Edson Faria, Professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil.
Andréa Borges Leão, Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil.
Desde o século XIX, estendendo-se pelo atual, o recurso a imagens de favelas e seus/suas moradores/as, mas também àquelas focalizando as agruras dos/as sertanejos/as nordestinos/as, sem esquecer de cenas envolvendo samba, futebol e carnaval, botequins e casas de vilas em subúrbios periféricos, entre outros aspectos, compõe um traço indissociável do panorama da produção literária, artística e mesmo a acadêmica no Brasil.
Sem dúvida, bem mais que um ingrediente, o “popular brasileiro” se constitui tanto em um tópico recorrente quanto em uma reserva semântica de imaginários com notável presença e interferência nos rumos tomados pelo desenvolvimento da esfera cultural laica no país.
Dos musicais carnavalizados que compuseram o repertório das chanchadas produzidos pela Atlântida aos filmes alegóricos de Glauber Rocha, passando por obras premiadas como O Cangaceiro, Rio 40 graus, O Pagador de Promessas e Orfeu do Carnaval, o advento e a consolidação da produção cinematográfica estiveram e permanecem referidos à mesma reserva semântica do popular. Sucessos mais recentes, como Cidade de Deus e Central do Brasil, não somente visitam temas, personagens e cenários intrínsecos aos imaginários sobre as “coisas do povo”; antes, comentam, atualizam e problematizam as designações provenientes de diferentes espaços de produção e mediação culturais.
O artigo The Brazilian Popular in Cinematographic Audiovisual Culture, de Edson Farias e Andréa Borges Leão, justamente, aborda a correlação sócio-histórica estabelecida entre o “popular brasileiro” e a sedimentação do sistema sociotécnico audiovisual, mas à luz da afirmação do filme de longa metragem como um formato expressivo. Com o emprego de um modelo analítico processual histórico, o texto se centra nas décadas de 1950 a 1970, período em que adquirem relevo discussões em torno da viabilidade ou não de uma indústria do cinema no país. Ao mesmo tempo, intensificou-se a oposição entre o reconhecimento do filme como objeto artístico e a produção classificada de entretenimento, porque estaria orientada pela lógica da “indústria cultural”. Sob os rastros desses debates, são examinados os fatores envolvidos na emergência de um cinema autoral, consagrado com o movimento do “Cinema Novo”.
Os objetivos do artigo têm por alvo as relações entre formas artístico-culturais e estruturas sociais. Nesse sentido, a análise das distintas figurações artísticas e institucional-sistêmicas adquiridas pela especificidade formal de organização da materialidade expressiva da cultura audiovisual no Brasil, no período enfocado, tem por fio as problematizações sobre o popular que estão no anverso nas interrelações do sistema audiovisual com os demais sistemas que compõem a esfera cultural no Brasil. Em última instância, a proposta do texto oportunizar a reflexão acerca da interseção desse sistema nos modos de percepção e cognição naturalizados na vida cotidiana, portanto, definindo-se como uma alternativa de designação de sentido calcado no seu código operacional, sintetizando signos óticos, gráficos e orais.
Para ler o artigo, acesse
FARIAS, E. and LEÃO, A.B. The Brazilian Popular in Cinematographic Audiovisual Culture. Sociedade e Estado [online]. 2022, vol. 37, no. 1, pp. 25-51 [viewed 5 May 2022]. https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202237010002. Available from: https://www.scielo.br/j/se/a/TrCXtFmWkLrBJqjkkJXt6ZB/
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Sociedade e Estado – SE: https://www.scielo.br/j/se/
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