Regina Facchini, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu e editora do cadernos pagu, Campinas, SP, Brasil
Cadernos pagu tem sido publicado de modo ininterrupto pelo Núcleo de Estudos de Gênero Pagu da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desde 1993. Sua existência marcou a constituição e a consolidação do campo de estudos de gênero no Brasil, caracterizado por diversidade regional e disciplinar e por um enorme crescimento, sobretudo a partir dos anos 2000 (PISCITELLI; BELELI; LOPES, 2003).
Os últimos anos foram marcados por mudanças significativas no periódico que denotam nosso compromisso com a permanente renovação do cadernos pagu de modo a preservar seu papel no desenvolvimento do campo de estudos de gênero no país e na circulação internacional do conhecimento produzido nesse campo. Esse papel é um legado do trabalho das(os) pesquisadoras(es) que atuaram e atuam em sua equipe editorial e da qualidade da produção científica nesse campo no Brasil, que permitiram a continuidade da revista. Trata-se de um patrimônio da comunidade científica engajada nos estudos feministas e de gênero no país.
A seguir procuro situar mudanças recentes, desafios e nossos esforços na direção de aumentar a agilidade, eficiência e transparência no processo de avaliação e de publicação das contribuições científicas que recebemos, bem como a visibilidade dos artigos publicados, e de aprofundar o processo de internacionalização desse nosso patrimônio.
Qualidade, agilidade e transparência dos processos de avaliação
O Comitê e o Conselho Editorial da revista são compostos por 32 pesquisadoras(es) reconhecidas(os) internacionalmente por sua atuação no campo de estudos de gênero, oriundos da grande área das Ciências Humanas, área predominante de autoras(es) e leitoras(es) da publicação. Do ponto de vista da distribuição geográfica, 47% dessas(es) pesquisadoras(es) têm filiação institucional em outros países, incluindo Europa, América do Norte e América Latina. O corpo de revisoras(es) ad hoc inclui 245 doutoras(es) que atuaram nos últimos 3 anos, sendo oriundos de diferentes regiões do país e 10% com afiliação internacional, distribuindo-se entre diferentes áreas do conhecimento – Ciências Humanas; Sociais Aplicadas; Linguística, Letras e Artes; e Saúde.
Nos últimos anos, a diversificação regional e disciplinar do próprio campo de estudos de gênero — e, por consequência, das contribuições que recebemos — tem levado a uma ampliação da diversidade disciplinar e regional do nosso corpo de revisoras(es). Recentemente, a decisão editorial de publicar artigos originalmente escritos em português, espanhol, mas também em inglês tem levado à ampliação da participação de revisoras(es) com filiação internacional.
Desde 2012, cadernos pagu adotou a gestão online dos manuscritos via sistema OJS disponibilizado pelo SciELO e, a partir de 2015, tem atualizado anualmente suas informações públicas e política editorial e aprimorado seus instrumentos de avaliação de artigos, o que visa conferir maior agilidade, eficiência e transparência aos processos de avaliação. Atualmente, o tempo médio entre submissão e publicação dos artigos é de 10 meses e há forte investimento na direção da redução desse período e de procurar evitar que as dificuldades recentes vividas no âmbito das universidades brasileiras se revertam em aumento de tempos de avaliação de artigos.
A adoção, em 2016, de periodicidade quadrimestral e da publicação contínua de artigos, que garante que os artigos sejam publicados assim que os processos de avaliação e revisão/preparação sejam concluídos, são exemplos desses esforços, que incluem também a constante ampliação do corpo de revisores ad hoc. O percentual de artigos publicados em relação ao total de recebidos é de aproximadamente 25% — em 2016 recebemos 206 submissões e publicamos 51 textos, entre artigos, apresentações e resenhas — e nossa política editorial descreve detidamente o fluxo e critérios de avaliação aos quais são submetidas todas as contribuições publicadas.
Internacionalização: um processo em aprofundamento
A política editorial do cadernos pagu alia a atenção à diversidade regional, disciplinar, teórica e temática do campo científico em que se insere e de seu público leitor e sempre esteve atenta a propiciar a circulação internacional do conhecimento.
Nos 24 anos de publicação, cerca de 30% de artigos são de autoria de pesquisadores vinculados a instituições estrangeiras (América do Norte, Europa, América Latina e África). Uma política implementada desde o início da publicação é a tradução de textos clássicos e de referência para o campo de estudos em âmbito internacional, que são atualmente publicados na forma de debates. Essa política tem possibilitado não só a difusão de conhecimento, mas uma leitura crítica da produção internacional, contribuindo para a formação de jovens pesquisadores (PISCITELLI; BELELI; LOPES, 2003).
A publicação de artigos em inglês é um desafio, consideradas as características dos artigos que publicamos e de nosso público leitor e os recursos escassos com os quais contam os periódicos científicos brasileiros. A partir de 2015, cadernos pagu passou a receber artigos em inglês, além de em português e em espanhol, e ampliou a estratégia de internacionalização, assumindo a meta — cumprida em 2015 e 2016 — de ter pelo menos 25% de artigos publicados em inglês. Isso realiza um antigo projeto da equipe editorial: tornar o periódico parcialmente bilíngue.
Inicialmente, a publicação em versão bilíngue foi concentrada nos dossiês e custeada pelas(os) autoras(es). A partir de maio de 2017, após a consolidação de um corpo de tradutores que atua a partir de indicação da revista, o Comitê Editorial estendeu a possibilidade de publicação em versão bilíngue — português/inglês, espanhol/inglês ou inglês/português — a todas(os) autoras(es) que tenham artigos aprovados. Dadas as limitações de orçamento, as traduções são opcionais e seguem custeadas pelas(os) autoras(es), a revista contribui procurando garantir a qualidade das(os) tradutoras(es) que indica e custeando a diagramação e a geração de arquivo em formato XML nas duas versões.
