Rui da Silva, Investigador, Centro de Estudos Africanos, Universidade do Porto, Porto, Portugal.
Joana Oliveira, Professora, Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico, Viana do Castelo, Portugal.
O artigo “Privatização da educação em 24 países africanos: tendências, pontos comuns e atípicos”, publicado no periódico Educação & Sociedade (vol. 41), trata de analisar e refletir sobre as principais tendências no âmbito da privatização da educação, verificadas em 24 países africanos considerados frágeis e afetados por conflito. Com apoio da Parceria Global para a Educação (PGE) esses países contam com o auxílio financeiro desse fundo, comparando suas diferenças e seus pontos comuns. A PGE é uma parceria multi-stakeholders, criada em 2002 pelo Banco Mundial com o nome Fast Track Initiative, da Educação para Todos. Atualmente, a PGE reúne 70 países do Sul Global e mais de 20 doadores. É considerada a única parceria multilateral e o único fundo dedicado para que todas as crianças e todos os jovens do Sul Global tenham acesso à escola de modo a receberem educação de qualidade; bem como o apoio global e nacional no setor da educação, com foco nas crianças e nos jovens mais pobres e vulneráveis. Cabe ressaltar, que mais de 60% do seu financiamento são para os países frágeis ou afetados por conflito. O apoio da PGE implica o cumprimento de vários requisitos, entre eles a elaboração de um plano setorial da educação.
O estudo pretende fornecer um melhor entendimento das relações internacionais de poder no âmbito da privatização da educação. O texto parte de um amplo conceitual teórico para abordar a Parceria Global para a Educação que é, na atualidade, um ator relevante no cenário das políticas educacionais globais e que influencia diretamente políticas educativas nacionais, sendo ainda pouco conhecida e estudada no Brasil. O trabalho partiu da leitura dos Planos Setoriais da Educação ou dos documentos transitórios submetidos à Parceria Global para a Educação quando da solicitação de apoio financeiro ao fundo pelos governos dos seguintes 24 países africanos – Burundi; Camarões; Chade; Comores; Costa do Marfim; Eritreia; Gâmbia; Guiné-Bissau; Libéria; Mali; Moçambique; Níger; Nigéria; Quênia; República Centro-Africana; República Democrática do Congo; República do Congo; Ruanda; Somália; Sudão; Sudão do Sul; Togo; Uganda e Zimbábue.
A análise realizada permite inferir que predomina, nos diferentes países, a perspectiva da privatização da educação planejada em detrimento da de fato, e constata que, quando os documentos mencionam a gestão privada, referem-se, principalmente, à comunidade/aos pais. Adaptado de Silva, Santos e Pacheco (2015) e Silva (2018), as cinco principais categorias que se referem a privatização da educação são: 1. Valorização da iniciativa privada; 2. Uso do setor privado encorajado; 3. Direito de escolha; 4. Evocação da educação como serviço público de gestão privada e 5. Diminuição da interferência do Estado. Pode-se dizer, que a privatização de fato é um processo aparentemente não relacionado com as políticas públicas, que ocorre por iniciativa dos pais, das comunidades e da sociedade civil, independentemente das políticas promovidas pelos Estados. Por outro lado, a privatização por planejamento ocorre quando as autoridades públicas promovem, de maneira proativa, a privatização da educação e implementam medidas explícitas para a promover, como, por exemplo, parcerias público-privadas e vouchers.
Os Planos Setoriais da Educação de Costa do Marfim, República Centro-Africana, República do Congo, Somália e Quênia são atípicos, uma vez que têm previstas medidas que não seguem as tendências verificadas na literatura no que concerne à privatização da educação (p. ex., redução do setor privado). Nestes documentos estratégicos a conexão global – nacional fica muito explícita possibilitando o aumento do conhecimento sobre tais relações na África a partir de uma perspectiva crítica permitindo associar outras vozes no questionamento da real eficácia destas parcerias e suas ideologias no atendimento da educação como direito humano. O texto é panorâmico, de maneira a deixar caminho aberto para novas pesquisas que aprofundem cada um dos aspectos tratados.
Assista a seguir o vídeo de Rui da Silva apresentando outras perspectivas deste estudo.
Referências
SILVA, R.; SANTOS, J. G. and PACHECO, J. A. Crossed looks: globalisations and curriculum in Guinea-Bissau. Compare: A Journal of Comparative and International Education, [online], 2015, vol. 45, no. 6, pp. 978-999, e-ISSN: 1469-3623 [viewed 28 September 2020]. https://doi.org/10.1080/03057925.2015.1013018. Available from: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/03057925.2015.1013018? journalCode=ccom20
SILVA, R. O papel da parceria global para a educação na promoção dos referentes da globalização nos planos setoriais da educação
dos PALOP. Revista on-line de Política e Gestão Educacional [online]. 2018, vol. 22, no. esp. 3, pp. 1258-1275, ISSN: 1519-9029 [viewed 28 September 2020]. https://doi.org/10.22633/rpge.v22iesp3.12010. Available from: https://periodicos.fclar.unesp.br/rpge/article/view/12010/7912
Para ler o artigo, acesse
SILVA, R. da and OLIVEIRA, J. Privatização da educação em 24 países africanos: tendências, pontos comuns e atípicos. Educ. Soc. [online]. 2020, vol. 41, e238622. ISSN: 1678-4626 [viewed 19 October 2020]. https://doi.org/10.1590/es.238622. Available from: http://ref.scielo.org/r478th
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