A continuidade entre a filosofia negativa e positiva de Schelling

Humberto Schubert Coelho, Professor, Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Juiz de Fora, MG, Brasil.

Logo do periódico TransformaçãoOs artigos de Luiz Filipe da Silva Oliveira frequentemente têm revelado mais a postura do filósofo do que a do intérprete. É o caso de A unidade sistemática entre filosofia negativa e positiva em Schelling, publicado pelo periódico Trans/Form/Ação (vol. 48, no. 4, 2025), texto no qual o professor Oliveira não se furta a tomar uma posição quanto à falta de lugar do projeto schellinguiano tardio.

No entanto, como de costume, ele o faz com erudição e serenidade, características de uma abordagem contemporânea: distanciada, técnica e relativamente desinteressada. Afinal, filosofar tem se tornado perigoso, não apenas diante das ondas antifilosóficas, mas também frente ao tecnicismo e ao burocratismo de uma pesquisa cada vez mais institucionalizada. Para nossa sorte, o bálsamo contra esse mal não é outro senão a própria e legítima filosofia que pensadores como Schelling não nos permitem esquecer.

O desafio imposto a este e a outros artigos sobre a filosofia positiva de Schelling é o de romper a casca bem consolidada das barreiras que, frequentemente, dificultam seu entendimento. Essas resistências podem ter diferentes origens: algumas são pseudocéticas, outras fideístas, partidárias (talvez hegelianas?), mas, na maioria dos casos, resultam de leituras apressadas e excessivamente comprometidas. Todas elas, porém, tendem a rejeitar a afirmação, a exposição e a revelação do espírito sob seu verdadeiro nome: Deus.

Oliveira, ao apresentar a filosofia negativa, mantém uma abordagem “ortodoxa”. Ele a descreve, sobretudo em seus momentos finais e em seus desdobramentos, como a filosofia da objetividade da autoexposição de Deus. Essa autoexposição ocorre dentro dos limites e das potencialidades da razão, que, por sua vez, busca expressá-la. No entanto, o autor avança além da exposição tradicional ao sugerir que a exploração do absoluto pela razão atinge um esgotamento tão profundo que a necessidade de uma filosofia positiva já estaria insinuada.

A filosofia positiva, ao emergir, nos lembra que as tentativas de a substituir por concepções alternativas — como a ideia de Deus enquanto mera construção racional — jamais foram realmente eficazes. No máximo, essas tentativas serviram para estruturar uma visão imanente de Deus, limitada a esquemas didáticos e simbólicos sobre como o espírito poderia fundar a si mesmo.

No entanto, dentro da filosofia positiva, essa ideia se revela ilegítima ou, no mínimo, pouco frutífera e sem relevância, pois sempre coube ao espírito absoluto a tarefa de se auto revelar. O homem, por sua vez, permanece como um capítulo dentro dessa infinitude.

Essa autorrevelação precisou esgotar a identificação entre ser e saber, para que o tensionamento máximo da razão conduzisse a uma agonia cultural, a partir da qual, finalmente, a perene aparição tácita do espírito pudesse voltar a falar aos filósofos como falou aos antigos: como aquele espírito que independe do homem, que fala de si mesmo através do homem e da história, acerca do qual — ou de quem — nos cabe silenciar nossa pretensão de saber para dar lugar àquele que é.

Para ler o artigo, acesse

OLIVEIRA, L.F.S. A unidade sistemática entre filosofia negativa e positiva em Schelling. Trans/Form/Ação [online]. 2025, vol. 48, no. 4 [viewed 19 May 2025]. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2025.v48.n4.e025059. Available from: https://www.scielo.br/j/trans/a/HXGnbQcM6Kk9JjZ5kPVDV9h

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

COELHO, H.S. A continuidade entre a filosofia negativa e positiva de Schelling [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2025 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2025/05/19/a-continuidade-entre-a-filosofia-negativa-e-positiva-de-schelling/

 

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