Izilda Johanson, Professora de Filosofia Contemporânea, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Guarulhos, SP, Brasil
Em Outro sem eu? Por uma filosofia não identitária, feminista, global e pluriversal Izilda Johanson reflete sobre temas, problemas e discursos voltados à questão da descolonização do pensamento, logo, à produção de conhecimentos autenticamente situados, reorientados à pluralidade de saberes e a perspectivas epistêmicas diversas, distintas, dissonantes até, mas potencialmente comunicantes, integradas entre si.
Na medida em que, de modo geral, os feminismos se posicionam criticamente contra a validação de conhecimentos pretensamente universais e universalizantes que se apoiam na crença da possibilidade de neutralidade dos sujeitos, a perspectiva feminista na qual, em filosofia, se situa a autora, será aquela a partir da qual se torna possível proceder, num mesmo movimento, ao rompimento com o pensamento identitário-solipsista (ou solipsista-identitário) – sempre a serviço de uma foucaultianamente chamada vontade de verdade, particularmente em filosofia – e à inclinação em direção à produção de saberes localizados – sabres outros – compatíveis com a vontade de composição de redes globais pluriversais de conhecimento.
Desta perspectiva crítica, e acompanhada da agudeza filosófica de autoras como Michèle Le Doeuff, Denise Ferreira da Silva, Sueli Carneiro e Simone de Beauvoir, Izilda Johanson investiga aquilo que considera ser o problema central concernente à subjetividade moderna: a constituição do Eu como autoconsciência (interior e temporal) autodeterminante que, no entanto, depende, necessariamente, da figura (externa) de Outros para afirmar-se como tal.
A reflexão se dará, neste sentido, em torno do modo como, ou a que custo em termos concretos, isto é, de práticas de violências, alienações e de subalternizações de corpos em escala global, se estabelece, a partir da relação subjetividade-alteridade, a tese da transparência ou da neutralidade, logo, a também pretendida universalidade do modelar e o paradigmático eu sujeito, respectivamente em Descartes, Kant e Hegel, indiscutivelmente pilares da filosofia moderna europeia Norte Global.
Tendo em vista a contribuição produtiva e consequente ao debate candente e, de fato, necessário e urgente sobre o sentindo e a natureza do que hoje, nos tempos atuais, costuma-se chamar de identidade e de identitário, estarão em causa, enfim, a questão de o que significa ser identitário e, principalmente do ponto de vista do conhecimento que, de um modo ou de outro, estrutura até hoje o nosso modo de pensar, a questão de quem é identitário Diferente do que é mais comumente considerado, se defenderá que o identitário não precisamente é o “outro” – aquele que não apenas difere do “eu universal”, mas se opõe a ele –, mas o contrário. É aquele justamente que conhece, que pensa tudo ou o que quer que seja a partir da oposição entre um “eu” que se julga universal e a sua negação, um “não eu” ou simplesmente o “outro universal”.
Valerá certamente a pena acompanhar essa empreitada crítica filosófica voltada a essas valiosas questões constituídas no campo do conhecimento e, por isso mesmo, investidas de caráter eminentemente político.
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JOHANSON, I. Outro sem eu? Por uma filosofia não identitária, feminista, global e pluriversal. Trans/Form/Ação [online]. 2024, vol. 47, no. 2, e02400288 [viewed 23 January 2025]. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2024.v47.n2.e02400288. Available from: https://www.scielo.br/j/trans/a/v5BLwGMTkSSZpQtP4DtRTmv/
Referências
BEAUVOIR, S. Moral da ambiguidade seguido de Pirro e Cinéias. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970.
CARNEIRO, S. Dispositivo de Racialidade – A construção do outro como não ser como fundamento do ser. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.
LE DOEUFF, M. Le sexe du savoir. Paris: Flammmarion, 1998.
SILVA, D.F. Homus Modernus. Rio de Janeiro: Cobogó, 2022.
SILVA, D.F. A Dívida Impagável. São Paulo: Edição Oficina de Imaginação Política e Living Commons, 2019.
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