Thaiane Oliveira, Professora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM/UFF), Niterói, RJ, Brasil
Estudos métricos da ciência: abertos, plurais e inclusivos
Estamos passando por grandes transformações sobre a comunicação da ciência, sobretudo devido aos avanços tecnológicos, que permitiram uma maior abertura sobre o acesso e a divulgação das pesquisas científicas. De um lado, as tecnologias permitiram novas possibilidades para tornar acessível não apenas a divulgação dos resultados das investigações científicas, mas tornar mais transparente todo o processo de condução das pesquisas realizadas como um ideal de uma Ciência Aberta, horizontal, rápida e desinstitucionalizada. Por outro lado, a possibilidade de utilização dessas novas tecnologias permitiu emergir estudos sobre o uso de redes sociais acadêmicas e não acadêmicas, para a visibilidade e aumento de circulação da ciência, nos possibilitando repensar a forma como avaliamos o impacto social das pesquisas científicas para além das métricas tradicionais de avaliação da ciência. Essas métricas alternativas abrem novas oportunidades, mas também grandes desafios, sobretudo para a América Latina, visto que a cobertura e a qualidade dos dados sobre esses indicadores não costumam ser compatíveis com as dinâmicas da comunicação científica desenvolvidas nesta região. É neste sentido que a edição especial “Métricas Alternativas e Ciência Aberta na América Latina”, publicada na Transinformação, reúne artigos de pesquisadores sobre a temática buscando trazer contribuições sobre os avanços científicos sobre estes temas. A edição é composta por 14 artigos que discutem temas de extrema relevância para os estudos métricos da ciência, frente a urgência de se discutir modelos alternativos de produção de conhecimento científico mais abertos, plurais e inclusivos.
Transinformação na Semana Especial no Blog SciELO Perspectiva |Humanas
Diante da oportunidade desta Semana Especial do Blog SciELO em Perspectiva | Humanas, a edição especial de métricas alternativas e Ciência Aberta na América Latina (OLIVEIRA, 2019), publicada no volume 31 da Transinformação, foi escolhida para ser divulgada neste espaço por ser um marco sobre o assunto na região latino-americana.
Os estudos discutem não apenas o ecossistema da Ciência Aberta, mas apresentam diferentes correntes interpretativas de um entendimento do que vem a ser esse movimento, em consonância aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 e ao acesso à informação que é reconhecido como um direito humano fundamental. A América Latina tem tido iniciativas recentes, porém bem consolidadas, em torno do acesso à informação, como a Lei Colombiana 57 e a Lei Federal sobre Transparência e Acesso à Informação Pública do México. Assim, são apresentados também esforços governamentais e institucionais para a viabilização de uma ciência mais plural e aberta, a partir de diferentes dimensões como o sistema editorial científico, os dados abertos, a reprodutibilidade aberta, a avaliação aberta e as Políticas de Ciência Aberta. Esses serão os temas abordados no primeiro dia da Semana Especial do Blog SciELO em Perspectiva | Humanas, no press que acompanha o vídeo “O que é e qual a importância da Ciência Aberta” de Fabiano Couto Corrêa da Silva e Lúcia da Silveira, ambos do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. No segundo dia, será publicado o press release “Quais são as práticas de Acesso Aberto e Dados Aberto na ciência brasileira?”, assinado por Alejandro Caballero-Rivero, Nancy Sánchez-Tarragó e Raimundo Nonato Macedo dos Santos. Neste post, os autores exploram as práticas de Ciência Aberta dos pesquisadores brasileiros associadas às iniciativas de Acesso Aberto e de Dados Abertos, para descrever seu crescimento, uso e alcance.
Ainda neste dia, será publicado o press “Que Ciência Aberta precisa a América Latina?”, de Anne Clinio, no qual será discutido a existência e disputa de duas perspectivas sobre Ciência Aberta na América Latina que variam desde uma visão utilitarista da ciência até o seu papel na promoção de direitos, justiça cognitiva e justiça social.
A América Latina é uma das regiões mais progressistas do mundo em termos de acesso aberto e da adoção de modelos sustentáveis para a disseminação da pesquisa, com importantes e exemplares iniciativas como Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Redalyc. Porém, há toda uma esfera de economia política sobre o acesso aberto e sobre a Ciência Aberta que são apresentados como temas explorados nessa edição. De um lado, há um movimento em torno da apropriação dos movimentos de abertura da ciência, gerando um mercado rentável voltados para a oferta de produtos e serviços em torno do ecossistema da Ciência Aberta. Por outro, os modelos de publicação científica até então desenvolvidos na região envolviam um grande engajamento da comunidade científica e eventual apoio estatal. Porém, frente ao processo de desestatização que a América Latina vem vivenciando, os editores de periódicos científicos têm adotados outros modelos de sustentabilidade como as taxas de publicação de artigos. No terceiro dia, esse tema é discutido por André Luiz Appel e Sarita Albagli no press “Como avança a prática de cobrança de taxas para publicação de artigos em acesso aberto no Brasil”.
