As ocupações das escolas pelos secundaristas: uma luta geracional?

Lucia Rabello de Castro, Professora titular do Instituto de Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Renata Tavares, Doutoranda em Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Fonte: NIPIAC-UFRJ. Direitos liberados para publicação.

O artigo “Direitos geracionais e ação política: os secundaristas ocupam as escolas”, publicado no periódico Educação e Pesquisa (vol. 46), propõe-se a analisar como a ação política dos estudantes secundaristas, ao ocuparem as escolas públicas ao longo de 2015 e 2016 no Brasil, politizaram as relações intergeracionais em torno do bem educação e fizeram emergir lutas para garantir interesses e prerrogativas da geração mais nova. A insatisfação dos estudantes, no âmbito de seu questionamento sobre a educação que recebem, tem inflexionado respostas crescentemente políticas, ao invés de permanecerem como queixumes (CASTRO et al., 2018), em um movimento que poderíamos chamar de “politização das relações geracionais” (CASTRO, 2012; CASTRO; NASCIMENTO, 2013).

O estudo traz como material de análise a pesquisa etnográfica acerca das ocupações das escolas públicas pelos secundaristas ao longo dos meses de abril a julho de 2016. As ocupações secundaristas aconteceram em diferentes cidades do Estado do Rio de Janeiro, a pesquisa acompanhou 12 escolas públicas do estado, que estavam ocupadas. Esse acompanhamento, de cunho etnográfico, compreendeu visitas às escolas ocupadas, em algumas delas, mais de uma vez, agendadas de antemão com os comitês de comunicação de cada escola.

As análises oriundas desta pesquisa apontaram que as escolas ocupadas podem ser consideradas como a invenção de um evento político geracional, uma vez que ele representa a construção de uma agenda política acerca da educação pelos estudantes como um direito geracional. Por um lado, estudantes e professores se tornaram, pelo menos temporariamente, aliados, mesmo se, contraditoriamente, no cotidiano da escola a hostilidade mútua tenha lugar. Nesse sentido, a aproximação política da agenda estudantil com a dos professores constitui um ganho político, na medida em que os estudantes puderam identificar claramente seus adversários no campo político.

Analisar o movimento das ocupações secundaristas acontecidas em 2016, elucida que os estudantes têm reivindicado sua participação nos destinos da escola e nas decisões sobre a educação pública, assumindo uma fala e uma posição nos espaços públicos, onde defendem seus direitos à educação de qualidade. A perspectiva da justiça intergeracional (HISKES, 2008; WEISS, 1990) abre um campo de litígio entre as gerações. Em cada contexto histórico e político, as novas gerações parecem assumir, paulatinamente, a posição de demandar o que lhes parece justo no cuidado consigo e com o mundo.

Referências

CASTRO, L.R. de and NASCIMENTO, E.M. do. Politizar as relações entre jovens e adultos?: A construção da experiência escolar pelos estudantes. Estud. psicol. (Natal) [online]. 2013, vol. 18, no. 2, pp. 359-367. ISSN: 1678-4669 [viewed 6 October 2020]. https://doi.org/10.1590/S1413-294X2013000200023. Available from: http://ref.scielo.org/wrjckv

CASTRO, L.R. de, et al. Falas, afetos, sons e ruídos: as crianças e suas formas de habitar e participar do espaço escolar. Revista Eletrônica de Educação [online]. 2018, vol. 12, no. 1, pp. 151-168, ISSN: 1982-7199 [viewed 6 October 2020]. http://dx.doi.org/10.14244/198271992019. Available from: http://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/view/2019

CASTRO, L.R. de. Children – democracy and emancipation. Alternatives: Global, Local, Political [online], 2012. vol. 37, no. 2, pp. 165-177. Available from: https://www.questia.com/read/1G1-292713063/children-democracy-and-emancipation

HISKES, R. The human right to a green future: environmental rights and intergenerational justice. New York: Cambridge Univ. Press, 2008.

WEISS, E.B. Our rights and obligations to future generations for the environment. American Journal of International Law [online]. 1990, vol. 84, no. 1, pp. 198-207. ISSN: 0002-9300 [viewed 6 October 2020]. DOI: 10.2307/2203020. Available from: https://www.cambridge.org/core/journals/american-journal-of-international-law/article/our-rights-and-obligations-to-future-generations-for-the-environment/74A3FFAD87DF202565FA7BBD06A02C38

Para ler o artigo, acesse

CASTRO, L. R. de and TAVARES, R. Direitos geracionais e ação política: os secundaristas ocupam as escolas. Educ. Pesqui. [online]. 2020, vol. 46, e237291. ISSN: 1678-4634 [viewed 16 October 2020]. https://doi.org/10.1590/s1678-4634202046237291. Available from: http://ref.scielo.org/fsvzwf

Links externos

Educação e Pesquisa – EP: www.scielo.br/ep

http://www.educacaoepesquisa.fe.usp.br/

Sobre as ocupações ver:

Universidade Federal Rio Grande do Sul – Notícias:  http://www.7seminario.furg.br/

Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporanêas:    http://www.nipiac.ufrj.br/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

CASTRO, L. R. and TAVARES, R. As ocupações das escolas pelos secundaristas: uma luta geracional? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/11/17/as-ocupacoes-das-escolas-pelos-secundaristas-uma-luta-geracional/

 

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