Gustavo Matarazzo Rezende, Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Avaré, SP, Brasil

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O artigo Olhar dos Estudos Organizacionais para se pensar a reforma das organizações policiais no Brasil (ALCADIPANI et al., 2023), publicado no periódico Cadernos Gestão Pública e Cidadania (vol. 29, 2024), busca ampliar as discussões sobre reforma policial ao explorar como as perspectivas analíticas dos Estudos Organizacionais podem enriquecer a reflexão e impulsionar novas abordagens na atuação policial. Argumenta-se que essa lacuna tem um impacto significativo nos âmbitos acadêmico, político e institucional, afetando a maneira como governos, sociedade civil e forças policiais concebem e implementam modelos no Brasil.

Com essa preocupação, o texto está estruturado a partir de duas concepções, em um primeiro momento, coloca-se como um ensaio teórico, apresentando também uma revisão de literatura sobre como os principais temas ligados à reforma policial são tratados no campo dos Estudos Organizacionais, em especial na literatura estrangeira.

O principal problema que o texto pretende enfrentar repousa em um encapsulamento da discussão sobre reforma policial no Brasil. Esse encapsulamento é delineado, por um lado, por uma abordagem predominantemente crítica, que ressalta as tensões na interação das polícias com a sociedade. Por outro lado, há uma abordagem de natureza gerencialista, em grande parte promovida pelas próprias corporações policiais, que tende a se concentrar em aspectos burocráticos, sem uma perspectiva mais abrangente da relação entre as polícias e a sociedade.

Fotografia de uma pessoa com uma farda da polícia de costas para a câmera batendo continência para a bandeira do Brasil do um coqueiro ao fundo

Imagem: Imprensa AgruBan® de Pexels, disponível no Canva.

Para abordar essas questões, os autores identificam quatro categorias cruciais para a reforma policial. Elabora-se uma revisão bibliográfica que pode ser organizada nos seguintes temas: tecnologia, cultura e comportamento, uso da força e grupos minoritários. Tal revisão centrou-se em periódicos da área dos Estudos Organizacionais, incluindo Human Resource Management Journal, Journal of Management Studies, Organization Studies, Organizational Research Methods, Public Administration Review e Organizational Science. Nela, os pesquisadores oferecem uma perspectiva distinta da produção científica nacional sobre o tema, pois consideram os processos que envolvem as polícias a partir de suas configurações internas, sem desconsiderar os problemas resultantes disso.

Posteriormente, o texto se dedica a discutir como as reformas das organizações policiais podem alcançar novos padrões de discussão e proposições, caso contemplem novos paradigmas analíticos. Isso porque, para os autores, haveria, no Brasil, um “certo aprisionamento da discussão sobre polícia no entendimento de que são dispositivos da violência estatal, nos termos de Louis Althusser (1985), com menor foco em aspectos sobre temas que percorrem os Estudos Organizacionais, como exemplo, mudanças tecnológicas e impactos organizacionais, cultura, identidade e poder (ALCADIPANI et al., 2023, p. 8)”.

A falta dessas discussões alimenta as divisões existentes no campo, intensificando discursos críticos em relação ao trabalho policial. Ao mesmo tempo, essa lacuna prejudica a apreciação das inovações e novas abordagens desenvolvidas pelas próprias corporações policiais, que, por sua vez, muitas vezes carecem de uma visão mais ampla e inclusiva sobre a dinâmica da relação entre a polícia e a sociedade.

O texto argumenta que, devido a essa disputa, as discussões sobre polícia no Brasil ficam estagnadas, resultando em uma limitação na consideração de outras abordagens para pensar o problema. Isso se traduz em uma falta de incorporação de temas abordados nos Estudos Organizacionais, os quais têm implicações significativas nos debates em torno das reformas policiais.

No desfecho, o artigo sugere um conjunto de abordagens que atribuem um papel mais central às dinâmicas das organizações policiais. Essas abordagens podem ser complementares às discussões estabelecidas nas Ciências Sociais brasileiras, especialmente na Ciência Política. Para os autores, “não se trata de opor os Estudos Organizacionais e a Administração às Ciências Sociais, mas sim de buscar afinidades para construir uma melhor compreensão de como realizar as tão necessárias reformas das polícias” (ALCADIPANI et al., 2023, p. 10). Assim, “a chave modifica-se para uma tentativa de se compreenderem os problemas e tentar resolvê-los”.

No vídeo a seguir, Alan Fernandes apresenta os principais pontos da pesquisa:

Para ler o artigo, acesse

ALCADIPANI, R., et al. Olhar dos Estudos Organizacionais para se pensar a reforma das organizações policiais no Brasil. Cadernos de Gestão Pública e Cidadania [online]. 2023, vol. 29, e88374 [viewed 11 December 2024]. https://doi.org/10.12660/cgpc.v29.88374. Available from: https://www.scielo.br/j/cgpc/a/CNNrRQHVgQxWpyzbRQzzcrc/

Referências

ALTHUSSER, L. Aparelhos Ideológicos do Estado. 2. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985.

Links externos

Cadernos Gestão Pública e Cidadania – CGPC

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

FERNANDES, A. and REZENDE, G.M. Estudos Organizacionais podem ajudar a repensar a questão policial no Brasil [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/12/11/estudos-organizacionais-podem-ajudar-a-repensar-a-questao-policial-no-brasil/

 

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