Denilson Junio Marques Soares, Professor EBTT, Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), Ouro Preto, MG, Brasil.
Wagner dos Santos, Professor Associado, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, ES, Brasil.
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), criado em 2007, consolidou-se como referência para a avaliação educacional e formulação de políticas públicas, sendo reconhecido como o parâmetro oficial da qualidade da educação nacional (BRASIL, 2014). No entanto, ele é frequentemente criticado por se concentrar apenas nos resultados finais, desconsiderando o contexto escolar e as condições em que esses resultados são alcançados (MATOS; RODRIGUES, 2016; CROZATTI, 2021; SOARES; ALVES; FONSECA, 2021; SOARES, 2023).
Em meio a essas discussões, o artigo Indicadores de avaliação de contexto e resultados educacionais no Ideb: uma análise das escolas estaduais de ensino médio no Espírito Santo, publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (vol. 105, 2024), investiga como fatores contextuais influenciam o desempenho das escolas e sugere caminhos para uma avaliação mais justa e abrangente.
A pesquisa, de natureza quantitativa e exploratória, utilizou dados de 222 escolas estaduais de ensino médio do Espírito Santo, analisando 13 indicadores contextuais por meio de regressão linear múltipla. O método stepwise selecionou quatro variáveis com impacto significativo no Ideb: a Taxa de Distorção Idade-Série (TDI), o Percentual de Estudantes Brancos (PCB), o Nível Socioeconômico (Inse) e o Indicador de Esforço Docente (IED). O modelo revelou que 50,8% das variações nas notas do Ideb podem ser explicadas pela combinação desses fatores, com destaque para a TDI, que sozinha respondeu por 32,6% da variação.
Esse resultado demonstra que escolas com maior número de alunos em defasagem escolar enfrentam mais dificuldades para alcançar bons resultados. Além disso, o PCB e o Inse mostram que desigualdades raciais e socioeconômicas afetam significativamente o aprendizado, evidenciando que o Ideb, em sua forma atual, não é sensível a essas desigualdades. A sobrecarga de trabalho dos professores, medida pelo IED, também se mostra um fator limitador da qualidade do ensino.
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Imagem: Unsplash
Por outro lado, o estudo destaca que algumas escolas, mesmo inseridas em contextos adversos, conseguem obter bons resultados no indicador nacional. Isso sugere que o diálogo com essas unidades pode inspirar a formulação de estratégias pedagógicas e políticas públicas eficazes para outras escolas em situações semelhantes. Compreender as práticas que permitem superar dificuldades é essencial para promover melhorias na qualidade educacional em todo o sistema de ensino.
Os resultados obtidos sinalizam que uma avaliação justa e abrangente da educação no Brasil precisa ir além da divulgação de resultados finalísticos, incorporando as particularidades do contexto escolar. Cabe destacar que, com o término do prazo estabelecido pelo MEC para o cumprimento das metas do Ideb, o desenvolvimento de um novo indicador para monitorar a qualidade da educação básica já está em pauta no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) (BRASIL, 2020).
Nesse cenário, é fundamental que o debate sobre o futuro da avaliação educacional se volte para propostas que garantam o direito constitucional à educação, com equidade social e respeito à diversidade. A promoção da redução das desigualdades e o reconhecimento das escolas que superam desafios são elementos centrais para um sistema mais justo. Dessa forma, a pesquisa oferece uma contribuição relevante para o debate sobre a reformulação dos parâmetros de avaliação no país, indicando caminhos para um monitoramento mais justo e eficiente da educação básica.
Para ler o artigo, acesse
SOARES, M.J.D. and SANTOS, W. Indicadores de avaliação de contexto e resultados educacionais no Ideb: uma análise das escolas estaduais de ensino médio no Espírito Santo. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos [online]. 2024, vol. 105, e5872 [viewed 19 February 2025]. https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.105.5872. Available from: https://www.scielo.br/j/rbeped/a/J8BpZyQBXbtwvYTL7jZmzwc/
Referências
BRASIL. Lei n.º 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) e dá outras providências. Distrito Federal: Presidência da República, 2014
BRASIL. Portaria n.º 556, de 2 de outubro de 2020. Institui o grupo de trabalho responsável por elaborar estudo técnico para subsidiar a atualização do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Distrito Federal: Presidência da República, 2020
CROZATTI, J. Variáveis que influenciaram o IDEB do ensino fundamental das redes públicas municipais paulistas em 2017. Educação e Pesquisa [online]. 2021, vol. 47, e230327 [viewed 19 February 2025]. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202147230327. Available from: https://www.scielo.br/j/ep/a/GNV793mm3Md7yRGYd995XRx/abstract/
MATOS, S.A.D. and RODRIGUES, C.E. Indicadores educacionais e contexto escolar: uma análise das metas do IDEB. Estudos em Avaliação Educacional [online]. 2016, vol. 27, no. 66, pp. 662-668 [viewed 19 February 2025]. https://doi.org/10.18222/eae.v27i66.4012. Available from: https://publicacoes.fcc.org.br/eae/article/view/4012
SOARES, F.J., ALVES, G.T.M. and FONSECA, A.J. Trajetórias educacionais como evidência da qualidade da educação básica brasileira. Revista Brasileira de Estudos de População [online]. 2021, vol. 38, pp. 1-21 [viewed 19 February 2025]. https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0167. Available from: https://www.scielo.br/j/rbepop/a/9ZRM8LBTqQMHMDQNJDwjQZQ/
SOARES, M.J.D. Política de avaliação do ensino médio: uma análise envoltória de dados (DEA) a partir do IDEB para a identificação de escolas referência no Espírito Santo. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Educação, 2023
Links externos
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