Elizabeth Araújo Lima, Editora da Seção de Criação, USP, São Paulo, Brasil.
Gisele Asanuma, integrante da Equipe de Criação da Revista Interface, São Paulo, Brasil.
Renata Monteiro Buelau, integrante da Equipe de Criação da Revista Interface, USP, São Paulo, Brasil.
A complexidade das questões envolvidas no campo da saúde muitas vezes demanda outras formas de expressão. A Revista Interface, periódico do campo da Saúde Coletiva, propõe um diálogo transversal com as artes e, em sua Seção de Criação, abre espaço para experimentações estéticas na relação com o pensamento e o processo escritural no âmbito das publicações acadêmicas.
Por ocasião dos 20 anos da Revista, a Equipe de Criação publicou um texto – A Seção de Criação na revista Interface: vinte anos de experimentação – apresentando seu modo de operar e as fissuras que esta seção instaura num periódico científico indexado ao tensionar as fronteiras dos textos acadêmicos, experimentando linguagens e intercessões que alargam o campo da produção de conhecimento. Retomamos aqui este texto, atualizando a proposta desse espaço, quando caminhamos para 25 anos de experiência.
Fonte: Gisele Asanuma. Rede de palavras publicada no artigo “A Seção de Criação da Revista Interface”.
Abrir espaço para aquilo que não vem pré-formatado e, portanto, não se enquadra nos modelos usualmente previstos para artigos científicos, é assumir uma posição afirmativa diante da inventividade nos processos de pesquisa e validar outras formas de conhecer, o que não significa abrir mão da qualidade e consistência dos trabalhos. A maior liberdade formal dos textos publicados na Seção de Criação não implica menor rigor dessas produções. Ao contrário, há uma complexidade na construção dos trabalhos que requer uma análise cuidadosa e atenta a respeito daquilo que eles apresentam e daquilo que eles podem fazer emergir ao inscreverem-se nessa fronteira entre a produção científica e a produção artística.
A colaboração inestimável dos autores que submetem a esta seção textos inventivos, provocativos, reflexivos, que acionam e justapõem recursos visuais, poéticos, literários, musicais, audiovisuais, etc., permitiu a construção gradativa e contínua de uma definição do que ali se publica, numa delicada tessitura em diálogo com as artes e a cultura em geral.
Assim, foram publicados nesta seção: textos literários, incluindo contos, poesias, dramaturgias; ensaios críticos sobre cinema, artes plásticas e teatro; ensaios fotográficos; desenhos, gravuras e colagens; pinturas em tela e pinturas corporais; costuras e bordados; exposições, mostras e projetos arquitetônicos; registros de expedições urbanas; imagens de espetáculos de dança e performances, entre outros. Essas múltiplas linguagens permitiram tratar de temas variados, da epistemologia às relações entre ciência e arte; da humanização em saúde às relações entre loucura e criação. Apareceram outros olhares sobre a saúde coletiva, sobre a cidade, sobre o cotidiano, sobre os corpos, sobre a comunicação, sobre os processos de formação e educação em saúde e sobre o próprio processo escritural. Belezas provocadoras em pequenos experimentos, que compartilham a força e a alegria presentes no ato de encontrar linguagens para reinventar a arte, as formas de cuidado e o pensamento.
Fonte: Composição de imagens a partir de artigos publicados na Seção de Criação. Criada Eliane Dias de Castro, Eduardo Augusto Alves de Almeida, Gisele Dozono Asanuma, Juliana Araújo Silva, Renata Monteiro Buelau, Elizabeth Maria Freire Araújo Lima, publicada no artigo “A Seção de Criação da Revista Interface”.
Tal proposta tornou públicas ideias ousadas, inquietantes, ensaísticas, que acolhem algo valioso e por vezes esquecido do trabalho de estudo e pesquisa: a experimentação, que opera por desvios, pela errância e pela força criativa que problematiza os modos de fazer e, ao problematizar, desautomatiza o pensamento, ganha corpo e inventa mundos. Essas práticas instauram, muitas vezes, um embate com a normatização acadêmica, explicitando conflitos no âmbito da produção científica e empurrando-a em direção à vida, pois são os conflitos, mais do que os apaziguamentos, que sugerem caminhos alternativos.
Não seria possível mencionar cada um dos textos publicados, mas vemos que nos últimos anos as questões dos diferentes modos de vida, da presença do corpo em experimentações estético-políticas e das lutas das minorias têm se intensificado, o que pouco a pouco vai delineando a seção como uma plataforma de resistência que opera pela sensibilidade e pela sustentação de um espaço de encontro entre diferentes saberes. Assim, fazemos o convite para o leitor acessá-los no site da revista e se contaminar pela força inventiva que deles emana. Força que, em seu caráter ético, estético e político, afirma caminhos de resistência na produção de outros possíveis.
LIMA, E.A., ASANUMA, G. and BUELAU, R.M. A seção de Criação da revista Interface: uma plataforma de resistência que opera pela sensibilidade [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/11/23/a-secao-de-criacao-da-revista-interface/
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