Anna Thallita de Araujo, Psicologia: Ciência e Profissão, Estagiária, Thayse Dantas, Analista técnica, Gerência Técnica do Conselho Federal de Psicologia, Brasília, DF, Brasil
Anna Karynne Melo, Adolfo Jesiel Siebra e Virginia Moreira apresentam o estudo teórico “Depressão em adolescentes: revisão da literatura e o lugar da pesquisa fenomenológica”, publicado no periódico Psicologia: Ciência e Profissão, edição 37.1 de 2017, do Conselho Federal de Psicologia. Com o intuito de saber sobre o que tem sido produzido na literatura nacional e internacional sobre Depressão em Adolescentes nos últimos 10 anos, os autores apresentam uma revisão sistemática de literatura com base em pesquisas feitas nos seguintes indexadores: SciELO, Portal de Periódicos Capes, BDTD, APA, Redalycs, ScienceDirect, Lillacs e Medline. Avaliaram textos de 2003 a 2012, em inglês, português e espanhol, com a temática da Depressão em Adolescentes.
Os autores encontraram 247 textos, mas foram adotados critérios de exclusão e, por isso, foram analisados quantitativa e qualitativamente 159. Destes, 58% são internacionais e 42% nacionais. Notaram que houve um aumento gradativo de publicação de artigos a partir do ano de 2003. Encontraram um aumento de 4 para 18 artigos em três anos. Os periódicos com maior quantidade de publicação foram: Journal of Affective Disorders (n=7), Journal of Abnormal Pshychology (n=6) e Ciência e Saúde Coletiva (n=5). Houve predominância de Relatos de Pesquisa (n=140), Revisões de Literatura (n=17) e estudos de caso (n=2).
Quanto aos dados qualitativos, foram separados por semelhanças de conteúdo e organizados em cinco grandes subtemas mais recorrentes: sintomas depressivos; comorbidades; fatores associados à variabilidade sintomatológica; eventos estressores e de risco e suicídio. Dentre os subtemas citados sobre os sintomas depressivos, os autores encontraram discrepância nosográfica e dificuldades de um consenso. Mesmo que no DSM IV não possua uma classificação específica, os sintomas de um episódio depressivo maior são os mesmos para adultos ou adolescentes (Bahls, 2002). Além disso, os autores também identificaram uma preocupação maior de identificação precoce da depressão nesse público. Cunha, Bazaid, Watanabe e Romano (2005) elencaram características distintas de acordo com cada faixa etária, a fim de obter um quadro mais específico, como dificuldades em lidar com sentimentos, solidão, inferioridade, queda no desempenho escolar, perda de interesse em atividades e abuso de álcool e drogas.
No que diz respeito ao subtema variabilidade sintomatológica e fatores que ocasionam a depressão, descreveram que esses fatores podem ter relação com idade, gênero (mais prevalente em meninas) e o meio em que estão inseridos. Observou-se que há uma relação entre patologia e cultura, devido a variações sociais, econômicas e culturais. Os eventos estressores e fatores de risco foram outro conteúdo encontrado e analisado, que recebem influência da maneira que o sujeito percebe a situação e como vai reagir sintomaticamente. Vulnerabilidade social, contexto familiar, comorbidades, suporte social e contexto social também fazem parte desses fatores. Um estudo realizado por Barros et al. (2006) feito com alunos de uma escola pública e de uma escola particular, mostrou que os alunos da escola pública evidenciaram aspectos de desfavorecimento social e econômico, enquanto estudantes da escola particular evidenciaram dimensões afetivas e psicológicas. A prevalência de depressão é maior em indivíduos de classes mais baixas, em razão de fatores como desemprego, privações da baixa renda, violência e alcoolismo. O contexto familiar também influencia no surgimento da depressão, como vínculo entre pais e filhos que pode influenciar tanto na formação da personalidade, como um agente de socialização.
A comorbidade que se mostrou mais prevalente foi a ansiedade. Também se destaca a agressividade quando os adolescentes sentem rejeição parental, assim como a associação entre depressão e uso de substancias psicoativas. O suicídio é a terceira maior causa de morte nesse público (WHO, 2014). Os fatores encontrados na ideação suicida são a falta de acompanhamento psicológico, problemas familiares, doenças físicas e conhecer alguém que já tenha tentado suicídio. Por fim, os autores encontraram dificuldades e carência de estudos fenomenológicos sobre depressão e adolescência. Identificaram um crescimento nas pesquisas fenomenológicas nos últimos 15 anos, mas entende-se que esse número é relativamente baixo, diferente da perspectiva biologista tradicionalmente utilizada.
Nas últimas décadas os estudos sobre depressão em adolescentes têm aumentado, despertando maior reconhecimento na comunidade científica, com criação de escalas de avaliação e mais estudos na área. Percebe-se que não há um modelo nosográfico suficiente da depressão em adolescentes, o que dificulta a elaboração de um quadro clínico e teórico. Ressalta-se a necessidade de compreender a singularidade da depressão, evidenciando os aspectos idade, gênero e vivências do sujeito como fundamentais para essa compreensão. Destaca-se, também, a necessidade de um maior aprofundamento em aspectos familiares e sociais. Pesquisas fenomenológicas, ainda que escassas, contribuirão para a compreensão da depressão em adolescentes e na prática do cuidado com esses indivíduos.
Referências
Bahls, S. C. (2002). Aspectos clínicos da depressão em crianças e adolescentes. Jornal de Pediatria, 78(5), 359-366. https://doi.org/10.1590/S0021-75572002000500004.
Barros, A. P. R., Coutinho, M. P. L., Araújo, L. F., & Castanhos, A. R. (2006). As representações sociais da depressão em adolescentes no contexto do ensino médio. Estudos de Psicologia (Campinas), 23(1), 19-28. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2006000100003.
Cunha, B. F. V., Buzaid, A., Watanabe, C. E., & Romano, B. W. (2005). Depressão na infância e adolescência: revisão bibliográfica. Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, 15(3 Supl A), 8-16.
World Health Organization – WHO. (2014). Health for the world’s adolescentes: a second chance in the second decade. Geneva: World Health Organization.
Para ler o artigo, acesse
MELO, A. K., SIEBRA, A. J. and MOREIRA, V. Depressão em Adolescentes: Revisão da Literatura e o Lugar da Pesquisa Fenomenológica. Psicol. cienc. prof. [online]. 2017, vol.37, n.1, pp.18-34. [viewed 15 may 2017]. ISSN 1414-9893. DOI: 10.1590/1982-37030001712014. Available from: http://ref.scielo.org/4mzy6q
Link externo
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