Quais as características de personalidade de agressores conjugais?

Gabriela Quadros de Lima Stenzel, Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil

Carolina Saraiva de Macedo Lisboa, Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil

Estudiosos têm mencionado o trauma como um fator presente na história de vida de agressores conjugais (FULU et al., 2013; HIRIGOYEN, 2006). Maus-tratos durante a infância, abuso emocional, físico e sexual e o testemunho da violência entre os pais são exemplos de acontecimentos traumáticos presentes na vida de muitos desses homens (FULU et al., 2013; STENZEL; LISBOA, 2017). Portanto, entende-se que os agressores conjugais podem possuir uma história marcada por situações de difícil elaboração psíquica que propiciam o surgimento da violência em seus modos de se relacionar.

O estudo “História de vida e características de personalidade de agressores conjugais: contribuições psicanalíticas”, publicado no periódico Paidéia (v. 29), objetivou investigar as características da história de vida e de personalidade de três agressores conjugais detidos no Presídio Central de Porto Alegre em função da Lei Maria da Penha (BRASIL, 2006). Pretendeu-se, também, identificar características sociodemográficas, a presença ou não de sintomas psicopatológicos, assim como compreender a dinâmica intrapsíquica envolvida na escolha conjugal dos participantes da pesquisa e a percepção deles a respeito da vivência atual de detenção. Todos preencheram uma ficha de dados pessoais, responderam ao Método de Rorschach, a Entrevista MINI e participaram de três entrevistas semiestruturadas. As entrevistas foram examinadas a partir da Técnica de Análise Interpretativa que permite ao pesquisador uma apreciação que leva à generalização lógica dos achados, a partir das manifestações específicas das experiências de cada participante. A interpretação foi realizada a partir da teoria psicanalítica. Ressalta-se que a intenção das pesquisadoras foi de proporcionar um espaço de escuta cuidadosa, aproximando-se o máximo possível de uma intervenção clínica.

Os resultados indicam que os participantes da pesquisa possuem dificuldades importantes que estão relacionadas à falta de recursos psicológicos para lidar com situações que geram uma alta carga de estresse emocional e/ou que os desafiam (Método de Rorschach). Então, busca-se compreender, por meio das características de suas histórias de vida, de que forma essa “falta” se instaurou em seus psiquismos.

Acredita-se ser necessário que os agressores conjugais tenham condições de assumir as “rédeas” das suas vidas para que possam se responsabilizar pelas relações que estabelecem e pelo destino da agressividade que lhes pertence. Nesse sentido, existe um importante espaço de trabalho a ser ocupado pelos profissionais da área da saúde, em especial da Psicologia.

No vídeo a seguir, Gabriela Stenzel detalha aspectos da pesquisa desenvolvida.

Referências

BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 7 de agosto de 2006. Available from: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm

FULU, E. et al. Prevalence of and factors associated with male perpetration of intimate partner violence: findings from the UN Multi-country Cross-sectional Study on Men and Violence in Asia and the Pacific. The Lancet Global Health, v. 1, n. 4, p. e187-e207, 2013. ISSN: 2214-109X [viewed 28 April 2019]. DOI: 10.1016/S2214-109X(13)70074-3. Avaliable from: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS2214-109X(13)70074-3/fulltext

HIRIGOYEN, M.-F. A violência no casal: da coação psicológica à agressão física. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

STENZEL, G. Q. L. and LISBOA, C. S. M. Aprisionamento psíquico sob uma perspectiva psicanalítica: estudo de caso de um agressor conjugal. Ágora (Rio J.), v. 20, n. 3, p. 625-633, 2017. ISSN: 1809-4414 [viewed 28 April 2019].  DOI: 10.1590/1809-44142017003003. Available from: http://ref.scielo.org/w3hhb2

Para ler o artigo, acesse

STENZEL, G. Q. L. and LISBOA, C. S. M. Life History and Personality Characteristics of Marital Aggressors: Psychoanalytic Contributions. Paidéia (Ribeirão Preto) [online]. 2019, vol.29, e2918. [viewed 28 April 2019] ISSN: 0103-863X. DOI: 10.1590/1982-4327e2918. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-863X2019000100605&lng=en&nrm=iso

Link externo

Paidéia (Ribeirão Preto) – PAIDEIA: www.scielo.br/paideia

Sobre Gabriela Stenzel

Gabriela Stenzel

Gabriela Stenzel

Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Os temas que pesquisa se vinculam a área de Fundamentos e Medidas da Psicologia (construção e validação de instrumentos psicológicos), com foco nos testes projetivos e Comportamentos Violentos (violência interpessoal, coletiva e auto infligida), com foco na violência doméstica contra a mulher. E-mail: gabrielaqlima@gmail.com

Sobre Carolina Saraiva de Macedo Lisboa

Carolina Saraiva de Macedo Lisboa

Carolina Saraiva de Macedo Lisboa

Mestre e Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com estágio no exterior na Universidade do Minho em Portugal durante o doutorado (2005). É bolsista Produtividade Nível 1D/CNPq e, atualmente, é Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia e da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail: carolina.lisboa@pucrs.br

 

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

STENZEL, G. Q. L. and LISBOA, C. S. M. Quais as características de personalidade de agressores conjugais? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2019 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2019/05/07/quais-as-caracteristicas-de-personalidade-de-agressores-conjugais/

 

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