Ciência e filosofia como perspectivas complementares sobre o real na visão de Henri Bergson

Thiago Leite, doutor, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP, Brasil

No artigo Mirantes do absoluto: considerações axiológicas sobre ciência e filosofia em Bergson (vol. 48, 2025), publicado pelo periódico Trans/Form/Ação, Thiago Leite examina como o filósofo francês Henri Bergson elabora uma resposta original ao problema clássico da hierarquia entre as formas de conhecimento.

O estudo toma como eixo a segunda introdução à obra La pensée et le mouvant, de 1922, texto em que Bergson, já no final de sua vida, sintetiza os grandes temas de sua filosofia e declara que ciência e metafísica possuem “igual valor” e que entre elas não há “diferença de dignidade”. O valor de cada disciplina não provém de uma escala externa de julgamento, mas do modo como cada uma se insere na experiência concreta do real.

A noção de duração, central ao bergsonismo, torna-se o ponto de partida de uma teoria da valoração ontológica. Ciência e filosofia não apenas se diferenciam quanto aos seus métodos e objetos, mas extraem sua dignidade do contato com a realidade imediata. O artigo argumenta que essa distinção — que é, ao mesmo tempo, epistemológica, ontológica e axiológica — permite pensar uma igualdade de valor entre os saberes, sem recorrer à comparação hierárquica tradicional.

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A partir de uma análise detalhada das críticas bergsonianas à linguagem e ao funcionamento da inteligência discursiva, a pesquisa defende que a ciência não é inferior por sua parcialidade, mas valiosa enquanto expressão legítima da vida. A filosofia, por sua vez, realiza uma operação singular de reversão do movimento do pensamento, que permite acessar o devir por meio de uma experiência intuitiva da duração.

Ambas, portanto, participam de um mesmo esforço de aproximação do absoluto — e é essa participação que fundamenta sua valoração. Thiago Leite propõe chamar essa perspectiva de axiologia bergsoniana, um pensamento do valor imanente ao ser e à atividade do conhecimento.

Em vez de reduzir a crítica à inteligência a um rebaixamento da ciência, Leite mostra que a crítica é, simultaneamente, uma delimitação de seu campo e uma valorização de sua função. O valor não é algo externo ao saber, mas um modo de sua implicação com a vida e com o tempo real.

Ao sublinhar o caráter afirmativo do bergsonismo, o artigo oferece uma alternativa à leitura depreciativa da ciência na tradição metafísica. Através da ideia de mirantes do absoluto — ciência e filosofia como perspectivas complementares sobre o real — Leite reconfigura o modo como podemos pensar a diferença entre os saberes sem recorrer à hierarquia.

O texto oferece, assim, uma importante contribuição à filosofia da ciência, à metafísica contemporânea e aos estudos sobre Bergson, apontando para uma ética do pensamento que se baseia na imanência e na diferença.

Para ler o artigo, acesse

LEITE, T. Mirantes do absoluto: considerações axiológicas sobre ciência e filosofia em Bergson. Trans/Form/Ação [online]. 2025, vol. 48, no. 4, e025091 [viewed 30 July 2025]. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2025.v48.n4.e025091. Available from: https://www.scielo.br/j/trans/a/XJM3w3mFWT9sJQfhHxhrhsb

Referência

BERGSON, H. La pensée et le mouvant. 10º Édition Quadrige. Presses Universitaires de France: Paris, 1998

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Sobre Thiago Leite

Thiago Leite é doutor em filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), com pesquisas dedicadas ao pensamento de Henri Bergson, à metafísica contemporânea, psicanálise, esquizoanálise e à filosofia da diferença.