Elza Fátima Rosa Veloso, Livre docente em Administração, professora do mestrado profissional da FIA Business School, São Paulo, SP, Brasil.
Ao contrário do senso comum, passar a ser professor universitário é uma decisão influenciada por diversos fatores, entre eles, a visão que a própria pessoa tem sobre sua profissão anterior. Frustrações com essa profissão impulsionam transições, muito mais do que se acredita. E, de forma geral, a carreira acadêmica de nível universitário acaba por receber trabalhadores que já não sentiam estabilidade em sua vida profissional, portanto, decidiram mudar de profissão.
A tese de livre docência de Elza Veloso (2017), mostrou, de forma inédita, como a docência universitária associa dois temas altamente relevantes para a gestão de carreira: decisões e transições. Por meio de questionário respondido por 357 professores universitários que realizaram a transição de carreira, a pesquisadora mostrou que estas decisões nem sempre se mostraram absolutamente racionais, como já demonstrado na orientação conceitual de Murtagh, Lopes e Lyons (2011).
Mas, quando ocorre uma transição segura? A autora mostrou que, quando esses profissionais percebem que têm os recursos necessários para realizar a transição, tomam decisões mais racionais e menos impulsivas, com melhores resultados futuros. Esses recursos, detalhados no trabalho de Anderson, Goodman e Schlossberg (2012), envolvem a própria situação em que a transição ocorre, as características pessoais, o suporte social e as estratégias que a pessoa estabelece para lidar com a transição.
Os principais resultados da análise do fenômeno da migração de pessoas de outras profissões para a docência de nível superior, estão no artigo “A racionalidade das decisões na transição interprofissão de professores universitários”, publicado no Cadernos EBAPE.BR (vol. 18, no. 1). A pesquisa apresenta a construção de um modelo que demonstra a maneira como a transição interprofissão acontece em termos de recursos e atributos influenciando tanto as decisões racionais como as que extrapolam a racionalidade. A pesquisadora e seus coautores mostraram que decisões mais racionais são tomadas por pessoas que enxergaram de forma mais favorável os atributos da própria transição e que, no período pós transição, enfrentam uma carga-horária menor de trabalho na docência.
De forma geral, é observado no estudo que, além da situação profissional anterior, as emoções que envolvem o processo de mudança de carreira são importantes nessas transições. Paralelamente, a falta de avaliação dos motivos que originam a vontade de mudar para a docência do ensino universitário, quando construídas por decisões impulsionadas por emoções, podem gerar equívocos futuros.
Referências
ANDERSON, M. L.; GOODMAN, J. and SHLOSSBERG, N. K. Counseling adults in transition: linking Schlossberg’s theory with practice in a diverse world. New York: Springer Publishing Company, 2012.
ASHFORTH, B. A. Role transitions in organizational life: an Identity-Based Perspective. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, 2001.
MURTAGH, N.; LOPES, P. N. and LYONS, E. Decision making in voluntary career change: an other-than-rational perspective. The Career Development Quarterly [online]. 2011, vol. 59, no. 3, pp. 249-263. DOI: 10.1002/j.2161-0045.2011.tb00067.x, e-ISSN: 2161-0045 [viewed 7 July 2020]. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/j.2161-0045.2011.tb00067.x
VELOSO, E. F. R. Decisões na transição interprofissão: um modelo de orientação de mudanças de carreira. 2017. 190 f. Tese (Livre Docência em Gestão de Recursos Humanos) ‒ Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. DOI: 10.11606/T.12.2018.tde-10072018-091012
Para ler o artigo, acesse
VELOSO, E. F. R., et al. The rationality of decisions in the university professors’ inter-professional transitions. Cad. EBAPE.BR [online]. 2020, vol. 18, no. 1, pp. 104-123, ISSN: 1679-3951 [viewed 7 July 2020]. DOI: 10.1590/1679-395177946x. Available from: http://ref.scielo.org/cx72k2
Links externos
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