Giselle Alves Martins, professora colaboradora no Laboratório de Epistemologia e Didática da Biologia, Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil
Os impactos da Inteligência Artificial no sistema produtivo, no processo educativo e na sociedade são sentidos no contexto da Educação Profissional e Tecnológica (EPT), uma vez que articula, em uma abordagem crítica e reflexiva, aspectos como trabalho, direitos humanos, pesquisa, autoria e interdisciplinaridade. O artigo Reflexões sobre a Inteligência Artificial à luz dos fundamentos da Educação Profissional e Tecnológica (vol. 41, 2025), publicado pelo periódico Educação em Revista, traz algumas dessas considerações, especialmente em uma interface de práticas pedagógicas com inovação tecnológica e formação humana integral.
Esta pesquisa teórica, desenvolvida por pesquisadores do Campus Sertãozinho do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), apresenta a EPT, modalidade educacional que integra os diferentes níveis de ensino às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia, a descrevendo com suas particularidades na relação entre formação profissional e formação humana omnilateral (Ciavatta, 2008), incluindo seus fundamentos do trabalho como princípio educativo, a pesquisa como princípio pedagógico (Ramos, 2014), a interdisciplinaridade (Frigotto, 2008), a integração entre trabalho, ciência, tecnologia e cultura, e a indissociabilidade entre educação e prática social (Kuenzer, 2007; Saviani, 2007).
Imagem: Gerada pelos autores pela Inteligência Artificial ChatGPT.
Neste contexto, surgem as questões relacionadas à Inteligência Artificial, entendida como campo abrangente na computação, que engloba diversas tecnologias e métodos para desenvolver sistemas inteligentes, inclusive no que tange os impactos da IA no mundo do trabalho (Frigotto, 2012), direitos humanos, igualdade étnico-racial e de gênero, pesquisa, autoria e interdisciplinaridade.
As pesquisas com essas temáticas têm ganhado destaque, uma vez surgem perguntas do tipo: Como formar sujeitos capazes de compreender e agir num mundo cada vez mais automatizado e mediado por algoritmos, garantindo a inclusão dos direitos humanos, evitando preconceitos e incentivando a pesquisa com honestidade, por exemplo? Para isso, estudos como o Atlas da IA, de Kate Crawford (Crawford, 2022), e o Guia para a IA generativa na educação e na pesquisa, publicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco, 2024), se caracterizam como referenciais importantes da presente pesquisa.
Com o objetivo de fornecer subsídios para que os profissionais da EPT possam repensar suas práticas pedagógicas e desenvolver estratégias educacionais que contemplem os desafios e oportunidades trazidos por esta tecnologia, a pesquisa foi desenvolvida pela parceria de quatro pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento: Engenharia Elétrica, Engenharia da Computação, Física e Ciências Biológicas, tendo em comum a atuação no Programa de Mestrado em EPT (ProfEPT), que observaram e sistematizaram a pesquisa a partir de reflexões e práticas pedagógicas, visualizando na prática os desafios e as potencialidades da Inteligência Artificial Generativa.
O caminho para o uso crítico e efetivo das IAs passa pela formação das atuais e futuras gerações e, portanto, pelo processo educativo. Assim, as múltiplas relações da IA com os fundamentos da EPT levantam diversas questões, cujas reflexões são fundamentais para uma análise crítica do processo educativo.
O aprofundamento dessa temática na EPT abre caminhos para diversas pesquisas futuras, como investigações sobre as percepções da comunidade acadêmica acerca do uso da IA nos processos de ensino e de aprendizagem.
Para ler o artigo, acesse
MOSSIN, E.A., et al. Reflexões sobre a Inteligência Artificial à luz dos fundamentos da Educação Profissional e Tecnológica. Educação em Revista [online]. 2025, vol. 41, e53835 [viewed 1 July 2025]. https://doi.org/10.1590/0102-469853835. Available from: https://www.scielo.br/j/edur/a/WrWpmWQby4CcRhJ6DJXzVnr/
Referências
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CRAWFORD, K. Atlas of AI : power, politics, and the planetary costs of artificial intelligence. New Haven: Yale University Press, 2022
FRIGOTTO, G. A interdisciplinaridade como necessidade e como problemas nas ciências sociais. Ideação – Revista do Centro de Educação e Letras da UNIOESTE [online]. 2008, vol. 10, no. 1, pp. 41-61 [viewed 1 July 2025]. Available from: https://e-revista.unioeste.br/index.php/ideacao/article/view/4143/3188
FRIGOTTO, G. Concepções e mudanças no mundo do trabalho e o ensino médio. In: FRIGOTTO, G., CIAVATTA, M. and RAMOS, M. (ed.) Ensino médio integrado: concepções e contradições. São Paulo: Cortez, 2012.
KUENZER, A. Z. Da dualidade assumida à dualidade negada: o discurso da flexibilização justifica a inclusão excludente. Educação e Sociedade [online]. 2007, vol. 28, no. 100, pp. 1153-1178 [viewed 1 July 2025]. https://doi.org/10.1590/S0101-73302007000300024. Available from: https://www.scielo.br/j/es/a/sB3XN4nBLFPRrhZ5QNx4fRr
RAMOS, M. N. História e Política da Educação Profissional. Curitiba: Instituto Federal do Paraná, 2014
SAVIANI, D. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. Revista Brasileira de Educação [online]. 2007, vol. 12, no. 34, pp. 154-180 [viewed 1 July 2025]. https://doi.org/10.1590/S1413-24782007000100012. Available from: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/wBnPGNkvstzMTLYkmXdrkWP/abstract/
UNESCO. Guia para a IA generativa na educação e na pesquisa. França, 2024.
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