Daniel De Lucca, Professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), São Francisco do Conde, BA, Brasil.
O artigo O ensino de história e o livro didático na geopolítica do conhecimento em Timor-Leste (LUCCA, 2022), insere-se neste debate e problematiza o ensino de história, focalizando questões em torno do novo manual didático de história e os dilemas envolvidos na reestruturação do sistema educacional do primeiro país a conquistar a independência no século XXI.
Após apresentar o contexto de elaboração e implementação do livro didático de história do ensino secundário em Timor-Leste, ocorrida entre os anos de 2011 e 2014, com o apoio da cooperação internacional “lusófona”, o artigo examina seu conteúdo, localizando Timor-Leste na estrutura narrativa do material e explorando as perspectivas adotadas sobre os principais sujeitos desta história.
Amparado em pesquisa de campo feita em instituições educacionais da capital do país, entre os anos de 2012 e 2015, o artigo oferece uma etnografia da recepção desses materiais didáticos, de modo a demonstrar como o ensino de história no país também é resultado de uma geopolítica do conhecimento situada em múltiplas escalas, na qual a colonialidade dos agentes externos, que intervém nas agendas educacionais nacionais, tem de negociar com as práticas locais que se apropriam e adulteram as histórias que ali chegam.
Figura 1. Estudantes na Escola 5 de Maio, Bairro de Becora, Díli, Timor-Leste
A pesquisa revela como o conteúdo do livro de história está associado à uma historiografia que tende a ser muito mais crítica à presença holandesa, japonesa e indonésia em Timor que à colonial-portuguesa, cujo longo legado de violência e poder é naturalizado e não questionado na obra. Esta matriz curricular lusocêntrica sugere formas particulares de violência epistêmica e imperialismo intelectual, visto que nega significados importantes atribuídos ao conhecimento histórico em Timor-Leste e impõe ideias metropolitanas sobre o que é história, como ensiná-la e em que língua.
Por outro lado, o estudo etnográfico da recepção dos manuais permitiu complexificar essa geopolítica do conhecimento, visto que na escala cotidiana das práticas de ensino, não há uma simples reprodução do discurso impresso, e o uso e a interpretação do livro também são resultados de outros conhecimentos timorenses, passados e presentes, orais e escritos.
O artigo integra pesquisa mais ampla, concluída e publicada no livro A Timorização do Passado: nação, imaginação e produção da história em Timor-Leste.
Para ler o artigo, acesse
DE LUCCA, D. O ensino de história e o livro didático na geopolítica do conhecimento em Timor-Leste. Educação e Pesquisa [online]. 2022, vol. 48, e238720, ISSN: 1678-4634 [viewed 16 August 2022]. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202248238720. Available from: https://www.scielo.br/j/ep/a/3PzMjxJJtqfrdGdcTYMX9Hp.
Referências
DE LUCCA, D. A Timorização do Passado: nação, imaginação e produção da história em Timor-Leste. Salvador: EDUFBA, 2021.
PELED-ELHANAN, N. Ideologia e propaganda na educação: a Palestina nos livros didáticos israelenses. São Paulo: Boitempo Editorial, 2019.
Links externos
Educação e Pesquisa – EP: https://www.scielo.br/j/ep/
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