José Alcides Figueiredo Santos, Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Juiz de Fora, MG, Brasil.
O sociólogo José Alcides Figueiredo Santos investiga as relações e as interações entre classe social e a distribuição da saúde no Brasil usando dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013 e modelos estatísticos. Parte da orientação de que classe social está associada no mundo do trabalho e em outros âmbitos da vida social aos fatores materiais, ambientais, comportamentais e psicossociais que possuem implicações para a saúde. O artigo “Desigualdades e interações de classe social na saúde no Brasil”, publicado no periódico Dados – Revista de Ciências Sociais (vol. 63, no. 1), mostra que a estrutura social hierarquiza claramente a distribuição da saúde no Brasil. Capital, conhecimento perito e autoridade destacam-se como fontes de vantagens de saúde. As maiores desvantagens de saúde estão associadas às posições de classe destituídas de recursos de valor.
A análise temporal usando indicadores de educação e renda confirma uma piora de saúde para todos os grupos no período de 2003 a 2013. Na comparação com o grupo mais privilegiado, que teve na maioria dos casos um pior desempenho proporcional, ocorreu na década certa queda da desigualdade relativa, porém um aumento da desigualdade absoluta entre os níveis de saúde dos grupos. Foi investigada a associação entre classe social e autoavaliação da saúde e qual a influência nesta relação de um conjunto relevante de fatores de risco e comprometimentos de saúde. Constatou-se que as duas variáveis que formam a relação focal no estudo da desigualdade de saúde estariam ligadas por múltiplos e distintos aspectos que transcendem os efeitos dos sete fatores de riscos e agravos à saúde considerados.
A contribuição de um fator para a saúde deve levar em conta tanto os seus efeitos diretos quanto a maneira como ele interage ou altera os efeitos de outros fatores na saúde. Classe social mostra-se relevante igualmente ao condicionar o modo e a intensidade com que outras variáveis influentes e condições existentes impactam no estado de saúde em termos absolutos e relativos. O estudo constatou que quanto melhores são as circunstâncias de classe e o estado pré-existente de saúde, tanto menores são os retornos de saúde promovidos por elevações de renda. No topo privilegiado já se está no “teto” factível de saúde boa, de modo que há menos espaço para ganhos adicionais no contexto dado. Por outro lado, quanto mais distantes do topo maiores são os ganhos das demais categorias. Isto significa que os aumentos de renda podem potencialmente gerar mais benefícios de saúde na base da estrutura social.
Foram consideradas as diferenças de retornos de saúde da escolaridade a depender da posição de classe. Constata-se que em transições educacionais representativas as melhoras educacionais geram alterações absolutas relativamente modestas na saúde no topo e na base da estrutura social. No topo social a probabilidade de ter saúde boa aumenta em 5,5 pontos percentuais quando se passa do ensino médio completo ao superior completo. Já no grupo destituído ir do ensino fundamental completo ao médio completo gera uma melhora de apenas 4,9 pontos percentuais na saúde boa. Os empregos destituídos parecem estabelecer limites às variações absolutas na saúde boa que podem ser produzidas por uma alteração educacional representativa.
Analisou-se, por fim, como a exposição dos grupos a doenças crônicas pode afetar diferenciadamente a saúde dos que sofrem destes agravos. No Gráfico procedente do artigo o denominado “Sul” equivale a Sul/Sudeste/Centro-Oeste e “Norte” a Norte/Nordeste. Além de ter uma situação pior de saúde, em todas as situações retratadas, o agrupamento destituído, adicionalmente, vê a sua saúde se deteriorar ainda mais em termos reais com a ocorrência de uma doença crônica (como revelam no Gráfico as diferentes distâncias entre as linhas). O estudo concluiu que nas posições de classe destituídas ocorre um processo mais pronunciado de deterioração absoluta do estado de saúde provocado pela presença de doença crônica.
Referências
SANTOS, J.A.F. Class divisions and health chances in Brazil. International Journal of Health Services [online], 2011, vol. 41, no. 4, pp. 691-709, e-ISSN: 1541-4469 [viewed 30 June 2020]. DOI: 10.2190/HS.41.4.e. Available from: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.2190/HS.41.4.e#articleCitationDownloadContainer
SANTOS, J.A.F. Classe Social, território e desigualdade de saúde no Brasil. Saúde soc. [online]. 2018, vol. 27, no. 2, pp. 556-572, ISSN: 1984-0470 [viewed 30 June 2020]. DOI: 10.1590/s0104-12902018170889. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902018000200556&lng=en&nrm=iso
Para ler o artigo, acesse
SANTOS, J.A.F. Desigualdades e interações de classe social na saúde no Brasil. Dados [online]. 2020, vol. 63, no. 1, e20180104. ISSN: 1678-4588 [viewed 30 June 2020]. DOI: 10.1590/001152582020203. Available from: http://ref.scielo.org/b37qgs
Links externos
Dados – Revista de Ciências Sociais – DADOS: www.scielo.br/dados
Página Institucional do Periódico: http://dados.iesp.uerj.br/
CV Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/5089887428145825
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