Educação para a Sustentabilidade na prática docente em Biologia na região amazônica paraense

Natanael Charles da Silva, doutorando pelo Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PPGECM-UFRN), professor de Biologia pelo Instituto Federal do Pará (IFPA), Campus Abaetetuba, PA, Brasil. 

Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo, doutora em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCar), professora titular pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, RN, Brasil. 

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O papel da educação superior nas discussões sobre sustentabilidade deve ir além da relação ensino-aprendizagem em sala de aula; deve buscar avançar suas ações para o envolvimento em projetos extraclasse com a comunidade acadêmica e o público externo (Marques; Santos; Aragão, 2020).

Com esse aspecto, o processo de formação em âmbito de graduação deve considerar fatores que possibilitem que o indivíduo exerça suas funções profissionais de maneira consciente e ativa. Para tal, a formação docente deve estar imbuída epistemologicamente com reflexões, ações e preparação para a cidadania e para o trabalho (Blaka; Vargas; Marchesan, 2022), considerando que o caminho formativo de professores deve ser direcionado para uma formação pautada na transformação social, além de apresentar novas perspectivas para que se possa enfrentar as demandas do mundo contemporâneo nos aspectos éticos, sociais e políticos. 

Assim, o estudo Educação para a Sustentabilidade na prática docente em cursos de licenciatura em biologia da região amazônica paraense, publicado no periódico Educação e Pesquisa, partiu do questionamento: como professores de cursos de licenciatura em biologia, da região amazônica paraense, abordam os princípios da educação para a sustentabilidade na formação dos profissionais em curso? 

Reforçamos, portanto, que trazer essa reflexão para o bioma amazônico faz-se necessário, na medida em que a palavra Amazônia é uma das mais difundidas, pois remete à floresta na qual está a maior biodiversidade do planeta e, a região amazônica paraense pode ser considerada um símbolo de diversidade cultural. 

O artigo verifica as abordagens e perspectivas teóricas e/ou metodológicas que docentes dos cursos de licenciatura em biologia, da região amazônica paraense, consideram sobre a educação para a sustentabilidade na formação dos discentes. Com a proposta, foi aplicado um questionário, a 30 docentes, composto por 28 perguntas distribuídas em sete categorias que representam os princípios da educação para a sustentabilidade (direito à vida, à educação, à biodiversidade, ao respeito, à cultura, ao meio ambiente e à igualdade).

Mini globo terrestre giratório posicionado no topo de uma colorida pilha de livros, cercada por pequenas escadinhas nas cores vermelho, azul, amarelo e verde, dispostas de forma equidistante, tudo sobre um gramado.

Imagem: Freepik.

O estudo fez uso do software Iramuteq, com a principal responsabilidade de auxiliar na organização e separação de informações. Assim, foram utilizadas a análise de similitude e a análise de especificidades para expressar de maneira clara e objetiva os resultados coletados. Já no caso das questões com opções de respostas em escala do tipo Likert, foi construído um infográfico no software Excel 2012.

Os resultados apontam que as categorias “direito à vida, direito à igualdade e direito ao respeito” foram as que apresentaram valores mais positivos na escala considerada, chegando a atingir 77% de concordância total entre os participantes em algumas perguntas. Isso significa, que os docentes afirmam estimularem e incentivarem, de alguma forma, durante suas aulas, os estudantes em formação a refletirem sobre temas, como: bem-estar, vida em sociedade, saúde, direitos e deveres do cidadão, problemas sociais, fome, pobreza, igualdade de gênero, pluralidade, diversidade e respeito.

Os dados da pesquisa sugerem a disponibilidade de alguns dos docentes em romper com os modelos tradicionais de ensino no nível superior e abrir portas para novas concepções que considerem aspectos inovadores e tradicionais, fornecendo um ensino que dialogue com as atuais agendas mundiais de desenvolvimento sustentável e que, também, aborde aspectos relacionados ao caminho para uma futura comunidade de aprendizagem que fale com todos, incluindo todas as pessoas no processo de aprendizagem ao longo da vida.  

Por outro lado, o estudo mostra que o princípio “direito à cultura” foi o que apresentou valores de maior discordância com relação às afirmativas sobre a prática docente disponibilizadas no questionário. Isso significa que o tema cultura ainda é pouco contextualizado com o processo formativo nos cursos ofertados. 

Além disso, os princípios “direito à educação, direito ao meio ambiente e direito à biodiversidade”, são vistos, por uma considerável parcela dos docentes, com uma certa resistência à inclusão de contextos locais e à diversificação das estratégias metodológicas de aula (Figura 1). Em alguns casos é possível verificar, inclusive, o predomínio de uma abordagem concretizada no conteúdo e até mesmo no direcionamento para uma formação técnica.

Figura 1. Análise de similitude mostrando as relações estabelecidas entre os discursos nas sete categorias consideradas.

Os dados da pesquisa direcionam, portanto, para a necessidade de uma atenta reformulação e atualização da prática docente, no que diz respeito à inclusão das dimensões cultural, social (principalmente em âmbito local) e ambiental (em âmbitos local, regional e global) na formação dos professores de biologia da região amazônica paraense. 

Atrelado às perspectivas que os docentes dos cursos já apresentam, em termos de abordagens teórico-metodológicas, esse fortalecimento e estabelecimento de novas relações poderá agregar valores formativos que farão total diferença na atuação profissional dos discentes em formação.

Referências

BLAKA, R.F.C., VARGAS, L.P. and MARCHESAN, J. Ensino profissionalizante, agenda 2030 e desenvolvimento regional: uma análise do município de Canoinhas-SC. Educação em Revista [online]. 2022, vol. 38, e35647 [viewed 27 March 2024]. https://doi.org/10.1590/0102-469835647. Available from: https://www.scielo.br/j/edur/a/WXWtRRQsy5SvpzFytXwL3HC/ 

MARQUES, J.F.S., SANTOS, Â.V. and ARAGÃO, J.M.C. Planejamento e sustentabilidade em instituições de ensino superior à luz dos objetivos do desenvolvimento sustentável. Reunir: Revista de Administração, Contabilidade e Sustentabilidade [online]. 2020, vol. 10, no. 1, pp. 14-29 [viewed 27 March 2024]. Available from: https://www.reunir.revistas.ufcg.edu.br/index.php/uacc/article/view/1052 

Para ler o artigo, acesse

SILVA, N.C. and ARAÚJO, M.F.F. Educação para a Sustentabilidade na prática docente em cursos de licenciatura em biologia da região amazônica paraense. Educação e pesquisa [online]. 2024, vol. 50, e270602 [viewed 27 March 2024]. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202450270602por. Available from: https://www.scielo.br/j/ep/a/HVmyvTtyQz4N4bpjTjp4qVp/

Links externos

Educação e Pesquisa – EP: https://www.scielo.br/j/ep/

Educação e Pesquisa – Revista da Faculdade de Educação da USP: http://www.educacaoepesquisa.fe.usp.br/

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

SILVA, N.C. and ARAÚJO, M.F.F. Educação para a Sustentabilidade na prática docente em Biologia na região amazônica paraense [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/03/27/educacao-para-a-sustentabilidade-na-pratica-docente-em-biologia/

 

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