Camilla Fernandes, Professora do Departamento de Ciências da Administração, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
Mariane Lemos Lourenço, Professora do Departamento de Ciências da Administração, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
Já não é novidade que a inserção de mulheres nas organizações é uma problemática a ser discutida em virtude das adversidades por elas enfrentadas em um contexto – ainda – muito masculino. A política, nesse escopo, é mais um dos cenários organizacionais predominantemente masculinos, não só no Brasil, mas também no mundo. Ainda que existam regulamentos, leis e discussões que visem diminuir essa sub-representação, ela ainda se faz muito presente e, em um país onde a maioria da população votante é composta por mulheres, cabe buscar o entendimento do porquê as mulheres ainda são uma minoria crítica e gritante.
Surgiu então a dúvida: Se o voto é o meio pelo qual as pessoas passam a atuar nesse cenário, o que dificulta o caminho? E por que muitas das mulheres que entram nesse ambiente saem dele tão rápido? A resposta começou a surgir em uma pesquisa de mestrado desenvolvida em pesquisas amparadas pelo grupo de pesquisa Dimensões Humanas nas Organizações, do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Paraná (PPGADM-UFPR), e, posteriormente, transformou-se em uma tese de doutorado que hoje tem aqui um de seus extratos publicados.
Por meio de entrevistas semiestruturadas com mulheres atuantes no contexto político brasileiro, verificou-se que as micro e macroagressões identitárias são um dos fatores que interferem na atuação feminina na política. Surgindo no formato de preconceitos, discriminações e insultos sutis, as microagressões identitárias existiam como uma tentativa de invalidar a formação de uma identidade de mulher na política e, à medida que se tornavam “comuns” à sociedade, atingiam o patamar de macroagressões e tentavam “diminuir” as conquistas e destaque dessas mulheres em seus campos de atuação.
Nota-se que, enquanto a literatura sobre microagressões indica que estas constituem atos predominantemente velados e perpetuados em ambientes nos quais quem as execute se sinta relativamente seguro, no cenário das macroagressões tal preocupação não existe, uma vez que as agressões se dão de forma pública, explícita e podem possuir caráter permanente se registradas na internet.
Assim, com as discussões elencadas por essa pesquisa, espera-se despertar a atenção de mais mulheres e homens à temática, com o intuito de, além de incentivar uma maior participação feminina na política, colocar em discussão alguns pontos negligenciados não apenas pelo governo, mas, também, pelos partidos políticos e a população em geral.
Pesquisas futuras podem ampliar o escopo de atuação de mulheres em organizações predominantemente masculinas e inserir a um debate nacional já existente sobre como aspectos subjetivos podem se entrelaçar a outros elementos organizacionais, como as relações de poder.
Referências
FERNANDES, C. Emoções, identidade & poder : um estudo sobre mulheres em organizações da política brasileira [online]. Acervo Digital da UFPR. 2023 [viewed 07 December 2023]. Available from: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/83160
PINTO, C. R. J. and SILVEIRA, A. Mulheres com carreiras políticas longevas no legislativo brasileiro (1950-2014). Opinião Pública [online]. 2018, vol. 24, no. 1, pp. 178-208 [viewed 07 December 2023]. https://doi.org/10.1590/1807-01912018241178. Available from: https://www.scielo.br/j/op/a/jcvGDq3TtVFBGrStmC3M65L/
SUE, D. W. Microaggressions and marginality: Manifestation, dynamics, and impact. John Wiley & Sons, 2010.
Para ler o artigo, acesse
FERNANDES, C. AND LOURENÇO, M.L. A Woman’s Place is… in Politics: Reflections about Micro and Macroaggressions of Identities. Revista de Administração Contemporânea [online]. 2023, vol. 27, no. 5, e220252 [viewed 07 December 2023]. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2023220252.en . Available from: https://www.scielo.br/j/rac/a/qT6XH3mZJM7kv5s9kS8M4QD/
Links externos
Revista de Administração Contemporânea – SciELO: https://www.scielo.br/rac/
Revista de Administração Contemporânea – Site Institucional: https://rac.anpad.org.br/index.php/rac/index
Artigo no Mendeley Data:https://data.mendeley.com/datasets/pyx62v29h3/1
Camilla Fernandes – Researchgate: https://www.researchgate.net/profile/Camilla-Fernandes-3
Mariane Lemos Lourenço – Researchgate: https://www.researchgate.net/profile/Mariane-Lourenco
Como citar este post [ISO 690/2010]:
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