Indexação, formato digital e ampliação da visibilidade
Indexado no SciELO desde 2005, e no Scopus desde 2015, cadernos pagu tem procurado ampliar sua inclusão bases de indexação, de modo a aumentar a visibilidade e potencial circulação e impacto dos artigos publicados. Em sintonia com as mudanças em curso no universo da publicação científica, o periódico passou a ser publicado exclusivamente em formato digital a partir de 2014. Essa mudança se deu em paralelo à adoção do formato XML para a publicação dos materiais, que apesar de ampliar custos de produção, facilita a pesquisa e o manuseio dos artigos em formatos e dispositivos de leitura diversos.
A publicação exclusiva em formato digital tem impacto sobre as formas de circulação e divulgação, fazendo com que os artigos se consolidem como unidades na rápida circulação do conhecimento por meio da internet. Assim, o envio de exemplares, a divulgação de assinaturas e os stands de exposição em congressos e reuniões científicas deram lugar ao maior uso de redes sociais para divulgação: temos enviado contribuições para o blog SciELO em Perspectiva | Humanas e mobilizado nossas redes via site do Núcleo Pagu, lista de e-mails e, principalmente, nossa página no Facebook, que hoje conta com mais de 15.700 seguidores e um alcance de cerca de 30 mil pessoas por mês.
Nos últimos três meses, tivemos uma média de 53.460 acessos por mês no SciELO. Nosso público leitor nos acompanhou na passagem para a publicação exclusivamente digital a partir de 2014:
Esta semana especial representa mais um passo na ampliação da visibilidade: procuramos apoiar e estimular autoras(es) e organizadoras(es) de dossiês a contribuírem no processo de divulgação de sua produção, por meio de entrevistas, produção e envio de vídeos e do compartilhamento de postagens nas suas redes e estamos ativando e investindo em mais um canal de divulgação, nosso perfil no Twitter. As mudanças tecnológicas e seu impacto no universo da publicação científica fizeram com que, além da revista, seus meios de divulgação se tornem parte do patrimônio do campo científico que a anima e constitui.
O que vem por aí
As mudanças e estratégias adotadas nos últimos anos foram muitas, mas já é possível indicar maior transparência e agilidade dos processos de avaliação e publicação, o aumento do acesso à versão digital da revista em resposta à mudança do formato e a ampliação e diversificação do nosso corpo de revisores ad hoc em função tanto das estratégias de aprofundamento do processo de internacionalização quanto do crescimento e diversificação do próprio campo de estudos no país. Os primeiros artigos em inglês começam a ser submetidos e as(os) autoras(es) têm contribuído para que cadernos pagu se mantenha como revista parcialmente bilíngue. São boas notícias para a comunidade científica, especialmente ao se considerar o difícil contexto sócio-político que os artigos e debates divulgados nesta semana situam e procuram ajudar a compreender.
Agradeço em meu nome e em nome da equipe editorial de cadernos pagu todo apoio recebido da comunidade científica e de leitoras(es) e reafirmo nosso compromisso e disposição de trabalhar para manter, aprimorar e renovar sempre que necessário esse nosso patrimônio. Agradeço, ainda, o apoio de Carolina Parreiras, de Carolina Branco de Castro Ferreira, das(os) autoras(es) e debatedoras(es) que participaram da entrevistas e da equipe SciELO na elaboração desta semana, assim como o atual apoio financeiro do CNPq e da CAPES à revista.
Para finalizar, agradeço a companhia durante a semana. Espero que tenham gostado e que se inspirem para seguir contribuindo com o envio e divulgação de artigos e de materiais da revista. No vídeo, um pouco do que vem por aí: Adriana Vianna, do Museu Nacional/UFRJ, apresenta em primeira mão o dossiê previsto para publicação em setembro de 2017, Gênero e Estado, organizado por ela e por Laura Lowenkron (UERJ).
Para saber mais sobre o periódico, suas novidades, os artigos que publicamos, atualidades e oportunidades no campo de estudos de gênero, sigam as postagens do cadernos pagu no nosso site (www.pagu.unicamp.br), no Facebook (www.facebook.com/Pagu-Núcleo-de-Estudos-de-Gênero-Cadernos-Pagu-245059658851266/) e no Twitter (@cadpagu). Para conhecer melhor nossa equipe, fontes de indexação e política editorial, acesse: www.scielo.br/cpa
Referências
PISCITELLI, A., BELELI, I., LOPES, M. M. Cadernos Pagu: contribuindo para a consolidação de um campo de estudos. Rev. Estud. Fem. [online]. 2003, vol.11, n.1, pp.242-246. [viewed 22 June 2017]. ISSN 0104-026X. DOI: 10.1590/S0104-026X2003000100015. Available from: http://ref.scielo.org/zrrss6
Link externo
cadernos pagu – CPA: www.scielo.br/cpa
Sobre Regina Facchini
Regina Facchini é doutora em Ciências Sociais (Unicamp), pesquisadora do Núcleo de Estudos do Gênero Pagu, professora dos programas de pós-graduação em Antropologia Social e em Ciências Sociais da Unicamp. Atualmente é editora do cadernos pagu e diretora regional sudeste da Associação Brasileira de Antropologia (ABA). Pesquisa sobre gênero e sexualidade em suas articulações com movimentos sociais, violência, saúde, políticas públicas e produção de conhecimento científico. Campinas, São Paulo, Brasil.
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