Giseli Barreto da Cruz, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
O artigo “Indução docente em revisão: sentidos concorrentes e práticas prevalecentes“, publicado no vol. 52 dos Cadernos de Pesquisa, apresenta uma revisão sistemática de literatura sobre políticas e práticas de indução docente durante o período de inserção de professores na carreira.
A publicação aborda um tema de crescente interesse na literatura: o que acontece com os professores durante o período da inserção profissional quando passam de estudante a professor? Como há registros de poucas iniciativas de programas de apoio ao professor iniciante entre nós, consideramos a produção internacional, tendo como objetivos principais analisar as tendências de indução docente inscritas nessa produção e discutir as relações de correspondência, integração e independência entre mentoria e indução.
O estudo foi realizado entre meados de 2020 e de 2021, período em que nos debruçamos, após refinamento, sobre 21 artigos. Entre as conclusões, depreendemos uma compreensão comum nas pesquisas de que o início da docência é demasiado complexo, sendo cada vez mais necessário reforçar a conexão entre formação inicial, inserção na carreira e desenvolvimento profissional docente.
Realizado em parceria com três autores, orientandos que estão discutindo a temática em suas pesquisas – duas de doutorado e uma em nível de pós-doutorado realizadas no programa de pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro –, o artigo foi produzido a partir de um recorte temporal definido entre os anos 1980 e 2020 para a seleção dos textos.
Consideramos a década inicial como um marco para a emergência do tema no debate sobre formação docente. Sem a pretensão de uma revisão que alcançasse uma multiplicidade de dados, priorizamos duas fontes que trazem uma discussão consistente e reconhecida na área sobre a temática, a saber: as publicações do professor Carlos Marcelo García e seus colaboradores, devido à centralidade da sua obra para a inscrição do tema da indução docente no campo de pesquisas em educação, e a base de dados do periódico Teaching Education, que publica prioritariamente debates sobre a formação de professores.
Pautados na síntese integrativa que compõe o estudo e alinhados a uma concepção de formação docente que não separa a formação inicial da continuada, mas a compreende como um processo de desenvolvimento profissional contínuo, reforçamos e defendemos que a fase de inserção na carreira deve ser olhada de forma mais cuidada por parte das instituições formadoras, das escolas de atuação e pelas políticas e programas de formação de professores. Considerando que esse acompanhamento ao professor iniciante tem sido traduzido como indução docente, entendemos ser necessário inventariar as suas concepções e práticas.
Sentidos de indução como treinamento e capacitação sobrelevam uma concepção de formação docente baseada em saberes técnicos. Embora questionáveis por dicotomizarem teoria e prática, colocam-se fortemente em disputa com perspectivas que consideram mais a socialização dos professores alinhada à cultura escolar e ao seu desenvolvimento profissional cujo investimento formativo auxilia o professor em sua inserção.
O estudo realizado acena para a importância da existência e manutenção de uma política de indução, bem como da avaliação dos objetivos e concepções que balizam a política e a sistematização de programas nas escolas, com vistas a um acompanhamento qualificado dos professores em seus primeiros anos na carreira.
Referências
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Para ler o artigo, acesse
CRUZ, G.B., COSTA, E.C.S., PAIVA, M.M.S. and ABREU, T. B. Indução docente em revisão: Sentidos concorrentes e práticas prevalecentes. Cadernos de Pesquisa [online]. 2022, vol. 52, e09072 [viewed 17 October 2022]. https://doi.org/10.1590/198053149072. Available from: https://www.scielo.br/j/cp/a/4JwtgxNHdScBJmYwR5b7GZg/?lang=pt#.
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