Estudos organizacionais: o desafio de olhar para o passado e ampliar a agenda de pesquisa

Alessandra de Sá Mello da Costa é professora na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Escola de Negócios, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Sergio Eduardo de Pinho Velho Wanderley é professor na Unigranrio, Programa de Pós-graduação em Administração, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

No artigo “Passado, presente e futuro de história (crítica) das organizações no Brasil” os autores apresentam uma narrativa acerca da trajetória da incorporação da história, da memória e do passado nas pesquisas de estudos organizacionais (EO) no Brasil e refletem sobre seus possíveis desdobramentos. A relevância dessa construção reside no fato de que a trajetória de aproximação de duas áreas disciplinares tão diferentes como EO e História (Rowlinson, Hassard, & Decker, 2014) também pode ser compreendida como a trajetória de formação de um campo de pesquisa no Brasil, afirmam.

No Brasil, desde os anos 2000 são pesquisadores de diferentes matrizes teóricometodológicas da área de Gestão e de EO que buscam defender e justificar a importância do estudo da História em suas pesquisas como uma forma de enriquecer a compreensão acerca dos fenômenos organizacionais no presente. Para articular essa trajetória, optou-se pela construção de um recorte e de um ordenamento temporal, estabelecendo, assim, origem e sentido. E, assumindo que qualquer periodização é uma construção política dos pesquisadores (Prost, 2012), optou-se, arbitrariamente, pelos seguintes marcos históricos como norte para a narrativa: (1) os anos 2000; (2) os anos 2010; e (3) os anos 2020. Os anos 2000 foram marcados pela necessidade de mais história e memória nas pesquisas nacionais, o foco era identificar e analisar o que o Brasil tinha de contextual e específico (para além dos modelos teóricos universais e das grandes narrativas que encapsulavam particularidades) por meio da análise histórica de suas organizações e práticas sociais. A partir dos anos 2010, inicia-se um movimento mais sistematizado e formal de atribuir relevância à pesquisa histórica como procedimento teórico-metodológico. Surgem, em periódicos e eventos da área, publicações, painéis e oficinas de trabalho sobre como fazer pesquisa histórica em EO. Os anos 2020 estão fortemente caracterizados pela busca de um posicionamento crítico e reflexivo acerca do passado e suas formas de representação, rumo à internacionalização.

Imagem: pixabay on Canva.

Baseados nessas premissas, os autores propõem então a ampliação da agenda (internacionalizada) de pesquisa, absolutamente não exaustiva, mas sim um convite a sua extensão: Articulação de autores e teorias; Articulação de conceitos e Articulação de temas de pesquisa. Esse é o objetivo de uma agenda inicial em história crítica das organizações, não só no Brasil: revisitar o passado para desnaturalizar e confrontar o presente e, assim, imaginar futuros possíveis. Nossa agenda seria, como poetizou Manuel Bandeira sobre o projeto de Lúcio Costa para a construção de Brasília (capital federal), “um avião em rota para a impossível Utopia, [mas cujo projeto] logo dá à iniciativa, que parecia uma aventura, um ar plausível”.

Neste vídeo, Sergio Wanderley fala sobre o contexto dos 60 anos da RAE no contexto da Administração e a história das organizações no Brasil e apresenta os principais pontos do artigo escrito para a edição temática na Revista.

Referências

PROST, A. Doze lições sobre a história. São Paulo: Autêntica, 2021.

ROWLINSON, M., HASSARD, J. and DECKER, S. Research strategies for organizational history: A dialogue between historical theory and organization theory. Academy of Management Review [online]. 2014, vol.39, no.03, pp. 250-274 [viewed 11 May 2021]. https://doi.org/10.5465/amr.2012.0203 . Available from: https://journals.aom.org/doi/10.5465/amr.2012.0203

Para ler o artigo, acesse

COSTA, A. S. M. and WANDERLEY, S. E. P. V. PASSADO, PRESENTE E FUTURO DE HISTÓRIA (CRÍTICA) DAS ORGANIZAÇÕES NO BRASIL. Rev. adm. empres. [online]. 2021, vol.61, n.01 [viewed 11 May 2021]. https://doi.org/10.1590/s0034-759020210107. Available from: http://ref.scielo.org/q7dnnh

Links externos

RAE-Revista De Administração De Empresas – RAE: www.scielo.br/rae

Sobre os autores

Alessandra de Sá de Melo da Costa

Professora de Estudos Organizacionais do Departamento de Administração (IAG) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e Coordenadora do seu Programa de Pós-Graduação. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq – Nível 2, Doutora em Administração pela EBAPE – Fundação Getulio Vargas, Mestre em Administração de Empresas pelo IBMEC-RJ e Graduada em Administração e em História. E-mail: alessandra.costa@iag.puc-rio.br.

Sergio Eduardo de Pinho Velho Wanderley

É professor na UNIGRANRIO. Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), possui mestrado em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas, doutorado em Administração pela Fundação Getulio Vargas e pós-doutorado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). E-mail: sergio.wanderley@unigranrio.edu.br

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

COSTA, A. S. M and WANDERLEY, S. E. P. V. Estudos organizacionais: o desafio de olhar para o passado e ampliar a agenda de pesquisa [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/05/19/estudos-organizacionais-o-desafio-de-olhar-para-o-passado-e-ampliar-a-agenda-de-pesquisa/

 

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