Como desenvolver capacidade dinâmica para implementar estratégias sociais?

Pablo Leão, professor, Copenhagen Business School, Strategy and Innovation, Copenhagen, Dinamarca. 

Marina Amado Bahia Gama, professora, Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. 

Maria Tereza Leme Fleury, professora, Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. 

Logo da Revista de Administração de Empresas.

O estudo Desenvolvendo capacidade dinâmica em estratégias sociais, publicado na Revista de Administração de Empresas (vol. 63, no. 5, 2023), buscou compreender como as empresas desenvolvem capacidades dinâmicas para a implementação de estratégias sociais. Para isso, analisamos empresas que atuam no setor de papel e celulose, que é parte da chamada “Indústria das Árvores” no Brasil. Este é um setor de uso intenso de recursos naturais que tem adotado diversas práticas relacionadas à sustentabilidade, mas sofre uma pressão adicional devido ao aumento da taxa de incêndios, desmatamento na área amazônica e a resposta insatisfatória do governo federal no combate a essas questões. A questão central desse estudo foi: como as empresas podem desenvolver uma capacidade dinâmica que lhes permita implementar estratégias sociais para responder à pressão local e global de seus stakeholders?

Com base nos conceitos de capacidades dinâmicas (Helfat et al., 2009; Teece, 2007) e estratégias de não mercado (Baron, 2001), o artigo sugere que as empresas desenvolvam capacidades dinâmicas para implementar, na arena política, estratégias sociais que fazem parte do ambiente de não mercado (Baron, 2001, 2016; Dorobantu et al., 2017; Oliver & Holzinger, 2008). 

As estratégias sociais são os recursos e capacidades das empresas, usadas para atender aos seus objetivos de desempenho social e financeiro (Husted et al., 2015). As empresas organizam e orquestram seus recursos (Kurtmollaiev, 2020) para lidar melhor com stakeholders tais como comunidades locais, agências reguladoras governamentais, organizações não governamentais e ativistas. 

Para Oliver e Holzinger (2008), as companhias desenvolvem a capacidade de controlar os processos, recursos e conhecimento da arena social. Já sabemos que a arena política da estratégia de não mercado é dinâmica (Oliver & Holzinger, 2008). No entanto, à medida que as arenas sociais e ambientais se tornam mais complexas e ganham a atenção do mundo, a adaptação e o aprendizado da empresa tornam-se essenciais (Brown, 2016; Mbalyohere & Lawton, 2018). 

Em busca do entendimento desse fenômeno, realizamos um estudo de caso múltiplo, em profundidade, com quatro multinacionais brasileiras. O Brasil é uma grande economia emergente, com um ambiente institucional complexo que dificulta o relacionamento de qualquer empresa com atores institucionais, e representa um caso interessante para o desenvolvimento de estratégias. Além disso, a pressão das organizações sem fins lucrativos e da sociedade civil tornou-se uma tendência global e obrigou os governos a fortalecer suas regulamentações ambientais, o que representa um desafio considerável em economias emergentes e em desenvolvimento. 

As empresas que selecionamos são atores importantes no contexto nacional e global. Além disso, essas empresas possuem vastas extensões de terra no Brasil, o que representa grandes desafios socioambientais para suas operações, respondidos pela adoção de práticas relacionadas à sustentabilidade (por exemplo, Environmental, Social and Governance – ESG, Sustainable Development Goals – SDGs e adesão ao Pacto Global), sendo assim um contexto favorável a identificação de suas capacidades.

A partir dos dados coletados, os resultados sugerem que essas empresas usam uma série de mecanismos para desenvolver capacidades dinâmicas na arena social, como a capacidade de detectar as demandas de diferentes stakeholders nos níveis local e global. Elas também podem aproveitar oportunidades alinhando as respostas a essas demandas aos seus objetivos de negócios. Embora sejam líderes do setor, as empresas podem não ter capacidades específicas para responder às demandas de seus stakeholders. Essa é uma lacuna preenchida ao formarem parceria com outros atores com capacidades complementares. 

