Eloisio Moulin de Souza, professor Associado da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Espírito Santo, Brasil
Liderança é considerada um tema relevante para os estudos organizacionais, fato que pode ser verificado pela existência de diversos periódicos acadêmicos dedicados exclusivamente ao tema. Contudo, apesar da proliferação de periódicos e várias publicações sobre o tema, a definição de liderança continua sendo concebida como sendo uma atividade masculina exercida por líderes individuais heroicos. Assim, o artigo “A ontologia pós-estruturalista sobre liderança: identidade e materialidade em evidência”, escrito por Eloisio Moulin de Souza, Universidade Federal do Espírito Santo/ Departamento de Administração, Vitória, Espírito Santo, Brasil, problematiza esta concepção de liderança com suas caraterísticas universais, individuais, masculinas e heroicas. Nesse sentido, liderança passa a ser concebida como um processo discursivo micro-político, portanto algo coletivo ao invés de um mero atributo ou característica presente na pessoa individual de um líder.
A motivação para o desenvolvimento do artigo é a verificação de uma falta de conexão entre o conceito mainstream de liderança com as demandas e caraterísticas contemporâneas da sociedade com suas demandas identitárias e relações sociais altamente complexas.
A maioria dos trabalhos sobre liderança ainda estão relacionados às abordagens de traços e carismática/transformacional, buscando evidenciar contos de heróis individuais e habilidades carismáticas e transacionais dos líderes que promovem a afetiva mudança organizacional. Em contraposição a esta visão ortodoxa de liderança, o artigo evidencia que liderança não está na mão de um indivíduo, concebendo liderança como um processo social multidirecional e mutuamente construído por múltiplos atores da organização, não tendo como ponto de partida os traços ou carisma de um líder. Desta forma, liderança é uma micro-política que organiza ações e responsabilidades coletivas e deve ser compreendida no contexto em que é analisada.
Portanto, poder e liderança não são propriedades dos líderes e nem são exercidos por meio de uma lógica unidirecional top-down, sendo necessário considerar em suas análises agência, resistência e autonomia dos demais membros organizacionais, ou seja, liderança é um fenômeno relacional e multidirecional que deve evidenciar as complexidades das relações de poder, resistência e conflito, rompendo com a fronteira dualística líder versus seguidor e afastando de suas análise a ideia de que existam indivíduos heroicos. Esta concepção se alinha aos valores ocidentais de democracia, tornando-se ainda mais relevante no contexto atual em que democracias estão em risco.
Para ler o artigo, acesse
DE SOUZA, E.M. A ontologia pós-estruturalista sobre liderança: identidade e materialidade em evidência. Cad. EBAPE.BR [online]. 2021, vol. 19, no.3, pp. 595-606 [viewed 19 October 2021]. https://doi.org/10.1590/1679-395120200121. Available from: http://ref.scielo.org/fqtpkj
Referências
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Links Externos
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