A “universidade necessária” de Darcy Ribeiro: para não esquecer

Adelia Miglievich-Ribeiro, Pesquisadora produtividade CNPq, docente dos PPGs de Ciências Sociais e de Letras da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, ES, Brasil

Adelia Miglievich Ribeiro, no artigo intitulado “Darcy Ribeiro e UnB: intelectuais, projeto e missão” publicado pela Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação (v. 25, n. 96), fruto de pesquisa histórico-documental e sociológica, no âmbito de seu projeto PQ-Produtividade-CNPq e Fapes, traz a memória da Universidade de Brasília (UnB), fundada nos inícios dos anos 1960 na recém-inaugurada capital da república, e emblema da utopia de uma nação comprometida com sua autodeterminação.

A luta de Darcy Ribeiro, ao lado de seu mentor, Anísio Teixeira, pela educação pública socialmente referenciada e pela articulação entre a formação básica e a superior é recordada, assim como a excepcional rede de cientistas e intelectuais públicos que se uniram entusiasticamente a fim de viabilizar, na universidade, um projeto de nação a se interpor às “forças do atraso”.

A UnB, deste ponto de vista, expressou a mentalidade utópica de uma geração intelectual acerca de um projeto acadêmico, educacional, arquitetônico e social, por isso chamado de “A universidade necessária” (1975). Propunha o investimento no desenvolvimento científico nacional e autônomo, numa estrutura original em que as ciências dialogassem entre si bem como o saber e o fazer pudessem se reencontrar.

O projeto, brusca e violentamente interrompido pelo golpe civil-militar de 1964 que condenou ao expurgo seus formuladores, retomado para nossa reflexão contemporânea, tem como referências teóricas, dentre outras, Karl Mannheim (1986) cuja recepção no Brasil serviu à formação de uma Intelligentsia brasileira engajada num projeto de Estado que combinava o desenvolvimento nacional à justiça social e à consolidação da democracia.

Conforme a autora, não há outra forma, porém, de resistência que não passe pela cumulatividade e domínio do pensamento crítico, de maneira que a história de nossas experiências de democratização, e mesmo de nossas frustrações, são recursos para a reinvenção de práticas capazes de mover as novas gerações na perseguição de uma utopia renovada. Por fim:

“Uma universidade assim, livre e libertária, só pode sobreviver numa ordem democrática. Quando subvertida a institucionalidade constitucional […] os custódios da regressão tiveram que reprimir todos os que se opunham à nova ordem e, entre eles, naturalmente, também a UnB” (Darcy Ribeiro, 1978, p. 84).

Referências

MANNHEIM, K. Ideologia e utopia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

RIBEIRO, D. A universidade necessária. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.

RIBEIRO, D. UnB: invenção e descaminho. Rio de Janeiro: Avenir, 1978.

Para ler o artigo, acesse

MIGLIEVICH-RIBEIRO, A. Darcy Ribeiro e UnB: intelectuais, projeto e missão.Ensaio: aval.pol.públ.Educ. [online]. 2017, vol.25, n.96, pp.585-608. [viewed 18 December 2017]. ISSN 0104-4036. DOI: 10.1590/s0104-40362017002500939. Available from: http://ref.scielo.org/rd77gp.

Link externo

Ensaio – Avaliação e Políticas Públicas em Educação – ENSAIO: www.scielo.br/ensaio

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

MIGLIEVICH-RIBEIRO, A. A “universidade necessária” de Darcy Ribeiro: para não esquecer [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2017 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2017/12/18/a-universidade-necessaria-de-darcy-ribeiro-para-nao-esquecer/

 

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