Como o poder de transformação da linguagem pode possibilitar agência e reinvenção a mulheres negras?

Glenda Cristina Valim de Melo, professora do Programa de Pós-Graduação em Memória Social, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

A solidão de mulheres negras tem sido tema de vários blogs, entrevistas, grupos em mídias sociais e programas televisivos que circulam na web há algum tempo. Muitas dessas mulheres retratam não apenas a solidão em relacionamentos afetivos-sexuais, mas também em questões como trabalho, estudo etc. Glenda Cristina Valim de Melo, em seu artigo “Performativity of race intersected by gender and sexuality in a conversation circle among black women”, publicado no periódico Trabalhos em Linguística Aplicada (v. 60, n. 1), busca operacionalizar o conceito de performatividade de raça articulada com outros marcadores discursivos-corpóreos para compreender as performances de mulheres negras em uma roda de conversa on-line, em contexto brasileiro, ao tratarem dessa solidão. Ao longo da discussão, a autora se embasa nos conceitos de linguagem como performance (AUSTIN, 1962; DERRIDA, 1972; e BUTLER, 1997) para tratar das transformações que a linguagem possibilita para as participantes da conversa ao tratarem da solidão da mulher negra.

Imagem: Mohau Mannathoko.

O conceito de performatividade, primeiramente abordado por Austin (1962), é aprofundado por Butler (1997, 2003, 2004) para tratar de gênero como uma construção social, histórica e também performativa. A inovação de Butler está em colocar a linguagem como aquela que faz sobre os corpos, sobre a própria linguagem e cujos efeitos são incalculáveis. Partindo dessa premissa, Glenda Melo traz uma reflexão sobre os ganhos epistemológicos da performatividade de raça, articulada com gênero, sexualidade, profissão e desejo para discutir a questão racial também por um viés da linguagem como ação. Para tal, ela considera que é preciso articular os conceitos do norte aos do Sul, ou seja, olhar para a performatividade articulada aos estudos de raça em contexto brasileiro. A autora considera que a sociedade brasileira se estrutura em sua formação social, política, econômica e jurídica no processo de escravização (SOUZA, 2015). Além disso, ao discorrer sobre a performatividade de raça, a pesquisadora traz para o centro conceitos de raça e articulações de raça, gênero e sexualidade propostas por feministas negras tanto brasileiras como americanas (BENTO, 2002; hooks, 1995, CARNEIRO, 2003).

Referências

AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer. Palavras e ação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1962.

BENTO, M. A. S. Branqueamento e Branquitude no Brasil. In: CORONE, I.; BENTO, M. A. S. (ed.) Psicologia social do racismo – estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

BUTLER, J. Excitable speech: a politics of the performative. New York: Routledge, 1997.

CARNEIRO, S. Mulheres em movimento. Estudos Avançados [online]. 2003, vol. 17, pp. 117-132 [viewed 11 June 2021]. https://doi.org/10.1590/S0103-40142003000300008. Available from: https://www.scielo.br/j/ea/a/Zs869RQTMGGDj586JD7nr6k/?lang=pt

DERRIDA, J. Signature event context. Limited inc. Evanston: Northwestern University Press, 1972.

HOOKS, B. Mulheres negras: moldando a teoria feminista. Revista Brasileira de Ciência Política [online]. 2015, no.16, pp. 193-210 [viewed 11 June 2021]. https://doi.org/10.1590/0103-335220151608. Available from: https://www.scielo.br/j/rbcpol/a/mrjHhJLHZtfyHn7Wx4HKm3k/abstract/?lang=pt

GONZALEZ, L. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje [online]. 1984, pp. 223-244 [viewed 11 June 2021]. Available from: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4584956/mod_resource/content/1/06%20-%20GONZALES%2C%20L%C3%A9lia%20-%20Racismo_e_Sexismo_na_Cultura_Brasileira%20%281%29.pdf

MIRANDA, J.H. A. Branquitude Invisível – pessoas brancas e a não percepção dos privilégios: verdade ou hipocrisia? In: MULLER, T. and CARDOSO, L. (ed.) Branquitude: estudos sobre a identidade branca no Brasil. Curitiba: Editora Appris, 2017.

PACHECO, A. C. L. Mulher Negra: Afetividade e Solidão. Salvador: Editora UFBA, 2013.

SOUZA, J. de A elite do atraso: da escravidão à lavajato. Rio de Janeiro: Leya, 2017.

Para ler o artigo, acesse

MELO, G. C. V. PERFORMATIVITY OF RACE INTERSECTED BY GENDER AND SEXUALITY IN A CONVERSATION CIRCLE AMONG BLACK WOMEN. Trabalhos em Linguística Aplicada [online]. 2021, vol. 60, no.01 [viewed 11 June 2021]. https://doi.org/10.1590/010318139557711520210309. Available from: https://www.scielo.br/j/tla/a/kZQyp6fCvjpyV8jc8dyfSWC/?lang=en#

Links externos

Canal GNT: https://youtu.be/9NZPgVzrOTU

Soul Vaidosa: https://youtu.be/WUkOHLmwCj4

Trabalhos em Linguística Aplicada – TLA: www.scielo.br/tla

TV Boitempo: https://youtu.be/2ZNx1LV6c4A

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

MELO, G. C. V. Como o poder de transformação da linguagem pode possibilitar agência e reinvenção a mulheres negras? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/06/24/como-o-poder-de-transformacao-da-linguagem-pode-possibilitar-agencia-e-reinvencao-a-mulheres-negras/

 

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