O uso da comunicação alternativa para a alfabetização de uma criança com deficiência intelectual

Joseane Ferreira dos Santos, Mestre em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Recife, Pernambuco, Brasil. 

Tícia Cassiany Ferro Cavalcante, Doutora em Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Recife, Pernambuco, Brasil. 

Logo do periódico Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos

A educação de pessoas com deficiência é perpassada por uma forte negação de acesso à escolarização ao longo da história. Em razão disso, quando se fala em educação, especialmente na alfabetização de pessoas com deficiência intelectual, sabe-se que os índices de analfabetismo ainda são altos (Gonçalves; Meletti; Santos, 2015). 

Com a chegada deste público à escola, especialmente em decorrência do movimento de universalização do ensino fundamental brasileiro desde a última década do século XX, é fundamental buscar subsídios para efetivar práticas pedagógicas inclusivas que garantam condições de aprendizagem a todos. 

A pesquisa Mediação pedagógica e deficiência intelectual: um estudo de caso acerca da alfabetização com o uso da comunicação alternativa, publicada no vol. 104 (2023) da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, reflete sobre como mediar ou criar artefatos culturais para o desenvolvimento intelectual do estudante com deficiência intelectual na escola, a partir da Comunicação Alternativa. 

Ancorada na abordagem histórico-cultural, a Comunicação Alternativa tem dentre seus pressupostos a compreensão de que “o desenvolvimento cultural é a principal esfera em que é possível compensar a deficiência. Onde não é possível avançar no desenvolvimento orgânico, abre-se um caminho sem limites para o desenvolvimento cultural” (SANTOS, J.F. and Cavalcante, T.C.F., 2023).

Painel vermelho com um alfabeto, onde, ao lado de cada letra, há uma representação visual de um objeto cujo nome começa com a mesma letra do alfabeto.

Imagem: elaboração das autoras.

O estudo foi realizado em uma escola pública da rede municipal de Recife, Pernambuco, e contou com a participação de uma criança com deficiência intelectual em fase inicial de alfabetização e apropriação da escrita; da professora da sala comum; e do agente de apoio ao desenvolvimento escolar especial. A investigação adotou o estudo de caso com intervenção pedagógica como aporte metodológico. 

Para o planejamento das intervenções, tomaram-se por base os direitos de aprendizagens do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), voltados para o 1º ano do ensino fundamental, mais especificamente o eixo “Análise linguística: sistema de escrita alfabética”. Já as intervenções, propriamente ditas, priorizaram signos selecionados de acordo com os interesses e necessidades do estudante, a partir dos pictogramas do software BoardMaker e de outras figuras. 

Os resultados mostram que o estudante se tornou mais ativo em seu próprio processo de aprendizagem e que a reflexão permanente sobre suas motivações, observadas cuidadosamente pela pesquisadora, se mostrou crucial neste percurso. Especificamente no que diz respeito ao processo de compreensão do Sistema de Escrita Alfabética, destaca-se que, mesmo com dificuldade para escrever, o estudante começou a entender a função das letras. Segundo Ferreiro (2011), entender a funcionalidade da escrita é um dos primeiros princípios que a criança precisa consolidar para que avance no processo de alfabetização.

O estudo traz reflexões e propostas de intervenção que podem se estender a outros contextos de ensino e aprendizagem nos quais haja crianças com deficiência intelectual, visando auxiliá-las em seu processo inicial de alfabetização, desenvolvimento de habilidades de linguagem e aquisição do sistema de escrita alfabética com o uso da Comunicação Alternativa. Nesse sentido, ele traz importantes contribuições para a efetivação da educação inclusiva no sistema educacional, reconhecendo, para além dos objetivos de aprendizagem, os processos envolvidos e seus sujeitos.

Referências

FERREIRO, E. Reflexões sobre alfabetização. 26 ed. São Paulo: Cortez, 2011.

GONÇALVES, T.G.G.L., MELETTI, S.M.F. and SANTOS, N.G. Nível instrucional de pessoas com deficiência no Brasil. Revista Crítica Educativa [online]. 2015, vol. 1, no. 2, pp. 24-39 [viewed 31 October 2023]. https://doi.org/10.22476/revcted.v1i2.37. Available from: https://www.criticaeducativa.ufscar.br/index.php/criticaeducativa/article/view/37/184

Para ler o artigo, acesse

SANTOS, J.F. and CAVALCANTE, T.C.F. Mediação pedagógica e deficiência intelectual: um estudo de caso acerca da alfabetização com o uso da comunicação alternativa. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. [online]. 2023, vol. 104, e5349. [viewed 31 October 2023]. https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.5349. Available from: https://www.scielo.br/j/rbeped/a/9KGNcCSTzMzXkkBL8PFwxHL/  

Links externos

Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos – RBEPED: https://www.scielo.br/rbeped/

Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos: http://rbep.inep.gov.br/

Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos — Instagram: https://www.instagram.com/rbep_inep/

Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos — Twitter: https://twitter.com/rbep_inep

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

SANTOS, J.F. and CAVALCANTE, T.C.F. O uso da comunicação alternativa para a alfabetização de uma criança com deficiência intelectual [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/10/31/o-uso-da-comunicacao-alternativa-para-a-alfabetizacao-de-uma-crianca-com-deficiencia-intelectual/

 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Post Navigation