Ensino de História não é a centralidade na formação de professores da disciplina na Amazônia

Mauro Cezar Coelho, docente da Faculdade de História e do Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém (PA), Brasil

Italo Luis Souza de Souza, mestrando do Pós-Graduação em História Social da Amazônia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém (PA), Brasil

Logo do periódico Cadernos de Pesquisa.Os cursos de formação de professores têm um sentido fundamental: capacitar profissionais habilitados para as demandas educacionais do país. Partindo dessa premissa, os pesquisadores Mauro Cezar Coelho e Italo Luis Souza de Souza buscaram dimensionar qual espaço o ensino de História ocupa na formação de professores da disciplina em cursos situados na Amazônia brasileira. O resultado dessa pesquisa foi publicado nos Cadernos de Pesquisa, no artigo Topografia da formação de professores de história na Amazônia brasileira (vol. 54, 2024).

A investigação ocorreu a partir da análise de 13 projetos políticos-pedagógicos (PPP) e 183 currículos Lattes de docentes que constituem os colegiados dos cursos estudados. Os resultados obtidos propõem que o ensino de História não ocupa a centralidade da formação de docentes na região, uma vez que a maioria das disciplinas ministradas pelos docentes que compõem os colegiados de cursos não é voltada para esse escopo.

A pesquisa, produzida entre os anos de 2022 e 2023, é produto do projeto “Formação de professores de História: Uma análise dos cursos de licenciatura em universidades públicas (2002-2019)”, financiado pela Universidade Federal do Pará (UFPA). O projeto é coordenado por Mauro Cezar Coelho, professor dessa instituição, e teve Italo Souza, que atualmente é aluno de mestrado do Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia da UFPA, como bolsista de iniciação científica.

A motivação do desenvolvimento desse estudo partiu da inserção dos pesquisadores no campo do Ensino de História e Formação de Professores, e da percepção de ambos sobre a necessidade de aproximar a História das demandas da educação básica e da sociedade brasileira.

Metodologicamente, a pesquisa esteve balizada na investigação de dois tipos de fontes: os PPP dos 13 cursos estudados (documentos que expressam a formação projetada pelos seus autores e autoras – os colegiados dos cursos de formação inicial) e os currículos Lattes dos docentes que compõem os colegiados dos cursos investigados (documentos demarcadores das trajetórias profissionais dos professores e professoras).

Fotografia de uma sala de janelas grandes e com várias mesas e cadeiras.

Imagem: Unsplash

Para substanciar a leitura e investigação das fontes, são acionados dois conceitos: o de currículo, como produto social e historicamente construído, formulado por Ivor Goodson (1995), e o de discurso proposto por Mikhail Bakhtin (1979), que permite reconhecer os documentos em questão como diferentes vozes que dialogam entre si, de forma polifônica.

A pesquisa aponta, inicialmente, a trajetória formativa dos(as) docentes que compõem as faculdades e institutos investigados. As disciplinas ministradas por eles também são trabalhadas nessa pesquisa. Os dados disponibilizados pelos currículos indicam que menos de 10% dessas disciplinas apresentam escopo relacionado às questões do ensino. O artigo situa, portanto, que há uma assimetria na formação encaminhada pelos(as) docentes, segundo a qual o saber de referência ocupa lugar central em sua atuação didático-pedagógica.

Por fim, o trabalho aponta para a ausência de experiência relacionada à educação básica na atuação profissional dos docentes estudados. Dentre os 183 professores, mais da metade não atuou na escola básica. O fato incita a reflexão, pois tais docentes atuam em cursos de licenciatura, nos quais a formação de egressos para atuação na educação básica configura o objetivo central de suas existências.

Não por acaso, a relação dos docentes de cursos de formação inicial com o nível básico de ensino é quesito avaliativo do Instrumento de Avaliação de Cursos de Graduação (IACG), aparato relacionado ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Os índices encontrados no estudo sugerem que é urgente a necessidade de maior diálogo entre as demandas escolares e a formação de professores de História.

Para ler o artigo, acesse

COELHO, C.M. and SOUZA, S.L.I. TOPOGRAFIA DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE HISTÓRIA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA. Cadernos de Pesquisa [online]. 2024, vol. 54, e10634 [viewed 30 January 2025]. https://doi.org/10.1590/1980531410634. Available from: https://www.scielo.br/j/cp/a/MGsWLSQCG9JbMVBSW7gNMDx/?lang=pt

Referências

BAKHTÍN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. Vila Mariana: Hucitec, 1979.

COELHO, M.C. et al. O perfil e o sentido da formação de professores de História: Topografia de componentes curriculares de cursos em universidades públicas brasileiras. In: COELHO, B.N.W. et al. (ed. 1ª) Formação inicial e continuada de professores/as: Diálogos sobre relações étnico-raciais e escola. Bagai, 2018.

GOODSON, I.F. Currículo: Teoria e história. Petrópolis: Vozes, 1995.

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

COELHO, C.M. and SOUZA, S.L.I. Ensino de História não é a centralidade na formação de professores da disciplina na Amazônia [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2025 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2025/01/30/ensino-de-historia-nao-e-centralidade-na-formacao-de-professores-na-amazonia/

 

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