Nesse sentido, quanto mais as empresas puderem criar relacionamentos frutíferos com os atores em seu ambiente de negócios, melhor elas poderão perceber e aproveitar as oportunidades. Por fim, essas empresas adaptam, influenciam e reformulam sua proposta de valor para reconfigurar seus negócios. Essas descobertas contribuem para a noção de capacidades dinâmicas na arena social como uma ferramenta para mudar o ambiente à medida que operam em um contexto institucional volátil. Portanto, o presente estudo oferece evidências da capacidade dinâmica na arena social, que se tornou crítica para a legitimidade e a reputação de uma organização. 

No vídeo a seguir, Pablo Leão apresenta os principais pontos da pesquisa.

Referências

BARON, D.P. Private politics, corporate social responsibility, and integrated strategy. Journal of Economics & Management Strategy [online]. 2021, vol. 10, no. 1, pp. 7-45 [viewed 01 February 2024]. https://doi.org/10.1111/j.1430-9134.2001.00007.x. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/j.1430-9134.2001.00007.x 

BARON, D.P. Strategy beyond markets: A step back and a look forward. In FIGUEIREDO, J.M., et al. (Eds.): Advances in strategic management, vol. 34. Bingley, UK: Emerald Group Publishing Limited, 2016, vol. 34 [viewed 01 February 2024]. https://doi.org/10.1108/S0742-3322201634. Available from: https://www.emerald.com/insight/publication/doi/10.1108/S0742-3322201634 

BROWN, R.S. (How do firms compete in the nonmarket? The process of political capability building. Business and Politics [online].  2016, vol. 18, no. 3, pp. 263-295 [viewed 01 February 2024]. https://doi.org/10.1515/bap-2015-0019. Available from: https://www.cambridge.org/core/journals/business-and-politics/article/how-do-firms-compete-in-the-nonmarket-the-process-of-political-capability-building/BBB2B38DD0DC4282206AFB1F7EB02078?utm_campaign=shareaholic&utm_medium=copy_link&utm_source=bookmark 

DOROBANTU, S., KAUL, A. and ZELNER, B. Nonmarket strategy research through the lens of new institutional economics: An integrative review and future directions. Strategic Management Journal [online]. 2017, vol. 38, pp. 114-140 [viewed 01 February 2024]. https://doi.org/10.1002/smj.2590. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/smj.2590 

HELFAT, C.E. and PETERAF, M.A. (2009). Understanding dynamic capabilities: progress along a developmental path. Strategic organization [online]. 2009, vol. 7, no. 1, pp. 91-102 [viewed 01 February 2024]. https://doi.org/10.1177/1476127008100133. Available from: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1476127008100133 

HUSTED, B. W., ALLEN, D.B. and KOCK, N. Value creation through social strategy. Business & Society [online]. 2015, vol. 54, no. 2, pp. 147-186 [viewed 01 February 2024]. https://doi.org/10.1177/0007650312439187. Available from: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0007650312439187 

KURTMOLLAIEV, S. Dynamic capabilities and where to find them. Journal of Management Inquiry [online]. 2020, vol. 29, no. 1, pp. 3-16 [viewed 01 February 2024]. https://doi.org/10.1177/1056492617730126. Available from: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1056492617730126 

MBALYOHERE, C. and LAWTON, T.C. Engaging stakeholders through corporate political activity: Insights from MNE nonmarket strategy in an emerging African market. Journal of International Management [online]. 2018, vol. 24, no. 4, pp. 369-385 [viewed 01 February 2024]. https://doi.org/10.1016/j.intman.2018.04.006. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S107542531730087X?via%3Dihub 

OLIVER, C. and HOLZINGER, I. The effectiveness of strategic political management: A dynamic capabilities framework. Academy of Management Review [online]. 2018, vol. 33, no. 2, pp. 496-520 [viewed 01 February 2024]. https://doi.org/10.5465/AMR.2008.31193538. Available from: https://journals.aom.org/doi/10.5465/amr.2008.31193538 

TEECE, D.J. Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal [online]. 2007, vol. 28, no. 13, pp. 1319-1350 [viewed 01 February 2024]. https://doi.org/10.1002/smj.640. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/smj.640 

Links externos

Revista De Administração De Empresas – SciELO: www.scielo.br/rae

Revista De Administração De Empresas – Site Institucional: https://rae.fgv.br/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

LEÃO, P., GAMA, M.A.B. and FLEURY, M.T.L. Como desenvolver capacidade dinâmica para implementar estratégias sociais? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/02/01/como-desenvolver-capacidade-dinamica-para-implementar-estrategias-sociais/

 

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