Produção e difusão do conhecimento nos manuais de impressão da Época Moderna

Kelly Caroline Appelt, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História da UFMG, voluntária em Varia Historia (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil.

Imagem: A prensa em perspectiva, Bosse, 1645. Disponível em gallica.bnf.fr/ BnF

O conhecimento impresso: práticas editoriais e estratégias comerciais nos manuais de impressão da Época Moderna”, de André Gustavo de Melo Araújo, publicado em Varia História (v. 36, n. 70), investiga os parâmetros para a formação e consolidação dos manuais de impressão enquanto um gênero no período. Com o objetivo de compreender como operavam as práticas de produção e difusão do conhecimento, o autor analisa o processo de reconfiguração imagética nos manuais de impressão, o que permite verificá-los como um dos mecanismos recorrentes operados por autores, editores e impressores para difundir o conhecimento prático durante o período moderno. Araújo defende que os manuais de impressão da Idade Moderna são resultados de questões como a confluência de práticas compilatórias registradas por autores e artistas, estratégias econômicas adotadas por editores e livreiros, a linguagem tipográfica flexionada nas oficinas de impressão e o espírito coletivo de um projeto de difusão do conhecimento. A abordagem adotada indica uma análise dos manuais de impressão que permite construir os processos de produções das obras impressas durante o período moderno pela prensa manual. Para isso, busca entender como operavam as práticas de produção e difusão do conhecimento constituintes dos manuais, um aspecto que foi negligenciado pela crítica. Desse modo, ele não pretende estudar os manuais de impressão apenas pela via que reconhece a face informativa deles, mas sim na direção que os compreende como os resultados materiais do processo social de produção de conhecimento na modernidade.

Em sua análise, Araújo, professor da Universidade de Brasília e doutor pela Universidade de Witten/Herdecke (Alemanha), investiga manuais que foram publicados no final do século XVII até o século XVIII e remontam fontes francesas, inglesas, italianas e alemãs. Durante o processo de investigação, o autor reconhece como a difusão de manuais que se destinavam aos impressores somente conformou um gênero nas últimas décadas do século XVII, o que explica a periodicidade e escolha das fontes do autor. Um aspecto relevante a partir da conformação de gênero seria que os manuais apresentavam informações que ultrapassavam a descrição verbal, eles também apresentavam um repertório imagético que permitia a instrução dos seus leitores envolvidos no ofício da impressão, assim como conferia dignidade às artes manuais frente ao público letrado da época. Houve também a reconfiguração das imagens que, muitas vezes, se repetiam em diversas edições dos manuais e por diferentes autores, condição que, para Araújo, pode ser reconhecida como uma estratégia editorial recorrente, a qual tinha o objetivo de difundir o conhecimento prático de impressão e comercialização (a diminuição do valor do livro).

Os modos de apresentação tipográfica e linguística dos relatos testemunhais e de alteridade discursiva dos manuais são também analisados. Essas são questões que permitem que o autor verifique como nos dois séculos em que o gênero dos manuais se estabeleceu também se consolidaram os debates a respeito da proteção judicial livresca. Tratado como privilégio de impressão, o direito associado à propriedade das páginas impressas não recaía inicialmente sobre autores e artistas (ROSE, 2009, p. 119), mas sim sobre editores e livreiros (MOORE, 2013, p. 185-186). Com relação a isso, Araújo entende que os manuais de impressão do período moderno apresentavam menos o resultado gráfico de um ato individual de criação artístico e intelectual e mais a forma impressa do processo coletivo que envolvia a compilação, reprodução e produção do conhecimento daquele momento.

Em suma, a investigação de Araújo revela a importância da configuração material dos manuais de impressão dos séculos XVII e XVIII e de como suas páginas desvendam o resultado material do processo social (uma confluência de práticas e estratégias de autores, artistas, editores e livreiros, um verdadeiro espírito coletivo) de produção, comercialização e circulação do/de conhecimento na Época Moderna.

Referências

MOORE, Adam D. Concepts of intellectual property and copyright. In: SUAREZ, S. J.; MICHAEL F.; WOUDHUYSEN, H. R. (Orgs.). The book: a global history. Oxford: Oxford University Press, 2013. pp. 183-196.

ROSE, Mark. Copyright, authors and censorship. In: SUAREZ, S. J.; MICHAEL F.; TURNER, Michael L. (orgs.). The Cambridge history of the book in Britain. Cambridge: Cambridge University Press, 2009. vol. 5: 1695-1830, pp. 118-131.

Para ler o artigo, acesse

ARAUJO, A. de M. O conhecimento impresso: Práticas editoriais e estratégias comerciais nos manuais de impressão da Época Moderna. Varia hist. [online]. 2020, vol. 36, no. 70, pp.53-90, ISSN 0104-8775 [viewed 14 April 2020]. DOI: 10.1590/0104-87752020000100003. Available from: http://ref.scielo.org/f2nxz7

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APPELT, K. C. Produção e difusão do conhecimento nos manuais de impressão da Época Moderna [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/05/28/producao-e-difusao-do-conhecimento-nos-manuais-de-impressao-da-epoca-moderna/

 

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