Explicitação de conhecimentos entre pessoas cegas e videntes em atividades experimentais de Química

Deborah Cotta, doutoranda no Programa de Pós-graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGE/FaE/UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil.

Renata Aragão da Silveira, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação Científica e Tecnológica da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGECT/UFSC), Florianópolis, SC, Brasil.

Logo do periódico Ensaio Pesquisa em Educação em CiênciasA Educação Inclusiva segue em pauta em discussões políticas, sociais e acadêmicas. De 2010 a 2019 o número de estudantes público-alvo da Educação Especial aumentou 125% nas escolas regulares brasileiras e diminuiu nas escolas especiais (BRASIL, 2020), indício de importantes conquistas e de novos desafios.

Na área de Ensino de Ciências as possibilidades e potencialidades das atividades experimentais vêm se destacando no âmbito da participação e construção de conhecimentos de estudantes cegos(as) e videntes. Levantando a discussão sobre a importância das interações sociais ao longo de atividades experimentais em aulas de Química, Renata Aragão da Silveira e Fábio Peres Gonçalves escreveram o artigo Potencialidades das interações sociais na explicitação de conhecimentos em atividades experimentais de Química com uma estudante cega, publicado no volume 25 da Revista Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (2023).

Os autores desenvolveram e analisaram três atividades experimentais que envolviam assuntos relacionados à Química em uma turma de oitavo ano do Ensino Fundamental de uma escola pública brasileira. As atividades foram realizadas em pequenos grupos, mas somente o grupo que continha a participação de uma estudante cega e outros três videntes foi analisado.

Os autores reconhecem que existem concepções equivocadas sobre a pessoa cega, que podem influenciar o planejamento e o desenvolvimento de atividades experimentais, a exemplo das compreensões mística e da biológica ingênua. A primeira, por exemplo, atribui inferioridade e forças místicas a esses sujeitos, enquanto a segunda se baseia na ideia da compensação simples e automática de outros sentidos pela ausência da visão.

Assim, apoiados nas compreensões sociopsicológicas sobre a cegueira e inovadoras sobre as atividades experimentais, os autores refletem sobre os procedimentos experimentais, a interação social e o equilíbrio nas participações de pessoas cegas e videntes nas atividades experimentais multissensoriais.

As atividades experimentais propostas e analisadas contemplaram a participação de uma estudante cega e não se restringiram à manipulação de materiais e à exploração de outros sentidos para além da visão, sendo a participação e a interação entre colegas também essenciais para tais atividades. Desse modo, a pesquisa apresentada no artigo analisa aspectos das interações sociais entre videntes e uma pessoa cega a fim de destacar as potencialidades para a aprendizagem de Química. Identificou-se que os dois tipos de interações sociais que aconteceram, colaborativa e tutorial, favoreceram a explicitação de conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais.

Os resultados indicam que as interações sociais colaborativas, caracterizadas pela igualdade de participação entre os integrantes do grupo, contribuíram para a explicitação e reflexão de diferentes conhecimentos, em especial conhecimentos conceituais relacionados aos conteúdos de Química. Nas interações tutoriais, em que um estudante auxilia o outro, os autores identificaram que tanto a estudante cega quanto os estudantes videntes assumiram o papel de tutores e prestaram auxílio quando necessário.

Ambos os tipos de interações sociais contribuíram com a exposição de atitudes e valores, o que permitiu que a apreensão, reflexão e possíveis ressignificações de conceitos, procedimentos e atitudes acontecessem de modo individual ou coletivo. Tais dimensões da interação social, identificadas no contexto desta pesquisa, enriqueceram as possibilidades de aprendizagem conceitual, procedimental e atitudinal da estudante cega e de seus colegas videntes, por meio das atividades experimentais de Química.

O trabalho com a pessoa cega no contexto das aulas de Ciências tem, nesse artigo, apoio para a reflexão, planejamento e desenvolvimento de ações que envolvam todos os estudantes, fomentando a participação e a aprendizagem em equilíbrio entre o individual e o coletivo.

Referências

INEP. Caderno de conceitos e orientações do censo escolar 2020 [online]. Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INEP). 2020 [viewed 31 June 2023]. Available from: https://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/caderno_de_instrucoes/

SILVEIRA, R.A. and GONÇALVES, F.P. As Interações em um Grupo com uma Estudante Cega e Videntes em Atividades Experimentais de Química e Possíveis Relações com as Compreensões Discentes sobre a Cegueira. Acta Scientiae [online]. 2021, vol. 23, no. 5 pp. 37-65 [viewed 31 July 2023]. https://doi.org/10.17648/acta.scientiae.6439. Available from: http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/acta/article/view/6439

Para ler o artigo, acesse

SILVEIRA, R.A. and GONÇALVES, F.P. Potencialidades das interações sociais na explicitação de conhecimentos em atividades experimentais de Química com uma estudante cega. Ens Pesqui Educ Ciênc (Belo Horizonte) [online]. 2023, vol. 25, e42525 [viewed 31 July 2023]. https://doi.org/10.1590/1983-21172022240146. Available from: https://www.scielo.br/j/epec/a/gsV49vGTDDNWxsRkLwz9sMN/

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COTTA, R. and SILVEIRA, R.A. Explicitação de conhecimentos entre pessoas cegas e videntes em atividades experimentais de Química [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/07/31/explicitacao-de-conhecimentos-entre-pessoas-cegas-e-videntes-em-atividades-experimentais-de-quimica/

 

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