Juntamente à crise econômica – e instabilidade e insurgência política – que vive a América Latina que vemos emergir a transparência, a avaliação e a responsabilização como um dos caminhos para ajudar os gestores na tomada de decisão sobre a distribuição de recursos, sobretudo em momentos em que os cortes orçamentários atravessam a realidade dos países latino-americanos, principalmente em Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação. Mas para tanto, é necessário desenvolver mecanismos de avaliação que atendam às necessidades e reconheçam as particularidades sobre os modos de produção e circulação da ciência na região. Para finalizar o terceiro dia, a entrevista “Além dos limites da indexação, a questão da produção científica brasileira” com Rogério Mugnaini, realizada por Asy Sanches e Thaiane Oliveira, trata das políticas de avaliação científica no Brasil.
Não se trata apenas de reproduzir metodologias ou consumir plataformas que ofereçam serviços informacionais sobre a produção científica. É necessário desenvolver metodologias mais abertas e que reconheçam as diferenças sobre os modelos de circulação da ciência na América Latina. Esta tem sido uma discussão trazida por diversos pesquisadores provenientes da América Latina, que apontam para uma necessidade urgente de encontrar indicadores alternativos de produção de pesquisas que sejam capazes de capturar uma parcela maior da produção das regiões desenvolvimento. No quarto dia, Fábio Gouveia no post “Quem pesquisa no Brasil a atenção da ciência on-line” se desdobra sobre a plataforma Lattes para identificar quais estudiosos estão pesquisando métricas alternativas no Brasil. No mesmo dia, o post “Ciência na América Latina requer indicadores de atenção social relevantes para a região” de Germana Barata discorre sobre os limites e a necessidade de desenvolver métricas alternativas mais compatíveis com as dinâmicas de circulação do conhecimento científico na América Latina.
Finalizando a Semana Especial do Blog SciELO, a entrevista “Os riscos e desafios para a Ciência Aberta e as métricas alternativas na América Latina” realizada por Leonardo Cazes, do Jornal O Globo, com Thaiane Oliveira, discute os desafios para a democratização do conhecimento na América Latina. Para encerrar, o press “Desafios e perspectiva de futuro da Transinformação: da Ciência Aberta ao uso de mídias sociais” assinado pelo editor-adjunto César Antonio Pereira, apresenta o constante desafio da Ciência Aberta e das mídias sociais científicas.
Agradeço ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estudos Comparados de Administração de Conflitos e seu Laboratório de Mídias Digitais e à Camila Parreira, estagiária do Fórum de Editores e Comunicação Científica da Pró-reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação da Universidade Federal Fluminense, pela produção deste vídeo.
Além de tudo que foi apresentado, para darmos início à esta semana especial, brindaremos os leitores com o podcast produzido por Fernando Schuenck sob o título “Que métricas alternativas e que Ciência Aberta queremos para a América Latina?” que trata de temas relacionados à ciência aberta, métricas alternativas de avaliação científica e os desafios para a democratização do conhecimento para a América Latina, com com a participação de Thaiane Oliveira, Sarita Albagli, André Luiz Appel, Fábio Gouveia, Alejandro Uribe-Tirado e Germana Barata. Ouça abaixo:
Referência
OLIVEIRA, T. M. As Métricas Alternativas e Ciência Aberta na América Latina: desafi os para a democratização do conhecimento. Transinformação [online]. 2019, vol.31. ISSN 0103-3786. [viewed 2 December 2019]. DOI: 10.1590/231808892019e190089e. Available from: http://ref.scielo.org/hpmfs9
Links externos
Transinformação – TINF: www.scielo.br/tinf
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estudos Comparados de Administração de Conflitos – http://www.ineac.uff.br/
Laboratório de Investigação em Ciência, Inovação, Tecnologia e Educação – http://citelab.sites.uff.br/
Sobre Thaiane Oliveira
Thaiane Oliveira é professora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM/UFF), coordenadora do Laboratório de Investigação em Ciência, Inovação, Tecnologia e Educação (Cite-Lab/UFF) e do Fórum de Editores e Comunicação Científica (Foco/UFF), ligado à Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação da universidade (Proppi/UFF). É também organizadora da conferência anual LATmetrics: métricas alternativas e Ciência Aberta na América Latina. E-mail: thaianeoliveira@id.uff.br
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